Diego Padgurschi - 9.mai.15/Folhapress | |
Gráfico com ações de empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo Folha de São Paulo
A vida ensina tudo. E uma das lições que ela me ensinou e que eu mais valorizo é a de que, para fazer coisas grandes, tem que fazer com os outros.
E, para fazer com os outros, é preciso ter um propósito comum.
Mark Zuckerberg, um dos empreendedores mais relevantes deste século, voltou a Harvard neste ano para discursar para turmas de formandos e receber título honorífico da universidade que abandonou para criar o Facebook. E sobre o que Zuckerberg falou? Propósito.
Para ele, hoje não basta que cada um busque o seu propósito na vida, mas que também ajude os outros a descobrir e perseguir seu propósito.
Zuckerberg está certo. A quantidade de informação e desinformação que consumimos, com a ajuda da rede social que ele criou, tem a capacidade tanto de iluminar como de obscurecer os caminhos à nossa frente.
Na difícil situação do Brasil hoje, ter clareza de propósito pode ser uma grande alavanca para o entendimento mútuo e o desenvolvimento geral.
O propósito de uma empresa não deve ser buscar apenas lucro líquido, mas também orgulho líquido do que ela constrói com seus colaboradores nas comunidades em que atua.
O propósito do político e dos politizados não pode ser destruir seu adversário, mas construir uma política melhor para um país melhor.
Sentar na frente de uma tela e disparar torpedos destruidores repletos de ódio e mentiras atende a qual propósito?
Talvez a um propósito imediatista de destruir adversários, desopilar o fígado, ganhar uma eleição.
Mas será que não é possível pensar e promover propósitos mais elevados? Claro que é.
No seu discurso em Harvard, Zuckerberg cita uma bela história sobre o presidente americano John F. Kennedy. Em visita à Nasa, o líder democrata perguntou a um faxineiro que andava com uma vassoura na mão o que ele fazia na agência espacial. Ele respondeu: "Sr. presidente, estou ajudando a levar o homem à Lua".
Nesse longevo flá-flu brasileiro, um propósito coletivo básico, talvez o mais básico de todos, é buscar o respeito mútuo e o debate razoável. É pouco para reconstruir uma nação devastada, mas é suficiente para começar a reconstrução.
Os empresários, assim como todos os outros setores da sociedade, precisam participar dessa reação propositada. Muitos já o estão fazendo, cientes de que há coisas mais importantes na atuação empresarial do que o lucro líquido, embora o lucro seja obviamente fundamental para todas as empresas.
A propósito, vale sempre lembrar diálogo extraordinário entre uma freira americana cuidando de leprosos e um milionário empresário americano, que a vendo ali naquela situação afirmou: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo". Ao que ela responde: "Eu também não".
No início desta longa e resistente crise, escrevi aqui neste nobre espaço como era importante que os líderes empresariais olhassem para dentro de suas empresas e as gerissem da forma mais eficiente possível da porteira para dentro, onde podiam atuar com alto impacto, enquanto a crise lá fora se desenrolava longe de sua capacidade de influência.
Muitos fizeram isso, e as empresas estão aí firmes e preparadas para o próximo ciclo de crescimento que começa a aparecer no horizonte.
Mas agora é hora de nós todos atuarmos como cidadãos em busca de propósito tão básico quanto fundamental: o entendimento e o respeito mútuo.
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