Woody Allen fez 80 anos há algumas semanas. Nada de novo com ele. Mas, quanto mais leio a seu respeito, principalmente em entrevistas antigas, mais me convenço de que, ao contrário do que às vezes se publica, ele nunca virá filmar no Rio. Eis alguns motivos:
"Sempre detestei a luz do sol, o calor, o verão. Em meados dos anos 40, quando eu tinha por volta de dez anos, havia 25 cinemas nas imediações da casa de minha família, no Brooklyn. Ia ao cinema quatro ou cinco vezes por semana. Cada sessão era um programa duplo [dois filmes]. No verão, em vez de praticar esporte, eu fugia para um cinema com ar-condicionado e me sentia em casa.
"Quando fiz 15 anos, em 1950, descobri os cinemas de arte do Brooklyn, que exibiam filmes europeus. Foi quando eu e meus amigos de escola conhecemos os clássicos –'À Nous la Liberté', de René Clair, 'A Grande Ilusão', de Jean Renoir, 'Ladrões de Bicicletas', de Vittorio De Sica. E, alguns anos depois, Ingmar Bergman, a partir de 'Mônica e o Desejo'.
"Por causa de Bergman e do cinema sueco, me interessei por autores como [o filósofo] Kierkegaard, [os dramaturgos] Ibsen e Strindberg, e por toda a Escandinávia. Gosto muito daquela parte do mundo, do jeito daqueles países, do tempo [frio e fechado].
"Em 1955, fui trabalhar em Los Angeles, como redator de um programa de humor de televisão. Fiquei um ano e voltei para Nova York. As pessoas pensam que detesto Los Angeles. Mas não é verdade. Los Angeles é legal, só não é para o meu gosto. Tem luz demais, sol demais. E não gosto de cidades onde tudo é espalhado e você precisa de um carro para ir a qualquer lugar. Gosto de sair de casa e ter a cidade ao meu redor, as calçadas, as lojas, como em Londres, Paris, Estocolmo, Copenhague, Nova York".
Portanto, vamos tirar o cavalo da chuva. Nem com ela ele virá.