Raúl Castro recebeu Obama em Cuba e, aberta a porteira, os Rolling Stones entraram alegremente por ela. A Disney das esquerdas nunca mais será a mesma. Em breve, Justin Bieber estará aprontando em Havana, os cubanitos começarão a se envenenar no McDonald's e haverá rumores de um caso entre Fidel e Madonna. Com 27 anos de atraso para a queda do Muro de Berlim, é o verdadeiro fim da Guerra Fria.
Eu gostaria que, já em 1989, os dois países fossem amigos. Em janeiro daquele ano, fui a Cuba pelo jornal "O Estado de S. Paulo" para uma série de reportagens sobre os 30 anos da Revolução. Naquele tempo, ia-se a Cuba por Lima. Em uma semana na ilha, conheci o bairro negro de Havana, entrevistei o principal traficante de drogas do país e assisti a um desfile da alta costura cubana na boate Tropicana, com modelos desfilando ao som de "Guantanamera" em ritmo de discoteca.
A viagem incluía uma esticada a Nova York e também exigia uma escala –esta, na Cidade do México. Por causa disso, tive de entrar nos EUA por Dallas, no Texas, e como a imigração sabia que alguns passageiros vinham de Cuba, tive de abrir a mala. A funcionária que me foi destinada era uma afro-americana de 1,80 m de altura por outros tantos de largura, e um correspondente par de peitos.
Bem, eu não tinha nada a temer. Até que ela começou a tirar da minha mala dezenas de biquínis –uns fiapos, minúsculos, quase inexistentes. E só aí me lembrei. A "Playboy" brasileira me pedira para levá-los para a "Playboy" americana em Nova York. Nas manoplas da mulher da imigração, eles pareciam mais ridículos ainda.
Para ela, vindo de Cuba, eu devia ser um perigoso fornecedor de pornografia. Expliquei-lhe do que se tratava e a custo ela me liberou. Ufa! Mais um pouco, e eu seria uma nova baixa da Guerra Fria.