segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Brasil é prisioneiro da armadilha social-democrata do baixo crescimento, diz Guedes

As luzes estavam apagadas quando o economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia, entrou no grande salão do centro de eventos do WTC para falar no 4º Congresso Nacional do MBL(Movimento Brasil Livre), na noite de sábado (24). Exibia-se um vídeo com momentos apoteóticos do grupo no impeachment.
Ainda assim, a plateia se desconcentrou. Das cadeiras, do chão, em pé, de onde fosse possível se espremer, todas as as atenções se voltaram para Guedes.
"Ai, ai, ai, privatiza a Petrobras" repetia a plateia quando Guedes pegou o microfone e iniciou a sua fala —uma espécie de aula sobre a história econômica brasileira com pitadas de biologia.
Com os fortes investimentos em infraestrutura feitos nos anos de regime militar, disse ele, o Brasil se torna a economia que mais cresce no mundo, "em torno de 7,3% nos primeiros três quartos do século passado."
"Já no fim do regime militar, porém, a economia dá os primeiros sinais de desaceleração, com alta da inflação."
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Paulo Guedes, à esq., anuncia o economista Carlos da Costa 
como secretário do futuro governo Bolsonaro durante congresso
do MBL em São Paulo - Alexa Salomão/Folhapress
Vem a redemocratização e, segundo o economista, é natural que a esquerda se fortaleça em reação a um regime político que era de direita.
Numa democracia emergente, afirmou, também é natural que a esquerda comece a "esticar o cobertor em direção às áreas sociais —saúde, educação e saneamento."
O PMDB foi a primeira versão dessa esquerda, disse Guedes. O partido, porém, não consegue transformar o "estado dirigista" e o gasto público sai do controle.
Os preços sobem e surge o fenômeno da hiperinflação, com a correção diária também dos investimentos.
"O Brasil se torna prisioneiro dessa armadilha social-democrata do baixo crescimento", disse, um "inferno para os empreendedores e o paraíso dos rentistas."
Guedes fez um paralelo com a rotina de formigas vermelhas que vivem na selva.
Segundo ele, um grupo de formigas marcha em direção ao alimento enquanto o outro retorna à colônia.
Até que, para desviar de um obstáculo, o grupo que está voltando engata no que faz o caminho de ida, girando em círculos na selva até morrer.
"As formigas da bunda grande e vermelha parecem o social-democrata no Brasil. Eles vão um atrás do outro e começam a girar. As formigas morrem, as nações se perdem por décadas", concluiu em meio aplausos entusiasmados da plateia.
Segundo ele, costela do PMDB, o PSDB deixou o partido em nome da ética.
Também em nome da ética, o PT venceu o PSDB por quatro eleições seguidas, sendo substituído pelo PMDB.
"É o círculo que descrevi. Foi esse modelo dirigista que acabou corrompendo a política e derrubando a economia, e nós nos perdemos."
O governo de Jair Bolsonaro seria, assim, uma virada histórica inevitável.
"O Brasil era um saci-pererê que só pulava com a perninha esquerda. Você só podia votar no social-democrata; o social-democrata tucano, o do chão de fábrica petista, o populista", afirmou.
"Aí surge alguém que não é de esquerda e vira aquela comoção: 'olha, ele fala feio'. O presidente tem bons princípios. Qual o problema de ele não se expressar sempre de forma politicamente correta? Tem gente que se expressa assim e está com a mão no cofre", disse entre aplausos e gritos apaixonados.
Guedes frisou a necessidade de conter a escalada do gasto público, afirmando que o modelo como um todo abre espaço para corrupção. "Dirigismo econômico corrompe. A União Soviética é o exemplo mais antigo, mas não precisamos ir longe. A Venezuela está bem aqui do lado", disse.
Guedes detalhou que os gastos, no início do governo militar, equivaliam a 18% do PIB (Produto Interno Bruto), alcançou cerca de 24% ao final. Com os civis, foi a 30% com José Sarney; 35% com Fernando Henrique Cardoso; 36% com Lula. Chegou a 45% do PIB com Dilma Rousseff. "O governo virou uma gigantesca folha de pagamento."
O economista defendeu o equilíbrio dos gastos totais, mas disse querer um Estado "eficiente e fraterno".
E afirmou estar "implícito é uma reforma na politica: "Acabou o toma-lá-dá-cá".
Mas contemporizou. Apesar dessas paixões, disse ele, "estamos seguindo uma democracia virtuosa." "A grande verdade é que se não existisse o Corinthians, não existiria o São Paulo, então nós precisamos do outro lado.

Alexa Salomão e Flavia Lima, Folha de São Paulo