domingo, 15 de junho de 2025
Homem que matou deputada democrata tinha panfletos contra Trump em carro
Panfletos encontrados dentro do carro de atirador: lema anti-Trump. (Foto: Reprodução/Minnesota State Patrol)
A polícia do estado de Minnesota confirmou ter encontrado panfletos contra Donald Trump no carro do atirador que matou uma deputada estadual e o marido dela neste sábado (14). Os investigadores também localizaram uma lista que, além das vítimas, incluía dezenas de outros.
A deputada Melissa Hortman e o marido dela, Mark Hortman, foram mortos a tiros por Vance Boelter, que invadiu a residência do casal durante a madrugada. Ele se passou por um policial.
Pouco tempo antes, Boelter também havia atirado contra o senador estadual John Hoffman e a mulher dele, Yvette Thompson. O casal sobreviveu ao ataque e permanece internado em estado estável.
O atirador conseguiu fugir. As autoridades estaduais ofereceram uma recompensa por pistas que levem a Boelter.
“No Kings” é lema de protestos contra Trump
Com o lema de “No Kings” (“Sem Reis”), grupos de esquerda organizaram atos em todo o país neste sábado. A frase foi encontrada em panfletos dentro do carro do atirador.
Christina Bogojevic, chefe da Patrulha Estadual de Minnesota, confirmou a informação durante uma entrevista coletiva neste sábado. Ela também recomendou que os cidadãos do estado não comparecessem aos atos contra Donald Trump, como uma medida de precaução.
Os investigadores ainda tentam entender as motivações de Boelter. Ele tem um histórico de ligação com o partido Democrata. Em 2016, Boelter foi indicado como um dos integrantes do Conselho de Desenvolvimento da Força de Trabalho do estado. Em 2019, foi reconduzido ao posto. Em ambos os casos, o estado de Minnesota era governado por um democrata.
A emissora CNN informou que a lista de alvos do atirador tinha aproximadamente 70 nomes, inclusive o governador Tim Walz e parlamentares estaduais.
O superintendente do Escritório de Captura de Criminosos de Minnesota, Drew Evans, evitou dar detalhes sobre a lista encontrada no carro de Boelter. "O que eu diria sobre a lista é que há um grande número de pessoas. Isso é tudo que posso dizer sobre isso", afirmou.
O FBI está participando da caçada a Vance Boelter ao lado dos órgãos estaduais de segurança.
Gabriel de Arruda Castro - Gazeta do Povo
sábado, 14 de junho de 2025
'Cartel lula-stf-globolixo': Brasil emite 64 notas críticas a ações de Israel no Oriente Médio
A diplomacia petista, no entanto, 'criticou' os terroristas que atuam na região apenas 10 vezes no mesmo período
Desde 7 de outubro de 2023 — data que os terroristas do Hamas fizeram o pior ataque contra Israel e deixaram 1,2 mil mortos —, o Brasil, por meio do Ministério das Relações Exteriores do governo Lula, intensificou críticas às operações militares israelenses no Oriente Médio. Nesse período, o governo de Lula emitiu 64 notas oficiais que condenam ataques israelenses e manifestam preocupação com violações à soberania de países como Líbano e Irã, que são o território dos terroristas do Hezbollah e o financiador das ações desse grupo, respectivamente.
O comunicado mais recente do governo Lula foi divulgado depois que Israel bombardeou instalações nucleares no Irã na última quintafeira, 12 (sexta-feira, 13, pelo horário de Brasília). O governo petista condenou Israel e nada mencionou sobre armas nucleares.
No começo da guerra, o Ministério das Relações Exteriores publicou três comunicados diante de ataques de Israel contra os países próximos, mas o tom das críticas se acentuou no decorrer do ano seguinte. Escalada nas manifestações do Itamaraty Somente em 2024, o Itamaraty divulgou 45 notas demonstrando preocupação ou condenando operações militares israelenses no Oriente Médio; 29 delas foram divulgadas no segundo semestre.
