sábado, 27 de dezembro de 2014

"Aécio, segundo ato", por Igor Gielow

Folha de São Paulo


Aécio Neves chega ao fim do ano como candidato ao posto de primeiro líder de oposição viável desde a ascensão do PT ao poder em 2003, algo que José Serra e Geraldo Alckmin não conseguiram após perderem suas eleições presidenciais para o time lulista.

A abulia histórica do tucanato fez do seu PSDB um partido que encarnava a oposição algo efetiva apenas em campanhas, mas não entre elas.

Sua maior bandeira, a gestão econômica, foi absorvida por Lula-1. A fórmula se repete agora com a ida de Joaquim Levy para a Fazenda, o que leva a um primeiro desafio para Aécio: dizer o que ele faria de diferente.

Nas contas tucanas, Levy só colocará a casa em ordem se usar remédios amargos. Das duas, uma: ou afeta o que ainda sustenta Dilma (emprego), ou não consegue tirar o país do buraco. Resta ao PSDB dizer qual dose de qual veneno ele iria usar.

Mais: a energia da quase vitória na eleição ainda está no ar, com o fastio ao PT visível em centros urbanos. Assim, Lula está com a faca nos dentes, acossado pelo escândalo da Petrobras e pela agenda de crise do governo. O resto de ministério medíocre em favor da governabilidade montado por Dilma é corolário disso.

No pós-eleição, Aécio assumiu um tom mais agressivo. Mas não sobreviverá quatro anos só com isso, tanto que busca agenda propositiva e aliados como o PSB, e ainda tem de descobrir como dissociar o descontentamento com o governo dos urubus que pedem a volta da ditadura –como disse, são os black blocs a assombrar uma oposição renovada.

Se conseguir manobrar por esses obstáculos em 2015, Aécio poderá chegar a 2016 como fiador de palanques de oposição fortes nas principais capitais. Precisa manter adversários internos por perto e provar que estão errados eles e os inimigos, que o tacham como inapetente. Dando certo, dificilmente perde a braçadeira de capitão da equipe que enfrentará em 2018 o PT de, ou com, Lula.