O ministro da secretaria de Governo diz que Temer vai azeitar a relação com o Congresso, superar a crise e ampliar os votos no Senado para confirmar o impeachment
O ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, falava ao telefone e engolia o último naco de fruta, enquanto recebia a reportagem de ISTOÉ às 9h da manhã da quarta-feira 25. Desculpou-se pelo mau jeito: “Fui dormir às 5h da manhã, acompanhando a votação da meta fiscal e estou no meu gabinete desde às 7h30, ligando para todos os líderes para agradecer aos que votaram conosco. Não parei um segundo”, justificou.
Na entrevista, Geddel admitiu que o presidente Michel Temer ainda precisa resolver “estresses” no Congresso, mas demonstrou confiança para a derradeira votação no Senado que selará o destino da presidente afastada, Dilma Rousseff. “Ela perdeu qualquer legitimidade de falar em voltar. A presidente afastada cometeu crime de responsabilidade e tenho certeza de que o Senado cumprirá seu papel histórico. A tendência é aumentar ainda mais essa votação”, afirmou.
Quais são os principais desafios do governo hoje no Congresso?
Após a vitória importante da meta fiscal, agora é a desvinculação da DRU (Desvinculação de Receitas da União), que queremos fazer na próxima semana.
O novo governo vai retirar o projeto de CPMF que foi enviado à Câmara por Dilma Rousseff?
Isso ainda não foi firmado. O presidente Temer tem deixado claro que o governo precisa, por meio de medidas econômicas, demonstrar que não é perdulário, que tem preocupação com gasto público, que não vai cometer exageros e que é austero. Só depois, se mostrar que é necessário o aumento de arrecadação com o incremento de imposto provisório, isso será discutido.
Como o sr. avalia a relação do governo Temer com o Congresso?
Precisamos azeitar a relação, resolver um estresse ali, outro aqui, a ansiedade natural dos parlamentares de participarem mais ativamente. Temos um novo momento, um presidente aberto ao diálogo, que permite uma proximidade maior. A sensação que eu tenho é que você vinha de uma estrutura represada para um governo aberto. Eu já ouvi até dizer que você não podia sequer andar tranquilamente aqui pelo 3º e 4º andar do Palácio do Planalto. O presidente recebe a toda hora, as portas estão abertas. Aqui, vêm 50 parlamentares por dia. A gente tenta atender todo mundo e quando não consegue saem zangados. Você vê que é um choque de diálogo e de abertura que deixa as pessoas com essa ansiedade natural.
Essa ansiedade dos parlamentares que o sr. diz é por obtenção de cargos no governo?
Claro que tem o desejo dos partidos da base de participarem de cargos. Nós vamos tratar isso como sempre: com absoluta naturalidade e tranquilidade. Ainda que o presidente da República quisesse, ele não teria quadros. Nós precisamos fazer consultas, ouvir pessoas e os partidos políticos têm legitimidade para indicar posições. Essa legitimidade se consolida na medida em que trazem nomes com currículos respeitáveis.
O presidente Temer teve de ceder à Câmara e indicar o deputado André Moura (PSC-SE), aliado de Eduardo Cunha, para liderar o governo. Ele tem seis inquéritos, inclusive de suspeita de homicídio. Não é um preço muito caro?
O deputado André Moura está no exercício do mandato, veio para cá eleito pelo povo de Sergipe, e se tiverem que fazer alguma crítica a ele, não façam ao presidente Michel Temer, que o indicou, façam ao povo de Sergipe. Ele não é deputado biônico, foi o povo de Sergipe que achou que ele poderia representá-lo.
Mas a decisão do Temer referenda isso.
E o presidente vai contra o povo? Acho que essas críticas ao parlamento acabam sendo meio elitistas. Porque fica a sensação de que quem está ali não representa a sociedade brasileira. O Parlamento tem de tudo. Certamente, tem homens sérios, homens menos sérios, mulheres, representantes de minorias, negros, brancos. Fiquem todos tranquilos, a sociedade está toda representada lá. Se o povo elegeu, eu vou questionar?
