Rennan Setti - O Globo, com Agências
Ibovespa encerra em baixa de 1,46%, aos 50.144 pontos
As ações da Petrobras interromperam sequência de três altas e caíram mais de 6% nesta sexta-feira na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), no primeiro pregão depois que a agência de classificação de risco Moody’s comunicou que está revisando sua nota para, possivelmente, rebaixá-la.
Com a queda intensa, o papel ordinário (ON, com direito a voto) voltou a valer menos de R$ 10. Puxado pela estatal, o índice de referência da Bolsa brasileira, o Ibovespa, fechou em baixa de 1,46%, aos 50.144 pontos. Com os investidores em clima de feriadão, o volume financeiro foi de R$ 2,1 bilhões na Bolsa, contra média de R$ 6,85 bilhões em novembro.
Os papéis da companhia encerraram com baixa de 6,19% (ordinários, com direito a voto, cotados a R$ 9,85) e 6,11% (preferenciais, sem voto; R$ 10,30).
— O possível rebaixamento é algo que preocupa muito porque aquele que a S&P fez há algumas semanas foi limitado, não afetou o rating global da companhia. Se a Moody’s tomar essa atitude, será encarado pelo mercado como um evento muito negativo para companhia — disse João Pedro Brugger, da Leme Investimento.
Não ajudou a companhia a desvalorização do petróleo no mercado internacional. O contrato futuro do barril do tipo Brent, para entrega em fevereiro de 2015, registrava queda 1,44% às 17h49m, cotado a US$ 59,40.
Segundo Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença, as ações da companhia devolvem a alta “artificial” que registrou nos últimos dias:
— A Petrobras subiu sem nenhum motivo aparente esta semana, um momento de pouca liquidez no mercado que acabou sendo propício para esses movimentos. A verdade é que o cenário continua muito negativo para a empresa e nada mudou. Tudo está pesando: a possibilidade de rebaixamento pela Moody’s, os processos que a companhia enfrenta etc.
Além da ameaça de rebaixamento da Moody’s, Rogério Freitas, sócio na Teórica Investimentos, menciona um fator político por trás da desvalorização da companhia na Bolsa.
— O governo não tomou a decisão que o mercado espera, que é a mudança na diretoria da empresa. O governo não fez nada até agora. O acúmulo de problemas que pesam sobre a direção da empresa, como o processo que a cidade americana moveu contra membros da estatal nos EUA, pode comprometer a produtividade da gestão, e é isso que os investidores temem — afirmou.
Além de Petrobras, outra “blue chip” (empresa com alta representatividade na Bolsa), a Vale, caiu com força. As ações da mineradora recuram 2,43% (ON) e 1,49% (PN). Segundo Monteiro, a companhia continua pressionada pela cotação do minério de ferro, seu principal produto.
Os contratos futuros do minério de ferro e dos vergalhões de aço na China caíram nesta sexta-feira, com os preços das mercadorias no caminho certo para um declínio de mais de 3% nesta semana, por preocupações com a demanda frágil, o excesso de oferta e as condições de crédito apertadas pressionando as cotações. O futuros para entrega em maio na bolsa de Dalian caíram 0,42%, para 474 iuanes (US$ 76) a tonelada nesta sexta-feira, enquanto o vencimento maio do vergalhão na bolsa de Xangai recuou 0,16%, a 2.480 iuanes por tonelada.
Entre os bancos, o estatal Banco do Brasil avançou 0,29%, mas o Bradesco caiu 2,12%. O Itaú Unibanco teve recuo de 1,42%, enquanto o Santander subiu 1,97%.
O dólar comercial recuou 0,34%, cotado a R$ 2,671 para compra e a R$ 2,673 para venda. A moeda está se desvalorizando em escala global devido as declarações de membros do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) que sugerem que os americanos talvez só elevem os juros em 2016.
MOODY’S TEME ANTECIPAÇÃO DE PAGAMENTOS
Na última terça-feira, a Moody's informou que está revisando as notas de crédito da Petrobras para possível rebaixamento. Por causa do feriado de Natal, não houve pregão desde então. A agência disse temer que a Petrobras seja forçada por credores a antecipar pagamentos por não ter divulgado balanço financeiro auditado. A nota da petroleira na escala da Moody’s é “Baa2”, já resultado de rebaixamento realizado em outubro. Naquela ocasião, o motivo foi seu alto endividamento. Caso sua nota piore novamente em um nível, a empresa terá rating “Baa3”, apenas um degrau acima da classificação de “grau de investimento” — espécie de selo de boa pagadora.
Na véspera de Natal, a cidade americana de Providence, capital de Rhode Island, entrou com uma ação coletiva nos EUA contra Petrobras, duas de suas subsidiárias internacionais e contra membros de sua diretoria, incluindo a presidente Graça Foster.
AÇÕES EM ALTA NO EXTERIOR
Em Wall Street, as ações operam em alta moderada. O índice Dow Jones sobe 0,23%, e o S&P 500 registra valorização de 0,36%. A Bolsa Nasdaq sobe 0,59%.
As ações asiáticas fecharam em alta nesta sexta-feira, com a bolsa em Xangai puxada pela força no setor financeiro e o mercado no Japão sustentado por expectativas positivas para 2015, que ajudaram a compensar leves perdas devido a realização de lucros no começo da sessão.
Às 7h40 (horário de Brasília), o índice MSCI, que reúne ações da região Ásia-Pacífico com exceção do Japão avançava 0,31%.
O índice japonês Nikkei fechou com alta de 0,06% numa sessão tranquila. O índice acumulou avanço de 1,1% na semana encurtada pelo feriado, que viu o menor volume de negócios desde maio.
A bolsa em Xangai disparou 2,77% impulsionada pelo setor financeiro, com analistas dizendo que investidores ainda estavam buscando ações financeiras após notícias de que a China está planejando medidas para afrouxar mais as condições de liquidez para bancos. Na semana, o índice acumulou alta de 1,6%.
A bolsa de Hong Kong não operou devido a um feriado local, e os mercados na Austrália também estavam fechados nesta sexta-feira.