Entre janeiro e junho de 2025, mais de 17 comunicados foram publicados, mostra levantamento do Poder360.
Os quatro comunicados mais recentes foram expedidos na semana que terminou na sexta-feira 13. Além de sugerir violações à soberania do Irã, a diplomacia brasileira também tratou da interceptação da embarcação Madleen, que transportava a ativista sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila em direção a Gaza, tema de três informes recentes.
Israel impediu o desembarque dos militantes pró-Palestina e os deportou para seus países de origem.
Governo Lula emitiu 10 notas para criticar grupos terroristas
Em contrapartida, o governo do Brasil publicou dez notas com críticas às atrocidades cometidas pelos grupos terroristas que atuam no Oriente Médio — Hamas, Houthis e Hezbollah — e pelos ataques do Irã contra território israelense.
A primeira manifestação ocorreu no próprio 7 de outubro de 2023, data do ataque inicial do Hamas, seguida de mais três comunicados na mesma semana, depois da morte de três brasileiros pelos terroristas.
A última nota de solidariedade ao povo israelense emitida pela diplomacia do governo Lula foi no aniversário de um ano do ataque do Hamas contra Israel.
A posição do governo Lula sobre Israel
Além das notas da diplomacia, Lula, em dezenas de discursos e entrevistas à imprensa nacional e internacional, manifestou severas críticas a Israel, cujo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, é filiado a um partido de direita.
Repetidas vezes, desde outubro de 2023, o petista afirma que as ações de Israel contra os terroristas do Hamas, que atuam em Gaza, são “genocídio”. Em razão de suas declarações, Lula foi declarado persona non grata por Israel.
Por outro lado, o governo Lula é amigo de ditaduras e regimes autocráticos, como o Irã, a Rússia, a China e a Venezuela. Sobre o Irã, o governo Lula autorizou, por exemplo, que dois navios de guerra iranianos atracassem no Rio de Janeiro em março de 2023. A medida despertou críticas de países ocidentais, especialmente dos EUA.
Revista Oeste
'O navio de idiotas de Greta em Gaza já foi tarde', por Brendan O’Neill
Essa façanha narcisista resume a falsa virtude e a teatralidade preguiçosa do ativismo moderno
Soldado israelense entrega pão a Greta Thunberg, a bordo do iate Madleen, interceptado ao tentar furar bloqueio naval rumo à Faixa de Gaz | Foto: Israel Foreign Ministry/X/Handout via Reuters
A farsa marítima chegou ao fim. O navio dos narcisistas foi interceptado. Greta Thunberg e seu bando de palhaços hipócritas de kef iyeh foram contidos. Eles não foram para Gaza, mas para a cidade portuária israelense de Ashdod, e acabaram sendo deportados. Dá para imaginar o Mediterrâneo ecoando gritos de “como ousam?!” enquanto Greta e seus fantoches de apóstolo repreendem Israel por frustrar sua missão messiânica de salvar o povo de Gaza do mal.
Não há nada que não seja engraçado no colapso desse ato bobo de salvadora branca de Greta. Gostei especialmente dos clamores juvenis da tripulação vaidosa. “Fomos sequestrados!”, gritou Greta. Não foram. Eles ficaram bem. Chegaram em segurança ao litoral de Israel e ganharam sanduíches. “Isso é um crime de guerra!”, bradou um dos marujos salvadores da pátria quando as forças israelenses embarcaram, num tom que lembra o adolescente Kevin (personagem do filme Precisamos Falar sobre Kelvin) quando seus pais diziam que estava na hora de ir para a cama.
Temos o fato delicioso de que foi Greta que acabou recebendo ajuda. A
foto de um soldado das Forças de Defesa de Israel (IDF) entregando a
ela um sanduíche kosher embrulhado em plástico é igualmente
comovente e hilária. “Achei que Greta fosse levar ajuda humanitária,
não recebê-la”, brincou Eve Barlow. O soldado está totalmente
uniformizado, como convém ao seu papel de guerreiro contra o
exército de antissemitas que atacou Israel em 7 de outubro de 2023.
