terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Acordo da Andrade deve prejudicar concorrente Odebrecht

Mário Cesar Carvalho - Folha de São Paulo


A Odebrecht será a empresa mais prejudicada pela decisão da Andrade Gutierrez de fazer acordos com os procuradores da Operação Lava Jato para obter uma punição menor para a empresa e seus executivos, de acordo com investigadores que atuam nas negociações.

A razão é que elas são parceiras em algumas das maiores obras investigadas na Lava Jato e fora da operação, como o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), a usinas Angra 3 e Belo Monte e a reforma do estádio do Maracanã. Em todas elas há indícios ou confissão de pagamento de suborno.

Folha revelou na última sexta (27) que a Andrade e os procuradores haviam chegado a um acordo, segundo o qual a empresa aceitou pagar uma multa de R$ 1 bilhão, a maior da Lava Jato, e revelar crimes em obras da Petrobras e em outros setores públicos.

Foram acertados dois acordos, um de leniência, no qual a empresa contará os crimes dos quais participou em troca de uma punição menor, e outro de delação premiada.

A delação será feita por três executivos da Andrade que estão presos (Otávio Azevedo, Elton Negrão e Flávio Barra), também em troca de penas menores.

A Odebrecht é a maior empreiteira do país, e a Andrade Gutierrez, a segunda.

A Andrade vai revelar detalhes sobre como ela dividiu obras com a Odebrecht, o que pode caracterizar o crime de cartel, e como o pagamento de propina era repartido pelas empreiteiras em grandes contratos.

No caso do Comperj, Andrade e Odebrecht foram contratadas junto com a Queiroz Galvão para fazer a terraplenagem, uma obra cujo valor final chegou a R$ 1,2 bilhão.

O TCU (Tribunal de Contas da União) determinou em maio deste ano, em decisão unânime, que houve um superfaturamento de R$ 76,5 milhões. A corte mandou a Petrobras cobrar esse montante do consórcio, executando as garantias oferecidas pelas empreiteiras.

Na reforma do Maracanã para a Copa de 2014, foi o TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio que apurou sobrepreço de R$ 76 milhões na obra de Andrade e Odebrecht.