sexta-feira, 9 de novembro de 2018

"A expulsão petista", por Carlos José Marques

O fenômeno era absolutamente previsível: o Partido dos Trabalhadores está sendo alijado do comando da oposição. 
Colocado de lado, evitado como se representasse um verdadeiro cancro da política. 
E não poderia ser diferente. 
Ainda que tardiamente, a esquerda começou a perceber o óbvio: relativizar a ética em prol da ideologia custou o apoio dos eleitores nas urnas. 
O brasileiro não está disposto a dar cheque em branco e conceder alforria a quem se lambuza na corrupção. 
Por isso mesmo o PT vem sendo banido do paraíso político. 
Deve espiar seus pecados e culpas antes de alcançar a graça do perdão popular. 
Não fez isso e segue no purgatório. 
O hegemonismo que a agremiação de Lula queria impor às demais siglas está indo pelo ralo depois da acachapante derrota eleitoral. 
O velho caudilhismo populista do lulopestimo parece perto do fim, com os dias contados, sem suporte nas bancadas parlamentares além de sua própria. 
E a esquerda trata de reorganizar um bloco independente, em outras bases e sob nova direção. 
O pedetista Ciro Gomes, do alto de quase 13 milhões de votos que o credenciaram ao posto, lidera o movimento de retomada da resistência. 
De uma maneira, como ele diz, mais responsável e pragmática, dentro de um formato construtivo para o País. 
Ciro quer gerar um campo de atuação diferente no qual não seja necessário tapar o nariz à ladroeira, à falta de escrúpulos, ao oportunismo e aos desvios de aliados para realizar oposição. 
O conceito é o da vigilância às práticas e projetos do Executivo, reagindo com responsabilidade quando necessário. 
Nada de sabotagem pura e simplesmente. 
Discurso afinado, cabe adotá-lo na prática.
Não se pode negar que a quarentena imposta à esquadra petista na articulação do bloco que fará frente ao governo Bolsonaro é justificada, ao menos em parte, pela conduta autoritária e sempre individualista demonstrada por seus líderes. 
O PT atuou com soberba, achando que os parceiros eram bons apenas quando o apoiavam cegamente. 
Da mesma maneira, vigorava o entendimento de que os únicos projetos dignos de aprovação saiam de sua lavra. Sem concessões ou abertura a sugestões dos demais. 
A legenda jamais fez autocrítica e agora, como diz Ciro Gomes, aliados de outrora apontam o dedo inquisidor para mostrar em praça pública que o PT não é o centro do mundo, nem o centro da política brasileira. 
Não merece a convivência democrática e colaborativa com os demais. 
Do alto de sua prepotência está sendo punido. 
Além do PDT, PCdoB e PSB costuram juntos uma aliança restauradora da relevância de forças que tiveram razoável vitória nas urnas. 
São partidos que querem se livrar da imagem de linha auxiliar dos petistas, abolir a pecha de meros “puxadinhos” manipulados pela egolatria do presidiário Lula. 
O PT, por sua vez, segue na tática da pregação do “quanto pior, melhor”. 
O plano é atravancar os trabalhos do Legislativo.
Obstruir pautas e jogar com o apoio, e os protestos, de movimentos sociais para atrasar votações. Na prática, como rotineiramente vem fazendo, o Partido dos Trabalhadores conspira contra o País. 
Um contrassenso. 
Na linha de oposição sem critério a sigla chegou a barrar, nos últimos dias, medidas provisórias editadas por seus próprios quadros. 
Representantes parlamentares seguraram por seis horas, por exemplo, a aprovação de um projeto enviado a plenário por Dilma Rousseff, que autorizava a União a reincorporar trechos da malha rodoviária federal transferidos aos Estados. 
Da mesma maneira, eles protelaram o quanto puderam a alteração da meta fiscal sugerida pela ex-presidente. 
Restaria a pergunta: qual o sentido de uma atuação assim? 
Simples: bagunçar o ritmo do Congresso para evidenciar que Brasília não anda sem a sua turma. 
Já foi montado até uma espécie de “kit obstrução”, amparado pelo regimento da Casa, com manobras para adiar indefinidamente alguns temas de vital importância, como o da Previdência. 
Deputados adeptos da ideia da catimba, defendida com entusiasmo pela agremiação, devem, por exemplo, deixar de registrar presença, evitando assim o quórum mínimo necessário para o início das sessões. 
Outra artimanha cogitada é a da apresentação de sucessivos requerimentos a serem analisados antes de se avaliar o mérito. 
Subterfúgios baixos, rasteiras covardes, que agridem fundamentalmente o cidadão. 
Não por menos os postulantes dessa nau de insensatos mereceu o desprezo da maioria e devem mergulhar no ostracismo por um bom tempo.
IstoE