Greta está usando um chapéu de sapo, como convém ao seu papel de
santa padroeira de garotos ricos, idiotas e falsamente virtuosos do
TikTok.
Depois, temos a trollagem de Israel. O Estado judeu está tirando sarro de Greta, e eu estou adorando. Interceptamos o “iate das selfies” das “celebridades” cujo “único propósito” era “ganhar visibilidade”, declarou o Ministério das Relações Exteriores de Israel. A “pequena quantidade de ajuda levada pelo iate [que] não foi consumida pelas ‘celebridades’ será “transferida para Gaza”, anunciou. Porque, acredite ou não, é possível alimentar as pessoas de uma forma que não “envolva selfies de Instagram”. Uau. Bate menos, Israel. Os lunáticos da internet estavam preocupados com a possibilidade de Israel matar Greta.
“Nada é insano demais para Israel”, incluindo o “assassinato [de] Greta Thunberg”, afirmou o esquerdista de soja convertido em histérico digital Owen Jones. Calma, pessoal. Ela está sendo alvo de memes, não de disparos. “Greta Thunberg está… em segurança e bem”, postou a conta oficial no X do Ministério das Relações Exteriores de Israel. “O show acabou.”
É assim que se estoura a enorme bolha de autoimportância de uma gangue de israelófobos que estão tão embriagados com a própria vaidade moral que realmente acreditam que podem “salvar Gaza”. É maravilhoso ver o fracasso dessa excursão de férias pelo Mediterrâneo disfarçada de cruzada moral.
Nada capturou tão bem a teatralidade preguiçosa e a falsa virtude do ativismo moderno quanto o barco idiota de Greta. Essa suposta flotilha da liberdade não teria feito absolutamente nada para ajudar o povo sofrido de Gaza. Esse nunca foi o objetivo de fato. O navio de idiotas sempre esteve mais interessado em chamar atenção para si mesmo e para o próprio brilho moral do que para as necessidades dos civis de Gaza.
Aliás, enquanto Greta e companhia atravessavam as águas agitadas do Mediterrâneo com sua “quantidade mínima de ajuda”, o malvado de operações, a Fundação Humanitária EUA-Israelense em Gaza distribuiu mais de 10 milhões de refeições aos necessitados. Seria impossível escrever uma sátira como esta: uma dúzia de wokes assustados em um barco gritando “alimentem Gaza!” enquanto Israel faz exatamente isso. Enquanto Greta e seus amigos pretensiosos se gabavam em seu barco para qualquer canal de mídia disposto a dar atenção, Israel fazia o trabalho árduo de alimentar uma população devastada pela guerra. Enquanto eles tiravam selfies com seus kef iyehs choramingando sobre os famintos em Gaza, Israel estava dando comida a esses famintos. Fizeram uma pantomima moral para ganhar curtidas no Instagram; Israel ajudou de fato, sem receber qualquer agradecimento.
Alguém me diga que isso não resume o ativismo do século 21. E me diga que não ilustra de forma brilhante o show de horrores egoísta que é o “esquerdismo” moderno, cujo objetivo é sempre acumular mais virtudes para si mesmo, em vez de melhorar a vida dos outros. Enquanto Greta era fotografada balançando as pernas para fora do casco de seu barco sob um sol glorioso, jovens soldados da IDF arriscavam a vida levando caminhões de alimentos para uma zona de guerra. E você quer aplausos para ela? Esqueça. Para alguns de nós, parece que as pessoas naquele barco estavam mais interessadas em reconstruir a própria marca moral sobre os escombros de uma guerra sangrenta. Isso não é admirável, é doentio.
