domingo, 6 de agosto de 2017

Maia: 'Se ficar remoendo o passado, não aprova reformas’



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Paulo Celso Pereira,Catarina Alencastro,Cristiane Jungblut - O Globo

Agora que a denúncia foi arquivada, como está sua relação com o presidente da República?
Está boa. Na quarta falei o que tinha para falar e acabou, para mim está zerado. Acho que o presidente deu uma sorte que a minha agenda, na área econômica, é igual à dele.
O seu entorno em algum momento se antecipou e lançou o senhor para suceder a Temer?
Há um erro de avaliação em relação ao meu entorno. Ouvi, no meu primeiro mandato (como presidente da Câmara), uma frase do deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que disse: “Rodrigo, eu vou continuar votando em você porque você foi um presidente que não fez patota”. Eu não tenho patota. Eu construo a minha presidência com todos os partidos que compõem o Congresso Nacional, do mais radical ao menos radical. Sempre disse que eu nunca ia me posicionar contra o presidente da República.
Como o senhor administrou a expectativa de poder que existiu?
Eu sou o presidente da Câmara, sou o primeiro na linha sucessória. Quem disse que eu não estou mais forte hoje do que antes?
O senhor está mais forte agora do que antes?
Não sou eu que vou dizer, é o tempo. Quem disse que, se eu estivesse hoje na Presidência da República, eu estaria mais forte do que eu estou hoje? Eu acho que tudo o que é legítimo gera uma consolidação melhor. E acho que, se eu tivesse feito um movimento contra o presidente, não seria legítimo, eu não assumiria de forma legítima a Presidência.
Mas não é um paradoxo resistir a liderar um movimento pela sua própria elevação ao poder?
Não liderei e nem deixei que ninguém liderasse. Fui eleito para presidir a Câmara dos Deputados, dentro da Constituição eu sou o primeiro na linha sucessória. Se tivesse que acontecer, aconteceria de forma natural. Acho que tudo o que você se utiliza do poder para benefício próprio é ruim, então eu não me arrependo de nada que eu fiz. Fiz tudo certo. Ao contrário: difícil alguém cumprir esse papel melhor do que eu cumpri. Igual, talvez. Mas melhor tenho certeza de que seria muito difícil. Agradeço ao número elevado de deputados que entendiam que eu poderia ser um bom presidente.
Ou seja: o senhor aceitou o elogio, mas não deixou isso subir à cabeça?
Nunca. Eu estou há muitos anos na política, já tive momentos de muito poder e já tive momentos de muita solidão. Ser presidente da Câmara já é uma coisa muito importante, muito grande. Empurrar o presidente para fora da cadeira seria uma posição que iria manchar a minha biografia e eu não aceitaria isso.
O senhor chorou no dia, quando tudo acabou?
Chorei na véspera, então já tinha extravasado.
Qual foi sua válvula de escape?
Fiz análise uma vez e o meu analista me disse uma frase muito importante que até hoje me serve: “Nunca faça pelos outros esperando algo em troca”. Acho que isso sempre me balizou em todas as minhas decisões. Tudo o que eu fiz pelo governo, eu nunca fiz por nada. Quando fui atacado pelo governo, essa frase me confortou. De fato eu esperava atitudes distintas, mas infelizmente a vida é assim.
Qual a prioridade a partir de agora?
A prioridade da Câmara tem sido, desde que assumi, tem sido (ter) a melhor agenda para tirar o Brasil mais rápido da crise e gerar empregos. Quando a gente trata da agenda da Previdência, não é porque a gente quer prejudicar ninguém. Essa reforma não prejudica o trabalhador mais pobre, 70% dos brasileiros não terão nenhuma perda. As mudanças feitas são nos sistemas onde há privilégio e possibilidade de fraudes. A gente está olhando o déficit da Previdência pública, que é crescente. Daqui a pouco a situação federal pode ficar igual à do Rio. Tem uma agenda econômica, que é prioritária, e uma agenda que foca no cidadão, na área de segurança.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que quer votar a proposta até outubro. Isso é viável?
