Proprietário legal do sítio de Atibaia (SP), que era frequentado pelo ex-presidente Lula, o empresário Fernando Bittar declarou, em depoimento à Justiça Federal nesta segunda (12), que as reformas feitas na propriedade, para ele, estavam sendo pagas pelo petista e sua família —e não por empreiteiras.
"Eu imaginei que eles estavam pagando: a tia Marisa [Letícia, ex-primeira-dama] e o presidente Lula", afirmou.
Lula e outras 12 pessoas, inclusive Bittar, são acusadas de lavagem de dinheiro e corrupção na reforma do sítio, bancada pelas empreiteiras OAS e Odebrecht. Para o Ministério Público Federal, o local pertencia de fato ao ex-presidente —que nega irregularidades.
Amigo da família desde a infância e sócio do filho do ex-presidente na Gamecorp, Bittar afirmou que as duas famílias "eram como se fosse uma só", e disse que deu "carta branca" para que a ex-primeira-dama reformasse o local.
Segundo ele, o sítio foi comprado com recursos próprios, e cedido a Lula para que guardasse o acervo presidencial, a partir de 2011.
"Pelo grau de relacionamento" entre as famílias, Bittar autorizou que fossem feitas reformas no sítio para abrigar o acervo —e, posteriormente, para melhorar as condições do local.
"Eu não precisava de obra. Eles iriam utilizar o sítio. Ou seja, eles que têm que arcar com a despesa dessa obra", disse.
Para ele, as obras foram “superdimensionadas” na denúncia. “São quartos simples, feitos com material de segunda. A adega não é uma adega; é um quarto de empregada. Não foi uma adega de cinema, nada disso; foi um quarto adaptado.”
De acordo com o proprietário, Lula e Marisa visitavam o sítio desde que Bittar o comprou, em 2010, mas passaram a frequentar o local com mais frequência a partir de 2012, quando o ex-presidente foi diagnosticado com câncer.
"Aí, houve uma inversão", declarou o empresário, segundo quem o sítio virou "um tormento" para ele. "Não tinha mais como eu frequentar."
Bittar disse que tentou vender o sítio para o ex-presidente, que queria comprá-lo, e chegou a fazer uma minuta de compra e venda, mas a transação não foi autorizada por seu pai.
Questionado sobre os custos da cozinha, cuja nota fiscal foi emitida em seu nome, no valor de R$ 130 mil, ele disse que alertou a ex-primeira-dama e o engenheiro Paulo Gordilho, da OAS, que trabalhava na reforma, que não poderia arcar com os custos.
“Em todos os momentos, eu fui falar com eles. E, todas as vezes, ela [Marisa] me falou: ‘Deixa que a gente acerta’”, disse. “Na minha cabeça, estava no processo de venda do sítio para eles.”
Também prestaram depoimento nesta segunda o advogado Roberto Teixeira, que supervisionou as negociações de compra e venda do sítio, e o ex-funcionário do Planalto Rogério Pimentel, que era responsável pelo acervo presidencial.
Lula irá depor à juíza Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro, nesta quarta (14).
Em nota, a defesa de Lula afirmou que o depoimento de Bittar “não deixou qualquer dúvida de que ele é o proprietário de fato e de direito do sítio de Atibaia”.
Para o advogado Cristiano Zanin Martins, os depoimentos evidenciaram que Lula não sabia das reformas no sítio e que não existe relação entre as obras e os contratos da OAS e da Odebrecht na Petrobras, “tornando evidente o despropósito da acusação apresentada no processo e seu direcionamento à Lava Jato de Curitiba”.