Marcelo Kfoury, superintendente do Departamento Econômico do Citi Brasil projeta expansão baixa nos próximos anos, com uma recuperação em ‘L’. Para ele, crescimento potencial do Brasil é de 1,5% a 2%, contra 4% no governo Lula, e pode ficar ainda menor.
Qual sua expectativa para o resultado da economia, que será divulgado na quinta-feira?
Nossa expectativa é uma recessão de 3,8% no ano. No quarto trimestre, a queda deve ser de 1,4%. Está ocorrendo uma espécie de fadeaway (desaceleração) da crise. A sensação de crise vai melhorando ao longo do tempo. Em 2016, nossa projeção é de 3,7%. Mas grande parte disso é herança estatística de 2015: 2,3% são do ano passado, e 1,4%, deste ano. Os americanos gostam muito de falar qual é a forma da recuperação. Tem em forma de “V”, que é uma recuperação rápida, tem em forma de “U”, em que o vale é um pouco mais longo. Estamos pensando que nossa recuperação será em “L”. A economia cai e depois vai ficar bastante tempo com crescimento medíocre. Nossa projeção para o ano que vem é de 0,6%. É o primeiro positivo desde 2014, mas será bem medíocre.
Por onde pode ser a saída?
É do setor externo que vem a luz no fim do túnel. A depreciação do câmbio é considerável, está 25% mais desvalorizado em termos reais. Pelos nossos cálculos, um câmbio de equilíbrio seria de R$ 3,40. Nossa expectativa para o fim do ano é de R$ 4,20, R$ 4,30. É essa diferença que gera competitividade, principalmente no setor industrial, para que o setor externo compense a queda dos investimentos e do consumo.
Mas e a crise da economia global?
É verdade que a economia mundial vai crescer abaixo do potencial de 2%. Os mercados emergentes vivem uma situação precária de crescimento. Mas, a princípio, em termos de PIB, o que interessa é aumento de participação de mercado das nossas exportações lá fora e a expansão das exportações industriais. Há um aspecto traumático da crise no mercado de trabalho, mas, a longo prazo, a queda do salário pode permitir inflação de serviços menor e aumento da competitividade do setor manufatureiro.
A política econômica tem sido ambígua? Como elevar a confiança?
Temos dificuldade de gerar superávit para estabilizar a dívida. Este é o grande problema da política econômica, as outras coisas são razoáveis. Há esse impasse de difícil solução de curto prazo, de gerar superávit que estabilize relação entre a dívida e o PIB. Nossa projeção é que fique perto de 80% em 2017. Isso dificulta a recuperação da confiança, as pessoas ficam mais temerosas de consumir e investir. Vimos na Europa um círculo vicioso.
Como funciona?
Havia a necessidade de ajuste fiscal. Aí se fazia o ajuste fiscal, piorava a economia, e, ao piorar a economia, tinha de aumentar o ajuste, cortando mais gastos e aumentando os impostos. Com isso, ia-se caminhando cada vez mais para uma maior queda do PIB. Há um risco cada vez maior de entrarmos nesse círculo vicioso. Há um impasse. O governo não quer fazer ajuste fiscal porque vai piorar o PIB. Por outro lado, o PIB não melhora porque tem um risco fiscal. Estamos nesse dilema.
Qual é a magnitude desse risco?
Um dos sinais desse risco é o CDS (credit default swaps). Passou de pouco mais de cem para 500. Isso aumentou por duas razões: a Petrobras contaminou o risco do setor público e houve aumento do endividamento.
Qual é o cenário de médio prazo que vocês veem para o Brasil?
O cenário de médio prazo é de um crescimento baixo, um crescimento medíocre, abaixo do que achávamos que era o potencial. Em 2018, não chegaremos a 1,5% de crescimento. Na época do Lula, achávamos que o potencial era 4%. No primeiro governo Dilma, que era 2%, 2,5%. Agora, achamos que é 1,5%, 2%, com chance de baixar mais ainda. (Isso compromete) o dinamismo da economia, não gera tanto emprego quanto é necessário e traz uma série de efeitos adversos que já vivemos nos anos 80, como pessimismo e falta de confiança. A confiança deu uma nivelada, mas não vai melhorar logo.