O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, escolhido pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, para ocupar o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo, disse ao Estado que o fato de ser um militar “não é problema” para assumir uma função que tem entre as atribuições a condução do relacionamento do governo federal com o Congresso Nacional e com os partidos políticos. Segundo o general, “não vai haver trombada” com o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-MS), designado articulador político do governo, porque “todos estarão trabalhando pelo Brasil” e “remando na mesma direção”.
Santos Cruz ressaltou ainda que a sua escolha “não é um fortalecimento da área militar” no Palácio do Planalto. “Isso é uma bobagem, ou temos de nominar quantos engenheiros, advogados, gaúchos, cariocas, mineiros têm”, afirmou. O general conversou com Bolsonaro antes de embarcar por uma semana para Bangladesh, onde foi fazer um curso. Segundo ele, a Secretaria de Governo tem o objetivo, entre outras atribuições, de “dar atenção aos parlamentares”. “Os parlamentares são bem preparados e experientes e posso ajudar nesse trabalho de dar atenção a eles. Com certeza não teremos problemas nenhum”, afirmou.
A seguir, leia os principais trechos da entrevista:
Não pode haver dificuldades o senhor, um militar, assumir um cargo de articulação política na Secretaria de Governo?
Fazer a ligação com parlamentares não é problema nenhum. Os parlamentares são bem preparados e experientes e darei atenção a eles da melhor maneira possível. Aliás, esta é uma das atribuições do secretário de governo, mas a secretaria tem outras atribuições. Pretendo dar o máximo de atenção a todos aqueles que forem usar a secretaria para interlocução com o governo.
A sua escolha acaba fortalecendo o núcleo militar no governo e particularmente no Palácio do Planalto. Foi esta a intenção?
Não vejo que a minha designação seja um fortalecimento da área militar. É apenas mais um militar e não que se tenha uma vertente militar. Aliás, não existe área militar no governo. Existem algumas pessoas de origem militar e não há divisões entre civis e militares, mas todos defendendo um projeto de Brasil. Falar em civil e militar é uma bobagem. Senão, teremos de nominar quantos engenheiros, advogados, gaúchos, cariocas, mineiros. Essa comparação é um preconceito com o militar. Não existe um plano de ter uma área militar no governo.
Se o sr. vai ajudar no contato com parlamentares, pode haver conflitos com o ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil?
Não tem atropelo nenhum nessa articulação. Não vai haver trombada. Essa coordenação e distribuição de trabalho vai ser conversada depois. Cada um tem a sua função e todo mundo tem de remar na mesma direção. Portanto, com esse pensamento de trabalhar pelo Brasil, não tem essa expectativa de trombada.
O sr. vai ajudar também na administração de governo, que havia previsão de sair da Casa Civil e ir para o general Mourão (vice-presidente eleito)?
As atribuições da Secretaria de Governo estão bem definidas. E o objetivo é de que todos trabalhem juntos Ainda vamos conversar melhor quando eu voltar para o Brasil. Se vai haver modificação na atribuição (da secretaria de governo) ainda não sei.
O cargo hoje tem status de ministro. Será mantido?
Essa função hoje tem o status de ministro. Se vai ser ou não, isso não é importante para mim. Fui chamado para cooperar e é isso que vou fazer.
Como foi esse convite? O sr. é ligado ao presidente eleito, Jair Bolsonaro?
Foi uma honra ter sido convidado para ocupar a Secretaria de Governo, função onde espero dar o máximo de mim, como sempre fiz. Foi uma escolha pessoal do presidente da República. Eu o conheço desde os tempos de academia. Nossa ligação maior vem da época do pentatlo militar, quando trabalhávamos em equipe e treinávamos juntos, lá pelos anos 79/80.
Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo