NOVA YORK
A Apple anunciou seu quarto trimestre consecutivo de receita e lucro recorde, com a combinação entre preços mais altos para o iPhone e forte receita na venda de apps conduzindo a companhia ao melhor ano de sua história.
A receita para os três meses encerrados em 29 de setembro, o quarto trimestre no ano fiscal da Apple, subiu quase 20%, para US$ 62,9 bilhões (R$ 232,5 bilhões), ante o período em 2017, e o lucro registrou alta de 32%, para US$ 14,13 bilhões (R$ 52,5 bilhões) .
Os resultados serviram para reafirmar os dois principais pilares da atual estratégia da Apple: promover seu negócio de software e serviços e elevar o preço de seu principal produto, o iPhone, a fim de compensar o crescimento mais lento no volume de vendas. A ideia é aproveitar a lealdade dos consumidores que usam o iPhone para tudo, de compras e comunicações a assistir vídeos e ler notícias.
Ainda que o número de iPhones vendidos em todo o mundo tenha crescido menos de 1% nos últimos 12 meses, para quase 218 milhões de unidades, os preços mais altos ajudaram a companhia mais valiosa do planeta a produzir receita recorde de US$ 256,6 bilhões no ano fiscal, 14% acima da obtida em seu ano fiscal recorde anterior, 2015.
As projeções da Apple para o trimestre atual devem decepcionar alguns investidores, porém. A empresa informou que antecipa que a receita do período - tradicionalmente o mais forte do ano para ela - fique entre os US$ 89 bilhões e US$ 93 bilhões. O consenso entre os analistas é de uma receita próxima do extremo mais alto dessa projeção, com base nas esperanças por uma forte demanda para o iPhone XR, de US$ 749; iPhone XS, de US$ 999; e iPhone XS Max, de US$ 1.099, revelados pela companhia em setembro. A receita da companhia no quarto trimestre do ano passado ficou em US$ 88,3 bilhões.
Luca Maestri, o vice-presidente financeiro da Apple, disse que as projeções refletem o fato de que a Apple lançou seus iPhones mais caros em setembro deste ano, enquanto no ano passado o seu modelo mais caro, o iPhone X, chegou às lojas em novembro. Além disso, a economia de países em desenvolvimento como a Turquia e o Brasil perdeu força, e moedas estrangeiras enfraqueceram diante do dólar.
Ainda assim, mesmo que a receita fique perto da ponta mais baixa da projeção, representaria mais um recorde, disse Maestri.
"Vamos começar nosso novo ano [fiscal] com muita confiança e a linha de produtos mais forte que já tivemos", ele disse, mencionando os novos iPads, MacBooks e iPhones lançados nos dois últimos meses.
As ações da Apple caíram em US$ 3,7%, para US$ 214, em operações posteriores ao fechamento dos mercados.
Os resultados trimestrais da empresa surgiram em meio a tumultos nos mercados de ações para as empresas de tecnologia, agravados pelos indicadores contraditórios nos anúncios de resultados de outros gigantes da tecnologia nas duas últimas semanas.
As ações de tecnologia estão em queda, diante da inquietação dos investidores com suas cotações estratosféricas, além da desaceleração no crescimento de receita e da alta nos custos de algumas companhias, e das controvérsias quanto ao poder e responsabilidade de algumas plataformas de internet, como o Facebook e o Google.
A Apple, que em agosto se tornou a primeira empresa americana a ultrapassar o valor de mercado de US$ 1 trilhão, se saiu melhor do que os demais gigantes da tecnologia, na oscilação recente. Suas ações fecharam em US$ 222,22 na quinta-feira, antes do anúncio de resultados, com queda de menos de 5% ante seu pico histórico no começo de outubro.
A Apple continua a ser "uma das empresas de tecnologia mais bem posicionadas para o longo prazo", disse Greg Hersch, fundador da Florence Capital Advisors, fundo de investimento sediado em Nova York que tem mais de US$ 400 milhões sob administração, com forte presença da Apple em sua carteira. Ele apontou para as imensas reservas de caixa da empresa, dizendo que "isso lhes dá uma nova alavanca a usar caso a inovação não esteja atendendo às expectativas dos consumidores".
No ano passado, a Apple aumentou o preço inicial de seu principal modelo de iPhone em quase 50%, para perto de US$ 1 mil. No seu trimestre mais recente, a receita com o aparelho, que responde pela maior parte da receita e lucro da companhia, subiu em 29%, para US$ 37,185 bilhões, apesar da estagnação no volume de vendas.
A receita das operações de serviços - incluindo as vendas da loja de apps, o uso da Apple Play e assinaturas de streaming de música - atingiu o recorde de US$ 9,98 bilhões, 17% a mais que no ano anterior. É um crescimento mais lento que o de trimestres recentes mas mantém a Apple no caminho para cumprir a promessa do presidente-executivo Tim Cook, de que o segmento de serviços representaria US$ 50 bilhões em receita em 2020.
As operações chinesas da Apple, que estão se acelerando há alguns trimestres, continuaram a melhorar apesar do enfraquecimento da economia da China. As vendas da região chinesa, que inclui também Hong Kong e Taiwan, subiram em 16%, para US$ 11,41 bilhões no período.
A fabricante do iPhone conseguiu evitar que seus aparelhos fossem incluídos na mais recente rodada de tarifas do governo Trump, que impôs uma tarifa de 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses importados. Essas tarifas devem subir para 25% no começo do ano que vem, e o presidente Donald Trump declarou que elas incidirão sobre todos os produtos chineses, no futuro, o que incluiria iPhones, relógios inteligentes e outros aparelhos. Isso aumentaria o risco de uma retaliação chinesa que envolveria punição aos negócios da Apple no país, disseram especialistas em comércio.
Maestri disse que a Apple está acompanhando de perto as questões comerciais com a China, mas acrescentou que "o interesse pelos nossos produtos vem sendo muito bom".
Quanto ao futuro, a Apple começou a estender os aumentos de preços iniciados pelo iPhone a outras linhas de produtos. Desde setembro, ela aumentou em mais de 20% os preços das novas versões de seu relógio, dos computadores Mac e do tablet iPad.
"A questão em aberto é qual é o poder da Apple para ditar preços", disse Sean Stannard-Stockton, presidente da Ensemble Capital Management, uma administradora de fundos de Burlingame, Califórnia, que tem a Apple entre as 25 companhias nas quais investe os US$ 800 milhões que administra. "Talvez seu poder de ditar preços seja ainda maior do que imaginamos no mercado".
Tripp Mickle, The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci