"Diante do fracasso do PT, Minas Gerais decidiu mudar o rumo", editorial de O Globo

Minas Gerais produziu um dos resultados mais surpreendentes na disputa pelos governos estaduais. Um estreante em eleições, Romeu Zema, de 54 anos, se elegeu com o voto de sete em cada dez mineiros, tendo vencido em 832 dos 853 municípios. Em três semanas, entre o primeiro e o segundo turno de votação, ele ampliou sua base de 43% para 71% dos votos válidos.

É uma força eleitoral expressiva para alguém sem prévia experiência nas urnas e que há pouco ingressou no recém-fundado Partido Novo, depois de permanecer 18 anos no Partido da República. A votação atesta que o eleitorado percebeu em Zema, empresário bem-sucedido, uma liderança capaz de conduzir o resgate de Minas da virtual falência.

O desafio não é trivial. O estado saiu da situação de um frágil equilíbrio nas contas, em 2014, para o naufrágio sob Fernando Pimentel, candidato do PT à reeleição. Ele não conseguiu passar do primeiro turno.

Pimentel decretou calamidade financeira em clara manobra para debitar aos adversários do PSDB o custo da crise, na época já agravada pela política recessiva do governo petista de Dilma Rousseff. Passou a administrar Minas alheio à situação emergencial: a principal fonte de renda, o ICMS, já era insuficiente para pagar os quase 400 mil servidores, mas o governador aumentou os custos salariais do estado em cerca de 20%. Com o endividamento extrapolando todos limites, rendeu-se às pressões do Legislativo e Judiciário — este, com 24 mil servidores, proporcionalmente já custa mais do que toda a arrecadação de outra importante fonte de receita, o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).

A consequência foi o colapso dos serviços como os de saúde e segurança. O coma financeiro levou ao parcelamento dos salários, que deve se prolongar até 2020.

Há similaridades com a crise do Rio, gestada em mais de uma década. A diferença está na rápida percepção dos mineiros sobre o fracasso. Ao buscar a reeleição, o governador foi superado até pelo antecessor, Antonio Anastasia, do PSDB, ficando relegado ao terceiro lugar no primeiro turno, reduzido a 23,1% dos votos. Sua candidata a uma das vagas ao Senado, a ex-presidente Dilma Rousseff, acabou em quarto lugar na disputa, limitada a 15,3% dos votos.

Resultou na escolha do empresário Zema para o governo. Foram decisivos seus compromissos sobre a modernização e o enxugamento do estado, com o estímulo da desburocratização à iniciativa privada. Minas foi uma síntese da mudança de rumo.