Mas, mesmo enquanto aplaudimos a interceptação desse navio de idiotas, precisamos ser realistas quanto ao significado disso para os nossos tempos. Essa profusão de kef iyehs no mar e os aplausos das elites da mídia confirmam que sua virtude agora é medida por quanto você odeia Israel. As velhas causas onipresentes da mudança climática e das bobagens de gênero murcharam, e foram substituídas pela nova causa onipresente da raiva contra o Estado judeu. Assim, Greta trocou sua balela infantil sobre bilhões de pessoas perecendo no altar da modernidade para lamentar o “genocídio” de Israel e a ameaça que ele supostamente representa para todos nós. Não é preciso ter feito doutorado sobre a Europa do século 20 para reconhecer quanto é perigoso para os hipócritas do Ocidente se definirem em oposição direta e furiosa à única nação judaica do mundo.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Seu novo livro, After the Pogrom: 7 October, Israel and the Crisis of Civilisation, foi lançado em 2024.
Revista Oeste
'A esquerda volta a atacar', por Branca Nunes
O atentado contra o senador Miguel Uribe Turbay, candidato à Presidência da Colômbia, é a mais recente manifestação de intolerância ideológica contra um político de direita
E m 6 de setembro de 2018, o então deputado federal Jair Bolsonaro, candidato à Presidência da República, foi esfaqueado durante um ato de campanha na cidade mineira de Juiz de Fora. A perfuração do intestino delgado, do fígado e do pulmão causou uma hemorragia interna, seguida de choque hipovolêmico — essa expressão se aplica quando há uma redução significativa do volume sanguíneo, impedindo o coração de bombear sangue suficiente para o funcionamento normal do organismo.
Cerca de cinco anos depois, em Quito, o jornalista Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador, foi assassinado com três tiros na cabeça ao sair de um comício, a 11 dias da eleição. Haveria um número maior de vítimas se uma granada lançada em sua direção tivesse explodido.
Em 13 de julho de 2024, Donald Trump, candidato à Presidência dos Estados Unidos, sofreu um atentado em sua passagem pela Pensilvânia. Tiros disparados por um rifle AR‑15 atingiram sua orelha direita. Houve uma morte, e duas pessoas ficaram gravemente feridas
Neste 7 de junho, foi a vez do senador Miguel Uribe Turbay, candidato à Presidência da Colômbia. Em campanha num bairro de Bogotá, Uribe foi baleado na cabeça e na perna por um atirador de 15 anos. Internado em estado crítico, foi submetido a uma neurocirurgia de emergência e continuava hospitalizado no fim da semana.
Além de alvejarem candidatos à presidência, o que mais têm em comum os quatro casos? Todas as vítimas eram representantes da direita democrática ou enfrentavam adversários ligados à esquerda radical.
Neste século, como ocorreu no anterior, militantes da esquerda evitam com preocupante frequência enfrentar os adversários nas urnas. Preferem o duelo nas ruas — como propôs José Dirceu em 2000, quando o PT tentava impedir a reeleição do governador paulista Mário Covas. Enquanto professores em greve cercavam o inimigo que enfrentava um câncer em estágio avançado, o deputado José Dirceu, presidente do PT, formulava no palanque a palavra de ordem: “Eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas”.
“A polarização levou à desumanização do opositor”, afirma o jornalista Leonardo Coutinho, diretor-executivo do Center for a Secure Free Society, com sede em Washington. “O adversário passa a ser chamado de fascista, genocida, gado, rato. Não há nada mais desumanizador do que transformar o oponente em animal. Isso gera uma instabilidade emocional muito forte e permite que quem ataca acredite estar fazendo o bem ao combater o mal.”
Coutinho ressalta que Trump é apresentado pela imprensa como o maior perigo que ronda a democracia. Propagaram a ideia de que, se eleito, ele daria um golpe de Estado e agiria como um imperador. “Muita gente séria acreditou nisso”, conta. “Alguns recorrem à violência por não suportarem a ideia de serem governados por alguém que veem como o inimigo, o vilão.” Coutinho cita o caso do adolescente Nikita Casap, de 17 anos, que assassinou a própria família em abril deste ano. Ele tentava conseguir dinheiro para matar Donald Trump e provocar uma revolução política nos EUA.
Na América Latina, soma-se outro fator: a confluência de interesses com o crime organizado. No caso de Villavicencio, a organização criminosa Los Lobos assumiu a autoria do atentado. Formada por dissidentes do grupo Los Choneros, Los Lobos tem cerca de 8 mil membros e já ocupa o segundo lugar no ranking das facções mais temidas do Equador.
Segundo reportagem da CNN, a Los Lobos está ligada diretamente à escalada de violência que assola o país. Seus integrantes se valem de massacres em prisões, uso de carros-bomba, ataques à polícia e exibição pública de cadáveres enforcados em pontes. A principal fonte de receita é o transporte de cocaína colombiana pelos portos equatorianos com destino aos Estados Unidos e à Europa
Na Colômbia, a promiscuidade entre a política e o narcotráfico é antiga. Com a ajuda dos EUA, Álvaro Uribe, que presidiu o país entre 2002 e 2010, enfrentou os cartéis com inédita dureza. Depois de uma série de governantes permissivos, Gustavo Petro assumiu o poder em agosto de 2022 como o primeiro militante de esquerda a chegar ao cargo.
Petro foi guerrilheiro do M‑19, grupo nacionalista de extrema esquerda que atuou no país entre 1970enfurnadas na selva, o M-19 agia nas cidades. Depois do atentado a Miguel Uribe Turbay, Petro disse torcer pela sobrevivência da vítima e manifestou sua solidariedade ao agressor. “A vida da vítima — que está em boas mãos e nas quais confiamos — e a vida do assassino, que é um menor de idade, uma criança”, declarou. “As leis e as normas nos obrigam a proteger a criança por ser criança, porque, se não cuidarmos das crianças da pátria, não teremos pátria.”
“A atuação do crime organizado nesses atentados muitas vezes é indireta”, diz Coutinho. “O que existe é uma preferência política por parte das facções. Governos de esquerda tendem a ser menos letais, mais complacentes com criminosos. O de Petro, por exemplo, foi muito bom para esses grupos por ser negligente no combate ao crime organizado. A direita incomoda mais os criminosos. Isso é notório.” e 1990. Diferentemente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que sobreviviam enfurnadas na selva, o M-19 agia nas cidades.
Depois do atentado a Miguel Uribe Turbay, Petro disse torcer pela sobrevivência da vítima e manifestou sua solidariedade ao agressor. “A vida da vítima — que está em boas mãos e nas quais confiamos — e a vida do assassino, que é um menor de idade, uma criança”, declarou. “As leis e as normas nos obrigam a proteger a criança por ser criança, porque, se não cuidarmos das crianças da pátria, não teremos pátria.”
“A atuação do crime organizado nesses atentados muitas vezes é indireta”, diz Coutinho. “O que existe é uma preferência política por parte das facções. Governos de esquerda tendem a ser menos letais, mais complacentes com criminosos. O de Petro, por exemplo, foi muito bom para esses grupos por ser negligente no combate ao crime organizado. A direita incomoda mais os criminosos. Isso é notório.”
