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Bancos dizem que empresas evitarão captar a custos mais altos
NOVA YORK E SÃO PAULO - O escândalo de corrupção na Petrobras, que forçou a empresa a adiar a publicação de seu balanço financeiro e a levou a desistir de fazer captações no mercado financeiro em 2015, pode afetar as emissões de bonds (títulos) de outras companhias brasileiras. Bancos que costumam coordenar esse tipo de operação, como o JPMorgan e o Citigroup, estão pessimistas para o ano que vem.
A Petrobras respondeu por 35% das emissões corporativas do Brasil em 2014. De acordo com o JPMorgan, outras companhias podem ser desencorajadas a ir ao mercado em 2015 pelos efeitos indiretos das investigações na petrolífera. Os custos de captação, que neste mês atingiram a máxima dos últimos cinco anos, também poderão dissuadir emissores de primeira viagem, prevê, por sua vez, o Citigroup.
MAIOR EMISSORA
Após um recorde de US$ 33 bilhões em emissões no primeiro semestre de 2014, as vendas de novos bonds de empresas brasileiras pararam quase totalmente. Nos últimos seis meses, as empresas levantaram apenas US$ 5,8 bilhões. Os bancos coordenadores preveem que as vendas de bonds serão menores no ano que vem também por causa do momento de baixo crescimento econômico que o país atravessa e pelo risco de o Brasil ser rebaixado por agências de classificação de risco.
— Não foi um bom fim de ano — resumiu Ricardo Leoni, chefe de mercados brasileiros de capitais de dívida no JPMorgan, quarto maior coordenador de vendas de bonds corporativos do país, com sede em Nova York.
De acordo com Leoni, “não há um sinal claro de uma resolução” para a investigação de corrupção envolvendo a Petrobras e empreiteiras. E isto pode pesar sobre a decisão das empresas que querem vender títulos.
A Petrobras foi a maior emissora de bonds corporativos em mercados emergentes nos últimos quatro anos, segundo dados compilados pela Bloomberg. A companhia levantou US$ 44,9 bilhões desde 2011, 10% a mais que o montante vendido no mesmo período pela companhia petrolífera estatal do México, a Pemex.
A Petrobras informou no dia 12 de dezembro que está reduzindo investimentos e custos operacionais para evitar a necessidade de levantar caixa, ou seja, fazer captações no exterior em 2015. Este ano, a empresa vendeu US$ 5,1 bilhões em notas denominadas em euros e libras na segunda semana de janeiro. Em março, vendeu mais US$ 8,5 bilhões em notas em dólar.
CUSTOS DOS EMPRÉSTIMOS
No mercado de bonds, os custos dos empréstimos para as empresas brasileiras tiveram um incremento de 0,3 ponto porcentual neste ano, para 7,08% ao ano, contra um declínio médio de 0,1 ponto porcentual nos mercados emergentes, mostram dados do JPMorgan. O yield (ágio) para os emissores brasileiros chegou a 7,7% neste mês, o mais alto desde junho de 2009.
— O prêmio pago em novas emissões para países emergentes, e para o Brasil especificamente, está mais alto agora, e deverá continuar assim nos próximos meses — disse Eduardo Freitas, codiretor de mercados de capitais de dívidas na unidade brasileira do Citigroup, em São Paulo. — Se você não tem uma necessidade real de captar, você não será o primeiro a entrar e a descobrir como estão os níveis de preços.
Em 2014, as empresas brasileiras venderam US$ 38,8 bilhões em bonds no exterior. Embora o montante seja maior do que os US$ 33,3 bilhões do ano passado, é menor do que o recorde de US$ 46 bilhões de 2012. Internacionalmente, as vendas de bonds corporativos atingiram um recorde de mais de US$ 4 trilhões neste ano.
— Muitas empresas enfrentarão dificuldades para acessar os mercados e vender novas dívidas — disse Carolina Lacerda, chefe de investment banking da unidade brasileira do UBS e diretora da Anbima, a associação de mercados de capitais do país, durante uma teleconferência neste mês. — Nós não sabemos se já vimos o fundo dessa caixa de Pandora.