Segundo os procuradores, o empresário procurou Lula entre setembro e outubro de 2011 e solicitou que o ex-presidente interviesse junto a Obiang, para que o governo daquele país continuasse contratando o Grupo ARG para construção de rodovias.
Os procuradores afirmam que as provas foram colhidas nos emails do Instituto Lula, apreendidos em busca e apreensão realizada no Instituto Lula em março de 2016 na Operação Aletheia, 24ª fase da Operação Lava-Jato de Curitiba, e foram encaminhadas a São Paulo pelo então juiz Sergio Moro.
Num e-mail datado de 5 de outubro de 2011, o ex-ministro do Desenvolvimento do governo Lula, Miguel Jorge, endereçado a Clara Ant, diretora do Instituto Lula, afirma que o ex-presidente havia dito a ele que gostaria de falar com Rodolfo Giannetti Geo sobre o trabalho da empresa na Guiné Equatorial. No mesmo e-mail, Miguel Jorge afirma que a empresa estava disposta a fazer uma contribuição financeira “bastante importante” ao Instituto Lula.
Encontro Agendado
Em maio de 2012, o empresário enviou a Clara Ant uma carta digitalizada de Teodoro Obiang para Lula e pediu que fosse agendado um encontro com o ex-presidente para a entrega da carta original. Ele diz que viajaria para a Guiné Equatorial no dia 20 de maio e que gostaria de levar a resposta de Lula a Obiang.
Na carta, o presidente da Guiné Equatoriana pediu que Lula intercedesse junto a presidente Dilma Rousseff para que o país ingressasse na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
No dia 21 de maio Lula escreveu uma carta para Obiang, mencionando uma conversa entre ambos por telefone, no qual afirma que acreditava que o país poderia ingressar, futuramente, na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A carta foi entregue ao presidente da Guiné Equatorial pelo empresário.
Na carta, Lula cita o empresário e diz que ele dirige a ARG “empresa que já desde 2007 se familiarizou com a Guiné Equatorial, destacando-se na construção de estradas”.
A força-tarefa da Lava-Jato identificou pagamento, via transferência bancária, de R$ 1 milhão pela ARG ao instituto em 18 de junho de 2016. A entidade emitiu recibo da doação.
Os procuradores dizem que "não se trata de doação, mas pagamento de vantagem a Lula em virtude do ex-presidente do Brasil ter influenciado o presidente de outro país no exercício de sua função". Diz ainda que o recibo de doação é ideologicamente falso porque serviu apenas para dissimular a origem de dinheiro ilícita, o que configura crime de lavagem de dinheiro.
A investigação foi transferida a São Paulo pelo juiz Sergio Moro e o inquérito tramita na 2ª Vara Federal de São Paulo, especializada em crimes financeiros e lavagem de dinheiro.
Como Lula tem mais de 70 anos, um suposto crime de tráfico de influência já prescreveu.
A defesa de Lula divulgou nota afirmando que a denúncia "subverte a lei e os fatos para fabricar uma acusação e dar continuidade a uma perseguição política sem precedentes pela via judicial" e é mais um "golpe no Estado de Direito". Afirmou ainda que a doação da empresa ao Instituto Lula foi devidamente contabilizada e declarada e que a acusação é construída "com base na retória, sem apoio em qualquer conduta específica praticada pelo ex-presidente Lula"
A divulgação da denúncia contra o empresário Rodolfo Giannetti Geo foi feita no mesmo dia em que os pais do empresário - Adolfo Geo e Margarida Giannetti Geo - morreram na queda de uma aeronave no Norte de Minas . O jato executivo que levava o casal caiu por volta de 8 horas da manhã em uma fazenda do município de Jequitaí. Morreram também o piloto e o co-piloto da aeronave.