No acumulado deste ano, o Brasil é o segundo país com melhor retorno entre os principais mercados do mundo
Países sul-americanos possuem em comum grande exposição ao setor de commodities, que segue em alta no mercado internacional devido ao desequilíbrio entre oferta e demanda.(Foto: Envato Elements)
- Segundo analistas, as causas estão relacionadas ao movimento de alta das commodities, setor em que os países emergentes estão mais expostos
- A perspectiva de alta de juros nos EUA também é uma das razões para as boas performances dos mercados emergentes
- No entanto, o cenário apresenta boas oportunidades de investimentos em países desenvolvidos para quem busca bons retornos a longo prazo
O olhar do investidor estrangeiro para o Brasil tem garantido ao mercado acionário doméstico boas performances em comparação a outros países de primeiro mundo. No entanto, não é o único a se destacar. De acordo com um levantamento feito pela Stratton Capital, a pedido do E-Investidor, outros países da América Latina têm ficado no topo do ranking dos mercados acionários com os melhores retornos no acumulado deste ano, enquanto nações como a Rússia, atualmente em guerra com a Ucrânia, amargam perdas que superam o patamar de 78%.
O levantamento analisou a performance dos principais mercados acionários do mundo. Ao olhar os maiores retornos no acumulado deste ano, os países sul-americanos lideraram o ranking. O Peru foi o que apresentou a melhor performance ao registrar ganhos de 22,1%. O Brasil ficou em segundo lugar com 17,2%. Logo depois, aparecem Colômbia e Chile com retornos em dólar de 15,2% e 14,2%, respectivamente.
Segundo Eduardo Carlier, gestor responsável pela estratégia de Renda Variável da AZ Quest, os países sul-americanos possuem em comum grande exposição ao setor de commodities, que segue em alta no mercado internacional devido ao desequilíbrio entre oferta e demanda. “São mercados afastados do centro de conflitos geopolíticos e todos possuem uma certa exposição de commodities. É a característica que está sobressaindo”, avalia Carlier.
Por esse motivo, o fluxo de capital estrangeiro na bolsa brasileira cresceu cerca de 214% de janeiro deste ano até as primeiras semanas de março em comparação ao primeiro trimestre de 2021, segundo dados da B3. Em números, esse capital corresponde, até o momento, a R$ 71 bilhões, enquanto em 2021 foi de R$ 22,6 bilhões.
Marcelo Cabral, gestor de investimentos da Stratton Capital, explica que esse movimento ocorre devido à perspectiva de alta de juros nos Estados Unidos para conter a alta inflação. Nessa expectativa, a busca do investidor em diversificar os seus recursos aumentou. Por isso, os investidores internacionais encontraram no Brasil oportunidades de investimentos em setores mais defensivos e com preços descontados. “O investidor estrangeiro está mais concentrado no sistema financeiro e também no setor de commodities”, explica Cabral.
O resultado desse comportamento pode ser acompanhado no Índice Teva Ações Commodities Brasil, que reúne as principais empresas produtoras e exportadoras de commodities. O ETF registra ganhos de 8% no acumulado deste ano, uma rentabilidade melhor que a da B3 no período, de 6,6%.
Além da maior exposição a setores considerados defensivos, Cabral também cita o tamanho do mercado brasileiro como fator para os ganhos expressivos . “Como o Brasil é um mercado relativamente pequeno em relação ao mundo, qualquer capital que se direciona ao país cria uma demanda muito forte”, acrescenta Cabral.
Confira o desempenho dos principais mercados no acumulado deste ano
Maiores altas | |
País | Retorno em dólar no acumulado deste ano* |
Peru | 22,1% |
Brasil | 17,2% |
Colômbia | 15,2% |
Chile | 14,2% |
África do Sul | 11,1% |
Maiores baixas | |
Rússia | -78,8% |
China | -23,9% |
Alemanha | -15,4% |
Inglaterra | -15,4% |
França | -13,4% |
Fonte: Stratton Capital. *Retorno em dólar entre o período de 01/01/2022 a 14/03/2022 |
Onde investir?
Apesar do cenário positivo para emergentes como o Brasil, os analistas enxergam boas oportunidades de investimentos em grandes potências econômicas, principalmente quando se trata de retornos a longo prazo. Ainda segundo o levantamento da Stratton Capital, a maioria dos mercados que se encontram em baixa em 2022 ofereceram retornos positivos no acumulado dos últimos cinco anos. Os Estados Unidos seguem sendo o principal deles com retornos de 93,7% no longo prazo.
Para Rodrigo Lima, analista da Stake, o momento representa uma série de alternativas de investimentos em companhias de países desenvolvidos que estão entregando bons resultados a preços descontados, devido à alta volatilidade do mercado. “A gente tem grandes nomes do setor de tecnologia e de semicondutores com preços bastante descontados”, ressalta Lima.
Em 4 de março, o E-Investidor mostrou que, com a expectativa de alta de juros nos Estados Unidos, as empresas de tecnologias listadas no mercado acionário norte-americano foram as que mais perderam valores de mercado ao longo deste ano. Meta (FBOK34), Microsoft (MSFT34) e Apple (AAPL34) foram as empresas mais penalizadas de janeiro até os primeiros dias deste mês de março.
Confira o desempenho dos principais mercados nos últimos 5 anos
Maiores altas | |
País | Retorno em dólar no acumulado nos últimos 5 anos |
EUA | 93,7% |
Colômbia | 69,4% |
Canadá | 61,9% |
Suíça | 58,5% |
Índia | 54% |
Maiores baixas | |
Rússia | -63,2% |
Espanha | -3,1% |
Argentina | 0,0% |
Alemanha | 7,5% |
Brasil | 8,2% |
Fonte: Stratton Capital |
Para Gustavo Aranha, sócio e diretor da GeoCapital, a valorização do real frente ao dólar também trouxe vantagens na hora de investir. De acordo com os dados da Economatica, no acumulado deste ano, o preço do “Dólar Ptax”, que representa o preço médio da moeda norte-americana calculada pelo Banco Central, sofreu uma desvalorização de 9,2% no acumulado deste ano.
“Você consegue comprar com os mesmos reais muito mais dos mesmos ativos que você conseguia comprar seis meses atrás”, ressalta Aranha. Nesta perspectiva de oportunidades, as maiores posições no portfólio da GeoCapital estão nas companhias Comcast (CMCS34), Disney (DISB34), Illumina (I1LM34) e Visa (VISA34).
Daniel Rocha, O Estado de São Paulo