O povo elegeu a presidente Dilma Rousseff.
O povo elegeu a presidente Dilma Rousseff e ela cometeu um equívoco e saiu. Ela cometeu um equívoco e os representantes do povo a tiraram, como determina a Constituição.
A exoneração do ministro Romero Jucá foi uma resposta importante à sociedade?
Naquele momento, foi. O Jucá teve tamanho e grandeza para construir essa saída. Lamento, porque é um quadro extremamente qualificado, que eu espero que continue contribuindo com o governo no Senado.
Conceitualmente, não seria melhor que os representantes do governo defendessem as investigações da Lava Jato?
O presidente da República tem dito isso de forma clara. E tanto não ficou bom conceitualmente que o Romero Jucá foi afastado.
No diálogo gravado, Jucá diz que o “Eduardo Cunha está morto”. Concorda?
Se você for ali na casa dele, ele está vivo (risos). Evidentemente, o deputado Eduardo Cunha perdeu relevância na medida em que era presidente da Câmara e deixou de ser, além de estar afastado do mandato. Tem certas coisas que não tem que achar. É de uma obviedade cristalina.
Delatores dizem que o PMDB recebeu propinas. É decepcionante ver quadros do seu partido comprometidos ou implicados em delações como essas?
A gente tem que fazer uma distinção entre acusação, investigação e condenação. As pessoas quererem antecipar e a gente está repleto de casos em que acusados foram inocentados e investigados que não tiveram acusações comprovadas. Tem que ter uma certa cautela. Evidentemente que é chato, que desgasta, mas é a vida como ela é. O importante é que ao fim as coisas fiquem esclarecidas. Quem tiver culpa, terá de pagar pelo que cometeu.
O sr. mesmo é citado nas investigações pelas suas conversas com o ex-presidente da OAS preso na Lava Jato, Léo Pinheiro. Como o sr. avalia isso?
Com muita tranquilidade. Minhas conversas com o Léo Pinheiro eu tive no telefone celular, que todo mundo usa hoje, mas poderia ter tido em praça pública. Conversei com ele e conversei com vários empresários, não tem nenhum problema nisso. Mas essa insistência em me colocar como investigado ou respondendo a inquéritos da Lava Jato, com o perdão do termo, é uma sacanagem. Uma irresponsabilidade de determinados segmentos que atuam levianamente, inclusive na imprensa.
Aliados da presidente Dilma têm dito que são necessários apenas dois votos para reverter a situação no Senado. O que o sr. acha disso?
Se ela realmente tivesse amor pelo País, já teria renunciado. Ela perdeu qualquer legitimidade de falar em voltar. Isso é um prejuízo ao país. A chance de a Dilma voltar é zero, ela cometeu crime de responsabilidade e tenho certeza de que o Senado cumprirá seu papel histórico. Acho que a tendência é aumentar ainda mais essa votação. Essas são as sinalizações que estamos recebendo.
O sr. se decepcionou com o ex-presidente Lula, do qual foi ministro?
Não. Vou dizer até que lamento que um líder popular que construiu uma história bonita termine assim, nesse inferno astral. É evidente que a vida da gente é construída pela gente. Claro que se ele está vivendo isso tem sua parcela de culpa.
Se for candidato em 2018, o Lula terá alguma chance?
Acho difícil, por mais que ele tenha tido um grande momento na política brasileira. Esses últimos acontecimentos marcaram indelevelmente a história do partido na vida pública nacional de maneira negativa. Não vejo no PT uma possibilidade. Acho que o Lula foi tão soberano no partido que acabou sufocando o surgimento de qualquer liderança que pudesse significar o surgimento de uma renovação natural. Eu, como político e cidadão, não vejo nenhuma liderança que possa, em 2018, empolgar o eleitorado e mostrar uma virada de página nesta quadra que o PT enfrenta.
Existe algum quadro no PMDB capaz de empolgar o eleitorado?
Não vejo nenhum quadro político, em nenhum partido, que você possa dizer que é o cara. Isso terá de ser construído.