terça-feira, 1 de agosto de 2017

"Vistam aquela saia!", por Fernão Lara Mesquita

Com O Estadão


Dilma Rousseff deixou o governo com aumentos contratados com as corporações do serviço público até 2020. Só o de 2018 põe R$ 22 bilhões a mais na folha daqui até a eternidade. Umas três JBSs por ano no que custou ao BNDES a parcela dela que pertence “a nós todos” que não moramos em palácios em Nova York.
O salário do funcionalismo aumentou em média 9,4% ao ano em todos os anos entre 2003 e 2015. Era a “era Lula”, o dono daquele partido que recebe 30% do salário de cada um de seus “filiados”. Foram 9,3% em média de aumento por ano na União, 10,6% nos Estados e 10,1% nos municípios para uma inflação média de 6,3% ao ano. A quantidade de funcionários também aumentou explosivamente: 30% no nível federal, 10% no estadual e 67% (!!) no municipal; 10% a mais nos Poderes Executivos (estes que, no fim, promovem os “ajustes” pelo aumento de impostos), 55% nos Legislativos e 50% no Judiciário mais lento da face da Terra. É dentro desse Judiciário e meio que está o Ministério Público dos nossos heróis com taxímetro que, enquanto acusam os outros de desonestidade, exigem do Brasil, sob pena de represálias, 16,7% de aumento neste ano de miséria e inflação de 3,5%.
Esses aumentos passam para os funcionários aposentados, o que provoca outra onda de choque paralela muito maior que a que afoga a folha dos ativos. Eles custaram, no ano passado, 57% dos mais de R$ 2 trilhões que o governo tomou em impostos ao País que trabalha. A maior carga do mundo. Como todos os demais que põem um pé dentro do Estado um dia, nem um único dos novos “servidores” dessa multidão recém-embarcada, que se aposentará por volta dos 50 anos, sairá das nossas costas, nem depois de morto, pois, enquanto “funcionarem as instituições” que temos, seus filhos e netos herdarão os direitos que seus pais e avós “adquirem” e viverão à custa dos nossos filhos e netos em plena “democracia” do terceiro milênio.
Em 2009 o Ipea já tinha constatado que os funcionários do Estado recebiam o dobro do que se pagava aos trabalhadores privados ainda com emprego para funções e níveis de formação semelhantes. Essa desproporção já não era a verdadeira naquela altura, porque não incluía os “auxílios” e as infinitas mutretas outras com que eles se locupletam “por dentro da lei” que escrevem e por fora do Imposto de Renda, que, por eles e só por eles, se deixa docemente tapear com sinônimos. Os números da Previdência, mais recentes, mas ainda não atuais, estão mais próximos da verdade. A média das aposentadorias privadas é de R$ 1.600. A das públicas é de R$ 9 mil no Poder Executivo, R$ 25 mil no Legislativo, R$ 29 mil no Judiciário e R$ 30 mil no Ministério Público, o campeão dos campeões. Isso explica por que os 980 mil aposentados do setor público custam um déficit maior que o dos 33 milhões de aposentados do resto do País.
Hoje como a cada dia, por mero decurso de prazo, essa diferença já aumentou. Não é preciso nem uma palavra mais, portanto, para explicar não só o estado de miséria a que o País está reduzido, mas também a guerra no meio da qual vivemos. Esses são números tão escandalosos que sua mera exposição à população com a ênfase e a persistência mínimas que a decência requer provocariam uma revolução que 20 Lava Jatos somadas não seriam capazes de promover. Mas nem os políticos desonestos, nem os juristas e jornalistas que os acusam de desonestidade, com raríssimas exceções, tocam nesse assunto, porque aí, sim, aperta o calo de todos quantos têm interesse pessoal na continuação da “privilegiatura”.
Michel Temer até que tentou, mas é um monoglota. Só fala a língua do “sistema”. Não consegue comunicar-se com o que está fora dele. Derrapa em todas as maioneses. Só porque escapou da primeira volta no torniquete em que o agarraram os que não admitem nem as reformas meia-sola que propôs para reduzir a virulência desse assalto já passou a agir como se tivesse sido eleito. Deu para ficar “irônico” e dar-se, até, ares triunfalistas. Baixa impostos novos sem pedir um trilhão de desculpas, e descuidando até de pagar os devidos direitos autorais ao lulismo por isso. Conta como certa a “compreensão do povo”, que lá dos seus barracos, as balas perdidas voando sobre a cabeça quando dá sorte, vê tomarem seu santo nome em vão todos quantos, “contra” ou “a favor”, disputam o comando daquele disco voador chamado Brasília, de onde partem todos os raios que partem o Brasil.
Mas Temer é um homem de sorte! A desfaçatez da “privilegiatura”, com o Ministério Público de abre-alas, é tão insana que, depois de tudo aparentemente perdido, ei-lo diante de mais uma chance de redimir-se de todos os recuos que se permitiu sem muita luta – ele e seu ministro hã-hã-hã... – na sequência do momento periclitante de sua posse.
Sonhar não custa nada...
Seja macho, Michel! Seja macho, Henrique! Vistam as saias da secretária Ana Paula Vescovi, a única figura deste governo que ousa dizer verdades inteiras. Obriguem a “privilegiatura” a mostrar os dentes. Deixem que se mate sendo às claras o que é nas trevas. Reproponham a reforma daquela Previdência de escândalo. Arrastem-na para o mundo da contribuição real. Taxem os salários disfarçados sob codinomes. Vão ao Supremo contra essas “correções” sem inflação e saboreiem em segredo os 30% que o PT perderá em cada tostão que os “nós” deixarem de arrancar dos “eles”. Forcem os egrégios guardiões da Constituição a julgar a constitucionalidade dos “auxílios” livres de impostos que usam para furar o teto constitucional. Ponham valores nisso. Comparem. Quantas prisões “suecas” dá pra comprar com esse dinheiro? Quantas bolsas em Harvard? Obriguem os autores de “narrativas” a expor o que tanto se têm esforçado para ocultar.
Forcem, já, aquilo que seremos, de qualquer maneira, forçados a fazer logo adiante. Libertem esta e as futuras gerações de brasileiros da depressão de já partirem derrotadas para a pedreira da competição global.
Chega de mimimi! Afinal, o que há para perder no tempo que vos resta?