quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Não se pode tratar imprensa como inimiga em hipótese nenhuma, diz vice de Bolsonaro

O vice-presidente eleito, general Mourão, criticou a comunicação do novo governo
O vice-presidente eleito, general Mourão, criticou a comunicação do novo governo - Mauro Pimentel - 30.out.2018/AFP

Eleito vice de Jair Bolsonaro (PSL), o general Hamilton Mourão afirma que a comunicação da equipe do futuro do governo é ruim e critica os que tratam a imprensa como inimiga.
"A comunicação nossa é ruim, né? Ruim é até um elogio", disse durante conversa com jornalistas nesta quarta-feira (31) no Clube Militar, no Rio de Janeiro.
Conhecido por dar declarações controversas que deixaram Bolsonaro em saia justa durante a campanha, Mourão se propõe a ajudar para a melhora do cenário.
"Eu vou arrumar alguém que faça uma comunicação decente, nós temos que arrumar alguém. Já falei várias vezes", afirmou.
"Em primeiro lugar: não se pode tratar a imprensa como inimiga em hipótese alguma."
Ele defendeu que o futuro governo encontre uma pessoa capaz de ter empatia, conhecimento e que "saiba transmitir aquilo que o governo quer transmitir".
Ao longo da campanha, as declarações de Mourão levaram o presidente eleito a pedir que ele deixasse de falar. Um dos episódios mais emblemáticos foram as críticas ao 13º salário, ainda antes da disputa do primeiro.
Em evento com empresários no Rio Grande do Sul, o general chamou o benefício de 'jabuticaba'. Além de desmentidos, Bolsonaro acabou anunciando que pagaria 13º para beneficiários do programa Bolsa Família, para compensar a fala desastrosa do vice.
​"Eu dava aquelas minhas opiniões heterodoxas porque eu falo o que eu tenho que falar."
Ao contrário do futuro presidente, que disse que anunciará seus ministros por meio das redes sociais, Mourão diz ser 'analógico'. Ele não tem conta no Twitter, por exemplo, ferramenta usada exaustivamente por Bolsonaro para fazer anúncios, críticas e promessas.
Embora diga que a ideia de enxugar a estrutura da Esplanada dos Ministérios, prometida por aliados de Bolsonaro, não possa ser 'de terra arrasada', Mourão disse que acredita ser possível cortar pela metade o número de cargos aos quais terá direito como vice.
Para ele, o modelo adotado na gestão pública está errado, como o fato de o presidente da República ganhar R$ 27.841,33 mensais, e ter o restante das despesas pagas pelo Estado.
"O salário do presidente, para mim, é uma palhaçada. Quanto ganha o melhor executivo por aí? Ganha R$ 100 mil por mês? O presidente deveria ganhar R$ 100 mil por mês. Agora, banca tudo. O que acontece hoje é que ele não paga nada. Você vai ter que ir no mercado, fazer as compras da sua casa", defendeu.
Mourão nega que militares devam ocupar os comandos das estatais. 
"Não, não não. Tira os militares daí, tira essas castanhas do fogo. Quem vai assumir as estatais, aquelas que ficarem, são quadros técnicos, o pessoal de mercado, gente competente e conhecedora do assunto."
O vice falou ainda sobre a importância da formação dos ministérios, que já está sendo discutida pelo núcleo-duro de Bolsonaro. 
Ele defende que as fusões têm de ser muito bem pensadas para não se tornarem um Frankenstein.
Embora ainda não esteja fechada a estrutura da Esplanada dos Ministérios, o esboço reduz de 29 para pelo menos 15 pastas. A ideia é que não seja excedido um limite de 17 ministérios.
Das mudanças, o futuro governo estuda fazer fusões em pelo menos seis ministérios, entre eles, Economia, Agricultura, Justiça e Educação.
Mourão defende também a escolha de uma mulher para comandar a área social do governo. Segundo ele, o futuro governo estuda unir Desenvolvimento Social com Direitos Humanos.
Ele diz desconhecer a possibilidade de indicação do senador Magno Malta (PR-ES) para comandar a pasta, como vem sendo ventilado nos bastidores. Ele diz que Malta tornou-se um "elefante na sala" depois de ter rejeitado ser vice de Bolsonaro.
Na contramão do que aconteceu com a maioria dos parlamentares que foram às urnas declarando apoio ao capitão reformado, Malta não conseguiu se reeleger.
"Olha, eu não vi nada para o Magno Malta. Eu acho que ainda estão discutindo", afirmou.
"Tem que resolver esse caso. É aquela história, ele desistiu de ser vice do Bolsonaro para dizer que ia ganhar a eleição para senador lá no Espírito Santo. Agora ele é um elefante que está colocado no meio da sala e tem que arrumar, né? É um camelo, e tem que arrumar um deserto para esse camelo."
Mourão defendeu que Ciência e Tecnologia passe a cuidar, também, da parte de ensino superior. Segundo ele, isso aceleraria a produção de pesquisas e de registros de propriedade no Brasil.
"Nós estamos atrasados na produção de conhecimento, estamos atrasados em inovação porque a nossa universidade não está produzindo ou, quando produz, é perdido esse conhecimento."
Segundo ele, a equipe de Bolsonaro ainda não se definiu sobre a cobrança de mensalidades em universidades públicas, tema que já foi sugerido por parte dos seus apoiadores.
"Isso é uma questão que tem que ser debatida com a sociedade. Não pode ser imposta top down."

PREVIDÊNCIA

Mourão defendeu que se discuta a reforma da Previdência ainda este ano, mas reconhece que haverá dificuldade em se aprovar o projeto neste momento.
Ele definiu as mudanças nas regras de aposentadoria como 'necessárias' e usou uma metáfora do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, como exemplo. 
"O Paulo Guedes faz uma imagem que eu considero muito pertinente. Ele diz que nós temos um avião que vai cair no nosso colo. Se a gente passar essa reforma, o avião vai voar mais lá para frente. E ai a gente tem tempo de trocar o motor com ele voando. Essa é a importância dela."
Apesar da defesa, o general diz que os militares não serão incluídos na reforma em um primeiro momento.
"Os militares não estão abrangidos nesta reforma. Eles não estão neste pacote. Esse pacote mantém como está. Não vai mexer nele. A posteriori, é isso que é, vamos ajustar o motor do avião com ele voando."
Talita Fernandes, Folha de São Paulo