Michel Temer mal teve tempo de degustar a vitória obtida no plenário da Câmara na noite de quarta-feira e seus aliados já apresentaram uma nova conta. Leais ao Planalto na votação que enterrou a denúncia por corrupção contra o presidente, legendas do chamado centrão reivindicam ministérios ocupados pelo PSDB. Em privado, Temer avisou que, embora não tenha digerido os 21 votos de deputados tucanos a favor da continuidade do processo —não cogita punir a “infidelidade”. Ao contrário, tentará restaurar a unidade dos tucanos em torno da agenda de reformas do governo.
Ao assumir a Presidência, após a deposição de Dilma Rousseff, Temer agiu para dissolver o centrão, um aglomerado político composto por legendas como PP, PR, PSD e PTB. Nessa época, guindou o PSDB à condição de aliado preferencial do seu governo, aquinhoando a legenda com quatro ministérios. Para salvar o próprio mandato, Temer viu-se compelido a reagrupar o centrão, grupo que gravitava em torno do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Já vitaminado com doses extraordinárias de verbas e cargos, o centrão pega em lanças para reaver espaços que ocupava sob Dilma. Temer terá trabalho para domar o monstrengo que ressuscitou. O principal alvo do grupo é o Ministério das Cidades, hoje ocupado pelo tucano Bruno Araújo. Reivindicam a pasta PSD e, sobretudo, o PP. Líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que chefiou a pasta na gestão Dilma, sonha em retornar à Esplanada.
Além de Bruno Araújo, foi à alça de mira do centrão o ministro tucano Antonio Imbassahy (Relações Institucionais). Ele atua como coordenador político do Planalto. “Não faz sentido que permaneça na função”, afirma um expoente do grupo leal a Temer. “Já sabíamos que o Imbassahy não coordenava muita coisa. Agora, verificou-se que não coordena nem os votos da bancada do PSDB, seu partido. O Michel [Temer] cometerá um erro grave se não promover ajustes na sua equipe. Ficará claro que a fidelidade não vale a pena.”