quinta-feira, 29 de novembro de 2018

As atrações de Viena, melhor cidade do mundo para viver

Divulgação


VIENA - Outrora lar de Mozart, Beethoven, Klimt e Freud. Sinônimo de música clássica, de museus espetaculares, de palácios magníficos. Terra de intelectuais e arquitetos notáveis. Cenário de obras-primas do cinema, da literatura, da pintura. Lugar para apreciar um bom schnitzel (bife à milanesa) e de festas regadas a cerveja e salsichão. Viena é tudo isso. E muito mais. Hoje, é terra de divas drags da música, do design, da bicicleta elétrica, dos bares animados, do vinho biodinâmico, da gastronomia sofisticada.

Também é a cidade que, pelo nono ano consecutivo, recebe o título de melhor lugar para viver, em pelo menos dois levantamentos, o Global Liveability Index 2018, da revista “The Economist”, e o Quality of Living Ranking, da consultoria Mercer, que atua em 140 países.

Em outubro, o Vienna Tourism Board reuniu 60 jornalistas, de 18 países, para mostrar que a capital austríaca não acolhe bem apenas seus habitantes, mas também os visitantes. 

Não deixa de ser uma forma de lustrar a imagem de um país que tem à frente o primeiro-ministro conservador Sebastian Kurz, dono de um discurso ultranacionalista e contra cotas de imigração estabelecidas pela União Europeia. Mas esta é outra história.

Ao convidar jornalistas do mundo inteiro, a ideia era apresentar uma cidade que preserva sua história e tradição, mas se mantém aberta a novidades. E com a preocupação de conciliar os direitos dos habitantes e os desejos dos forasteiros, evitando levantes contra o turismo observados em outras metrópoles europeias, como Barcelona e Veneza.

— Cidades, por definição, são incontroláveis — diz Norbert Kettner, diretor do setor de turismo de Viena, na abertura do evento para profissionais da mídia. — O importante é manter o equilíbrio entre os interesses da população e os dos turistas.

A apresentação teve ares de espetáculo, com um evento no Teatro Odeon, uma construção de 1880 que quase foi abaixo durante a Segunda Guerra e hoje é palco de espetáculos mais experimentais e alternativos. E para mostrar as diferentes facetas de Viena, foram convocadas quatro personalidades locais: Conchita Wurst, cantora e símbolo da comunidade LGBT; o chef Konstantin Filippou, dono de duas estrelas Michelin; Jasper Sharp, curador e historiador da arte, um dos nomes por trás das exposições e do acervo do Museu de História da Arte (Kunsthistorisches Museum Wien); e Lilli Hollein, diretora e co-fundadora da Semana de Design de Viena. O discurso de todos eles era afinado.

— Viena tem um pouco de tudo. Arquitetura, moda, arte, vida noturna — diz Conchita.

— É uma cidade em que se pode deslocar de trem, barco, bike. Que sempre cuidou de seus cidadãos, com educação, saneamento, habitação, e também sabe receber turistas — elogia Lilli.

— Há muito o que fazer aqui, como conhecer galerias novas, a maioria liderada por mulheres — afirma Jasper.

— É um lugar que estimula a busca por novos sabores — acredita Konstantin.

Nas próximas páginas, um pouco do que a capital austríaca tem a oferecer aos turistas, num roteiro que, longe de esgotar todas as possibilidades, busca mais inspirar a visita à cidade e a descoberta de seus encantos.


Palácios hoje abrigam acervos dos mais diversos


Museu do Globo - Marcelo Balbio

Viena tem mais de cem museus, muitos deles com acervos gigantescos. O que isso significa? Que é impossível conhecer todos numa só viagem. Há que se fazer escolhas. E há instituições para todos os perfis, desde as que guardam parte importante da história e da produção cultural do país até as que são mais, digamos, controvertidas, como um improvável Museu do Preservativo (você será poupado deste). A seguir, algumas sugestões do que encontrar por lá.

Belvedere

É um grande complexo com jardins majestosos e palácios convertidos em museus. O chamado Lower Belvedere (Belvedere Interior), belo palácio barroco, foi inaugurado em 1716, como residência de verão do príncipe Eugênio de Saboia. O Upper Belvedere (Belvedere Superior), construído mais tarde, hoje é a casa de “O beijo”, de Gustav Klimt, obra-prima equivalente em interesse e importância à “Monalisa”, no Louvre, em Paris, ou à “Nefertiti”, no Nueus Museum, em Berlim. Tem mais trabalhos marcantes da carreira de Klimt, além de um impressionante acervo de outros artistas austríacos e estrangeiros. Num anexo chamado Belvedere 21, uma construção moderna bem diferente dos palácios, há exposições de arte contemporânea.

Leopold

Fica no chamado Museumsquartier, uma área de 90 mil metros quadrados na região central da cidade, que abriga dezenas de outras instituições. O Leopold abriga uma impressionante coleção de obras de artistas austríacos, especialmente de Egon Schiele. De 5 de novembro a 5 de dezembro, está fechado para reformas. Retoma as atividades no dia 6 de dezembro, com uma grande retrospectiva de Schiele, que marca os cem anos de sua morte.

Albertina

Tem uma das maiores coleções gráficas do mundo. Para se ter uma ideia, são cerca de 60 mil desenhos e mais de um milhão de gravuras. Um acervo riquíssimo dedicado a pintura, arquitetura, fotografia. Até o dia 6 de janeiro, apresenta uma mostra sobre Claude Monet. Com um perfil mais contemporâneo, a dica é “Warhol to Richter”, exposição com 70 trabalhos de artistas, criados a partir de meados do século XX, como Andy Warhol e Gerhard Richter.

