quarta-feira, 23 de agosto de 2017

"Eu odeio Michel Temer. Eu adoro Michel Temer", por Leandro Narloch

Marlene Bergamo - 7.jun.2017/Folhapress
PODER - O Presidente Michel Temer durante cerimonia de lançamento do Plano Agricola e Pecuario de 2017/2018. Enquanto isso ocorria a segunda sessão do julgamento da cassação da chapa Dilma/Temer - 07/06/2017 - Foto - Marlene Bergamo/Folhapress - 017 -
O presidente Michel Temer durante cerimônia no Planalto

Folha de São Paulo

Só na última semana, Temer anunciou 57 privatizações, a criação de um limite de R$ 5 mil para salários iniciais do funcionalismo, a decisão de incluir auxílios e verbas no teto salarial dos funcionários públicos e o fim de impostos de importação para mais de 4.900 máquinas e equipamentos.

Depois dessas notícias, não consigo me segurar: eu adoro esse cara.

Nem parece o mesmo Temer que, em 2009, apoiou a decisão do TCU de liberar salários acima do teto para aposentados parlamentares. O Temer que foi vice na chapa de Luiza Erundina na eleição de São Paulo de 2004. O aliado do PT durante o auge da irresponsabilidade do governo da presidente Dilma.

Em 2013 e 2014, quando Dilma empurrou o país para o buraco adiando o ajuste fiscal para depois da eleição, Temer estava com ela. Sorria para ela. 

Enquanto as contas públicas iam pelo ralo, Temer subia no palanque pedir votos para Dilma. Deu a ela 2 minutos e 18 segundos do horário eleitoral de 2014. Apertou "13 confirma".

Gente, Michel Temer convenceu milhões de pessoas a apertar "13 confirma" na última década. Eu odeio esse cara.

Vou pregando maldições contra o presidente até me lembrar do imposto sindical. Sim, o homem acabou com o imposto que Fernando Henrique acreditava não ser capaz de eliminar. Fez uma reforma trabalhista, aprovou o teto de gastos, peitou uma reforma impopular como a da Previdência.

É verdade que a reforma trabalhista foi meia-boca, e que a da Previdência, se for aprovada, vai exigir outra reforma daqui alguns anos. Mas para alguém do PMDB, o partido da malemolência, do "deixa-disso", o comprometimento com as reformas é uma bela surpresa. E o presidente ainda conseguiu derrubar a inflação e a taxa de juros. Grande homem este Michel Temer.

Grande homem? Nunca! Por mais que não haja prova de crime na conversa de Temer com Joesley, nenhum grande homem falaria "tem que manter isso, viu". Nenhum grande homem gastaria R$ 15 bilhões em emendas parlamentares, em plena crise fiscal, para convencer deputados a arquivar uma denúncia contra ele.

Colunistas de jornal deveriam oferecer análises claras e precisas, que ajudem a formar a opinião do leitor. Mas minha avaliação mais assertiva sobre Temer não passa de um "sei lá, mil coisas".

Parece uma relação novelesca de amor e ódio. Temer é garota que faz você se apaixonar só para decepcioná-lo em seguida. Ela jura fidelidade e amor eterno; logo depois seus amigos contam que ela foi vista perambulando pelo Tinder. Você promete a si próprio nunca mais responder um WhatsApp dela, mas de repente ela aparece na sua casa com uma garrafa de gin. E diz, no seu ouvido: "Hoje vamos privatizar a noite toda".

Não dá para confiar. Não dá para resistir.