A gente precisa entender que a denúncia já foi decidida, já foi arquivada, e precisamos ter uma agenda de votações. A reforma da Previdência tem prioridade. Falei que a gente precisa reorganizar a base. O PSDB tem um papel relevante. Não acredito que tenha partido a favor da reforma que não tenha um projeto dentro de um governo. São matérias muito difíceis para serem votadas, e essa questão de estar fora do governo, do meu ponto de vista, não é tão simples assim. Por isso, é importante ter o PSDB de volta, unido, com os espaços que tem no governo, com o trabalho que os ministros estão fazendo de forma competente, para que se possa olhar para o futuro e não ficar remoendo o passado.
O senhor acha um equívoco algum tipo de retaliação ao PSDB?
Se a gente ficar remoendo o passado, a gente não vai construir o futuro para o Brasil. A aprovação da reforma da Previdência é mais importante do que a gente ficar preocupado em tirar o cargo de A, B ou C. Se a gente ficar olhando para a votação da denúncia, vai acabar inviabilizando a possibilidade de ter 308 votos. A gente não deve estar preocupado com retaliação a ninguém.
Qual o tamanho da dificuldade para alcançar esse número de 308 votos?
Hoje, ninguém pode se enganar. É óbvio que a votação de quarta-feira gera um desgaste para o parlamentar. E, na hora em que ele recebe o primeiro desgaste desta votação, ele já projeta o desgaste da Previdência. Então é por isso que a gente tem que construir, ao longo das semanas, para que o estresse da votação da denúncia não contamine votações futuras. Então, tratar amanhã de quorum para votação da Previdência, vão achar que não tem quorum. Mas, daqui a três ou quatro semanas, poderá ter outro ambiente para que se possa ter espaço para aprovar essa reforma e outras. Como a reforma tributária, que pode ser antes ou depois da Previdência.
Mas dá ou não para votar a Previdência até outubro?
O Estado brasileiro não pode continuar gastando o que gasta. Você tem um desafio na Previdência dos estados que não sei se tem solução. O ministro Meirelles está na agenda econômica dele, e é o prazo que ele acha importante já que a gente iria aprovar a reforma. E, se não tivesse havido a crise da JBS, a gente estaria certamente discutindo agora, no início de agosto, a reforma da Previdência já no Senado. Então, a expectativa é que a gente consiga encaminhar isso em setembro, até outubro. É um prazo curto, mas sou um otimista. Sabíamos que a PEC do Teto de Gastos iria obrigatoriamente gerar uma necessidade de votar a reforma da Previdência.
Para facilitar a aprovação da reforma da Previdência, o governo deve fazer um texto mais enxuto, apenas com a idade mínima?
O texto está negociado. Tem apenas um problema que é a transição (dos servidores públicos). Nessa área, há uma comunicação da oposição mais eficiente, de gerar uma insegurança na sociedade, mas não está se tirando direito nenhum. Esse discurso, que não é verdadeiro, é rapidamente desmontado um dia depois da promulgação da PEC da Previdência. Porque quem ganha salário mínimo não vai deixar de ganhar o salário mínimo, por exemplo. O que está se fazendo é um aumento correto na idade mínima. Não vejo problema nessa votação. Dá para resolver o problema da transição dos servidores.
Como os deputados reagirão se vier nova denúncia contra Temer?
Tem que ver de que forma os deputados estão sendo pressionados.
Entre os tucanos, o governador Geraldo Alckmin ou o prefeito João Doria têm mais musculatura para sair como candidatos à Presidência da República?
O Alckmin tem uma base eleitoral fortíssima, que é São Paulo. Agora, eu acredito num cenário novo pela política. O PSDB pode se reinventar pela política, o Alckmin pode se reinventar pela política.
E o Doria?
Acho que a construção de uma candidatura presidencial é uma maratona. A gente não está vendo uma corrida de 100 metros rasos. Na corrida de 100 metros rasos, o Doria está indo muito bem. Agora, eu acho que é uma corrida para um ritmo diferente. O ritmo dos 100 metros rasos chega uma hora que você cansa. A corrida é uma maratona, o perfil não é o do corredor de 100 metros. Acho que tem que se construir o perfil de alguém que olhe 2018 e construa dentro de uma maratona as condições de se viabilizar para 2018.