Globo

Os interessados em História, Geografia, Astronomia e Astrologia têm uma grata surpresa em Viena: o Museu do Globo. Em salas lindamente decoradas do Palais Mollard, e com uma cenografia de tirar o chapéu, há cerca de 250 globos, de diferentes épocas, tamanhos e modelos, incluindo, além dos terrestres, celestiais e lunares. Detalhe: é um dos preferidos em Viena do curador e historiador Jasper Sharp, da equipe do Museu de História da Arte de Viena.

Welt

O Weltmuseum é o maior museu antropológico da Áustria, com acervo etnográfico de diferentes épocas, regiões do planeta e culturas. Além de instalado num prédio lindo, chama a atenção pela diversidade da coleção e pela bela forma de exibi-la. Num pedacinho dedicado ao Brasil, trata do ciclo da borracha no início do século XX no Pará.

Sistema de transporte é um aliado do turista

Bicicletas - Marcelo Balbio

Viena tem mais de 1.300 quilômetros de ciclovias, e o esforço para ampliá-las é constante. Nos últimos anos, ações da prefeitura para conter o trânsito de automóveis, estimulando o uso de transporte público e de bicicletas, têm funcionado. Não apenas o morador, mas o turista também se beneficia disso, com diversas opções para se deslocar pela cidade. Por a partir de 17 euros, o visitante pode adquirir o Vienna City Card, que dá acesso a todo o sistema público de transporte, em modalidades de 24 horas, 48 horas e 72 horas, o que significa poder cruzar toda a cidade usando metrô, bondes, trens, ônibus.

Isso é muito útil especialmente no inverno, quando pedalar sob frio rigoroso pode não ser lá uma boa ideia. Com o tempo ensolarado, como fazia nos primeiros dias de outubro passado, optar pela bicicleta é uma agradável forma de explorar a cidade, cruzando desde áreas mais movimentadas, como a Ringstrasse, a avenida mais famosa da cidade e que dá acesso aos seus principais monumentos, até áreas mais tranquilas, como os caminhos do parque Prater.

— Não somos Amsterdã ou Copenhague, mas estamos sempre tentando aumentar nossas ciclovias — conta Joachim Faber, da área de marketing da Vello, empresa que produz bicicletas que são sonho de consumo de muita gente, lançada em 2014 depois de uma bem-sucedida campanha de crowdfunding. — Hoje, a polêmica é em torno do uso de scooters, que estão sendo cada vez mais usadas por aqui. Elas estão sujeitas à mesmas regras de bikes, mas, para muita gente, não podem ser equiparadas a elas, porque atingem velocidade maior.

O apelo ao uso de bike vem de várias partes. Um capacete dourado com logo do Kunsthistorisches Museum virou sensação na cidade, com uma nobre missão: parte da renda arrecadada com sua venda vai para a manutenção do museu.
Compras

Viena tem diversas ruas com alta concentração de lojas, especialmente nas ruas mais próximas ao centro histórico. Boa parte das grifes famosas e internacionais está lá. Mas também é possível ter experiências mais peculiares, como na Supersense, um templo dedicado à vida analógica, onde se pode, entre outras coisas, imprimir uma polaroid em tamanho gigante. Vai que você decide que é hora de não fazer mais selfie...
Acomodações

Também é possível ter experiências diferentes em Viena conforme o hotel de sua escolha. Busca algo mais moderno, com vista ampla da cidade e bar agitado à noite? Tem o SO/Vienna , do Grupo Accor, com projeto do arquiteto francês Jean Nouvel. Busca algo mais intimista? A dica é o Hotel am Brillantengrund, que fica numa construção típica do século XIX e tem administração familiar, com quartos em estilo vintage.


Uma escapada para conhecer a produção de vinho

Fritz Wieninger - Marcelo Balbio

Eles ficam ali pertinho, mas muito turistas nem se dão contam. Os vinhedos de Viena podem oferecer uma visão diferente da cidade. Literalmente. Costumam passar despercebidos, mas podem ser avistados do centro histórico. Basta olhar para as colinas ao norte da cidade, na região de Nussberg, a cerca de meia hora de carro. Uma vez lá no alto, também proporcionam uma paisagem interessante da capital austríaca, pontilhada pelas torres dos monumentos históricos, pelo brilho das janelas dos imensos edifícios modernos, pelas pontes que passam sobre canais do Rio Danúbio.

A produção de vinho em Viena tem história. Uma longa história, que começou com os celtas, séculos e séculos lá atrás. Há registros de que até a área onde hoje fica um dos principais cartões-postais da cidade, a Catedral de São Estevão (em alemão, Domkirche St. Stephan), na Stephansplatz, era tomada de vinhedos. Conta-se que uma safra ruim chegou a ser usada na argamassa da imensa construção gótica.

Hoje, há cerca de 700 hectares de vinhedos nas colinas, de produtores com estrutura enxuta, mas, em alguns casos, grande produção. É o caso da Wieninger, com plantações em Bisamberg e Nussberg. Comandada por Fritz Wieninger, austríaco de 52 anos que há mais de 25 se dedica à viticultura. É capaz de conversar horas sobre sua produção e sua busca por reconhecimento internacional, com rótulos distribuídos para 42 países, incluindo o Brasil:

— Fazemos vinhos orgânicos, mais especificamente biodinâmicos.

É em Nussberg que turistas podem fazer um tour pelos vinhedos, com degustação em áreas criadas especialmente para isso, com espreguiçadeiras voltadas para a cidade, já apelidadas até de Copacagrama, ou em mesas e bancos na área externa. Pode-se chegar ali de carro ou transporte público (basta pegar o bonde da Linha D, no centro, e ir até o ponto final).





Marcelo Balbo, O Globo