terça-feira, 1 de março de 2016

"O estagiário", por Nizan Guanaes

Folha de São Paulo


Eu me formei em administração e comecei a trabalhar com publicidade para valer no início da década de 1980.

Tudo o que aprendi na escola e na minha profissão mudou –e mudou muito. E, se ainda estou aqui hoje, isso se deve à minha vontade recorrente de me reinventar. 

É preciso morrer várias vezes ao longo da vida para continuar vivo.

Neste momento difícil da economia e disruptivo da indústria da mídia e da publicidade como um todo, eu decidi voltar a estudar.

Como não dá para sair do Brasil neste momento porque é preciso estar ainda mais perto dos meus clientes, decidi aprender estagiando num dos clientes que considero dos mais modernos do país. Pretendo passar cerca de 120 manhãs estagiando e tendo como meus tutores uma garotada espetacular em geral 30 anos mais nova do que eu.

Várias vezes em minha vida voltei para o final da fila da classe. Esse coração de estudante é o que faz o meu coração continuar batendo. É uma delícia aprender. O mundo novo não tem nada de "rocket science". Em bom português, não tem nada de complicadíssimo.

Você precisa apenas ter a mente aberta, sem medo de perguntar. Como disse Albert Einstein: "A mente que se abre para uma nova ideia nunca volta ao seu tamanho original".

O futuro não é difícil de entender, é difícil de aceitar. As pessoas ficam velhas quando fecham a cabeça para o novo e se convencem de que não são capazes de usar o computador, o celular, o Waze, o GPS. Se você tem coração de estudante e não tem vergonha de não saber, você vai adorar o futuro.

E tem sido uma delícia essas minhas manhãs de estagiário. Meus professores têm 25, 27 anos. Eles não conhecem muitas das músicas que eu cito, não entendem alguns termos que eu uso e tampouco entendem muitas piadas que eu conto.

Tem horas que eu realmente me sinto Robert De Niro no filme "O Estagiário". 

Quando completar os meus 120 dias estagiando, eu quero estagiar em outros lugares do Brasil onde o futuro está nascendo.

Quando a crise brasileira nos der uma trégua e eu puder ficar menos perto dos clientes que hoje precisam tanto do nosso trabalho, quero fazer o programa OPM (Owner/President Management) de Harvard, para líderes empresariais, no qual já me inscrevi várias vezes e ainda não fiz.

Quero fazer também o curso da Singularity, a universidade mais disruptiva do mundo, e estudar no MIT, que generosamente já me abriu suas portas. Quero estagiar no Google e no Facebook, na Califórnia, e passar um mês em Israel, que é tão avançado quanto o Vale do Silício. Quero estudar também em Boulder, no Colorado, que é o Vale do Silício da alimentação. Se a gente é o que come, uma nova raça humana está nascendo em Boulder.

Acho que fazer isso, voltar a aprender, é o que melhor posso fazer para a minha saúde mental, para o meu ânimo, para os meus clientes. E para manter acesa uma coisa fundamental em nós chamada entusiasmo. Entusiasmo vem do grego –significa ter Deus dentro da gente.

É entusiasmo que esse estágio está me dando. Minha mulher diz que eu pulo da cama todo dia. E pular da cama animadão faz muito bem.

Eu amo segunda-feira. Eu sempre amei o que faço. E aprender as novas formas de fazer, com esse eterno coração de estudante, é o segredo para continuar pulando da cama todas as manhãs aos 57 anos.