quinta-feira, 9 de setembro de 2021

"A alucinação toma de sobressalto a grande mídia", escreve Carlos Sampaio

 

Depois de afirmar durante meses, baseados nas pesquisas Datafolha e similares, que Bolsonaro derrete em popularidade, a “velha mídia brasileira” tomou uma bofetada nas fuças aplicada pelo povo que saiu às ruas em apoio a Bolsonaro.

Como dizia Michel Tyson:

“Todo mundo tem um plano até levar um murro na boca”.

Alucinados partiram para o contra-ataque. Em seus jornais, pela Internet, na TV iniciaram uma ofensiva digna da “operação tempestade no deserto”:

- Primeiro, afirmaram seguidamente que as pessoas que foram às ruas eram apenas uma pequena parte da população brasileira, não representam quase nada, não representam toda população brasileira. Portanto, o Presidente não poderia dizer que as pessoas que estavam ali eram “o meu povo brasileiro”. Não, nunca poderia dizer isso.

- Depois chamaram os especialistas, entre eles ex-ministros do Supremo, autoridades em diversas áreas, doutores, juristas e políticos esquerdistas e todos explicaram porque o Presidente depois das manifestações, estava mais fraco e que neste 7 de setembro foram às ruas todos os que votam no Presidente, nenhum ficou em casa, “nenhunzinho”, o que dá uma média de 12% dos votantes do país, segundo eles.

Assim, o Presidente perdeu votos e está mais fraco, terá centenas de processos e poderá perder o cargo. Antes do dia 7 ele tinha 25% de apoio, logicamente Lula ficava com 75%. Agora Bolsonaro desceu para 12% e Lula, depois que o povo saiu de suas casas para apoiar Bolsonaro subiu para 88%.

E martelaram, durante horas, a cabeça da população, numa espécie de “frenesi alucinado”, explicando as duas teses descritas acima.

A primeira tese pode ser respondida facilmente: só um sujeito que tomou muita cachaça não é capaz de perceber que população brasileira inteira não poderia estar à frente dos palanques que apoiaram Jair Bolsonaro. Afirmar o contrário é muita estupidez. O que nos leva a pensar que os tais “especialistas” ainda acreditam que o povo brasileiro é tolo e pode ser enganado facilmente com firulas linguísticas.

A segunda tese pode ser rebatida com um exemplo recente, bem recente: Lula saiu em campanha pelo Nordeste pedindo apoio do povo, dos Governadores e dos políticos em geral. O “Consorcio de Imprensa”, divulgava noite e dia a passagem de Lula por diversos estados e municípios nordestinos e relembrava fatos, atos e mais fatos de “como esse homem era bom” e lidera em todas as pesquisas as intenções de voto dos brasileiros.

Ora, multidões deveriam ter saído de suas casas para saudar o “líder único em roubalheiras” que retornava triunfante!

Mas... Que decepção! Meia dúzia de gatos-pingados vestidos de vermelho apareciam para apoiar o ex-presidente e ex-presidiário.

Aplicando o mesmo raciocínio dos “especialistas”, todos os fanáticos que saíram de suas casas para receber Lula são os que votam em Lula. Por esse raciocínio e pelo povo que apareceu para recepcioná-lo ele tem perto de 0,001% dos votos da nação.

Então Bonner e sua turma mostraram no Jornal da Globo como eram “organizadas”, “amorosas” e “delicadas” as manifestações dos vermelhos. Eles chegavam alegres, tocando samba, garotas rebolando, além de estarem em um local histórico e pediam em suas faixas, “candidamente”, o afastamento do Presidente, chamando-o de genocida, assassino.

Esses atos, sim, são democráticos! Pedir a morte do Presidente como fazem os jornalistas e repetem os vermelhos, sim, é um ato democrático! Isso não é crime, segundo eles.

Para o “Consórcio de Imprensa”, para os Ministros do Supremo, para “os vermelhos”, para os deputados de esquerda, parece que Bolsonaro não é uma autoridade constituída, pois contra ele tudo pode, tudo é democrático!

A favor de Bolsonaro, qualquer ato é antidemocrático.

Se alguém se manifestar contra o Supremo é antidemocrático.

Contra o “Consórcio de Imprensa, os vermelhos, os políticos de esquerda, qualquer manifestação é perseguição e ato antidemocrático”.

Disse Leandro Narloch, neste 8 de setembro em artigo para a Folha intitulado:

“Abusos e ilegalidades do STF dão força ao bolsonarismo:
O STF proibiu o TCU de examinar denúncias de mordomias concedidas pela Itaipu a... ministros do STF.
Proibiu a investigação contra Dias Toffoli, apesar dos fortes indícios de venda de sentenças do TSE (curioso esse fato não ter gerado um clamor na imprensa equivalente ao caso Temer e JBS).”

O STF enterrou a Lava Jato em Brasília, sendo que ele próprio tinha determinado que o lugar dela era no Paraná.

Alexandre de Moraes assopra a brasa do bolsonarismo quando mantém inquéritos ilegais, bloqueia a conta de organizadores de passeatas, desmonetiza canais de humor que o satirizam no YouTube ou prende deputados baseado em termos controversos como o “mandado de prisão em flagrante”.

A melhor forma de conquistar respeito é fazer por merecê-lo.

Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski não contribuem para a respeitabilidade do STF quando contrariam o que diz com toda a clareza a Constituição.

Foi o caso de voto desses quatro a favor da possibilidade de reeleição de Maia e Alcolumbre.

Ou a decisão de Lewandowski de manter os direitos políticos de Dilma, em 2016.

Quando os ministros se incumbem da tarefa de determinar o que é fake news ou “anticientífico”, sem haver nas leis nacionais um parágrafo dizendo que a sociedade cedeu ao Estado o direito de determinar o que é científico, o STF perde respeito e gera ódio”.

E, ao final, os jornais de ontem mostraram, todos, “um panelaço”, às 8 da noite, contra o discurso do Presidente que já estava em seus aposentos descansando. Como ninguém entendeu nada “os jornalistas vermelhos” (acho que de vergonha) explicaram que tudo foi marcado pela internet.

As imagens mostradas seguiam aquele velho truque: um sujeito bate em panelas, amplifica o som, grava, e aí aperta o play mostrado de sua janela várias outras janelas onde não aparece ninguém fazendo absolutamente nada, nem ele, só o som.

No jornal do SBT, os dois apresentadores também elogiavam e mostravam os “carinhosos vermelhos” dançando e tocando bumbo, mas, ao que parece um “ser superior” não gostou nada do que viu e mandou parar tudo e mostrar o discurso do Presidente na íntegra. Todo o discurso. Sem cortes.

Ao final, os dois apresentadores, desenxabidos, voltaram e disseram: Boa-Noite!

Parece mesmo que o velho Michel Tyson tinha razão:

“Todo mundo tem um plano até levar um murro na boca”.

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Jornal da Cidade