O atentado a Miguel Uribe repercutiu mundialmente. Marco Rubio, secretário de Estado dos Estados Unidos, por exemplo, escreveu na rede social X que o ataque foi “resultado da violenta retórica esquerdista vinda dos mais altos níveis do governo colombiano”. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, lembrou a facada em Jair Bolsonaro e classificou o episódio como “um ataque à liberdade, à democracia e àqueles que têm coragem para se posicionar”. Para o senador Flávio Bolsonaro, “a esquerda, onde quer que atue, mostra seu verdadeiro rosto: violento, intolerante e, muitas vezes, assassino”
Branca Nunes - Revista Oeste
'Gatos' de energia custaram R$ 10,3 bi em 2024, revela Aneel
Light e Amazonas lideram perdas, segundo a agência nacional
As perdas não técnicas de energia elétrica, conhecidas como “gatos”, representaram um custo de aproximadamente R$ 10,3 bilhões ao setor elétrico brasileiro em 2024. O valor, revelado em relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), corresponde às fraudes, furtos, desvios e erros de medição e faturamento registrados pelas distribuidoras. As perdas totais no sistema de distribuição atingiram 14,0% da energia injetada no ano. Desse total, 7,4% (44,6 TWh) foram classificadas como técnicas — perdas inevitáveis pela física do transporte e transformação da energia — e 6,6% (40,2 TWh) como não técnicas, ligadas a falhas e irregularidades na medição e no consumo.
O relatório destaca que o custo tarifário das perdas não técnicas reais superou o valor reconhecido nos processos tarifários da Aneel, que foi de R$ 7,1 bilhões. Esse valor representa 2,85% da receita requerida pelas distribuidoras ou 9,22% da chamada Parcela B, que é a parte da tarifa que remunera os serviços da distribuidora e cobre seus custos operacionais. Apenas duas distribuidoras — Light, que atua no Rio de Janeiro, e Amazonas Energia — concentraram 34,1% das perdas não técnicas do país em 2024. No total, as dez maiores distribuidoras com perdas somaram 74,0% do total nacional.
A Aneel observa que esses índices refletem desafios de gestão e as condições socioeconômicas das áreas atendidas.
Energia e tarifa: impactos diretos no bolso do consumidor
A agência classifica as distribuidoras em um ranking de complexidade, com base em fatores como violência, pobreza, desigualdade e infraestrutura, para estabelecer metas regulatórias mais realistas. A CEA (do Amapá), a Equatorial Pará, a Amazonas Energia e a Light aparecem entre as primeiras posições do ranking de maior complexidade.
O consumidor regular paga parte dessas perdas por meio da tarifa de energia. A Aneel, no entanto, aplica mecanismos de incentivo para evitar que ineficiências de gestão sejam integralmente repassadas.
“A regulação por incentivos adotada pela Aneel parte do pressuposto que eventuais negligências ou ineficiências das distribuidoras no combate às perdas não devem ser repassadas às tarifas”, registra o relatório.
As perdas técnicas, por sua vez, custaram R$ 11,2 bilhões em 2024, e as da rede básica (transmissão), cerca de R$ 1,5 bilhão. Esses valores são repassados às tarifas conforme critérios de eficiência técnica definidos pela agência reguladora.
A partir de 2025, a Aneel alterou a base de cálculo das perdas não técnicas, que passou a considerar o mercado medido, em vez do mercado faturado. A medida visa a maior precisão na avaliação e fixação dos porcentuais regulatórios.
Segundo a agência, a mudança também elimina distorções causadas por registros parciais de consumo.
O relatório destaca que “a redução das perdas não técnicas pelas distribuidoras traz benefícios que vão além da redução desse item na tarifa”, ao permitir a incorporação de consumidores irregulares ao mercado regular, a fim de ampliar o rateio dos custos e melhorar a qualidade do fornecimento.
Mateus Conte - Revista Oeste
sexta-feira, 13 de junho de 2025
Augusto Nunes e 'A Ópera do Juiz Doidão'
Gilmar Mendes se junta ao chinês errado e mobiliza gatos de todas as cores para caçar ratos que rejeitam a censura na internet
T er uma voz agradável, usar frases que não ultrapassem duas linhas, facilitar o entendimento do conteúdo com pausas e oscilações no tom, valer-se de um vasto repertório vocabular que proíba a entrada de expressões pedantes, saber a diferença entre veemência e gritaria, dominar os temas de que trata e botar na cabeça que a paciência de qualquer plateia tem limite. Basta seguir essas regras para que um orador aplicado consiga ser aplaudido no fim do discurso escrito. Como no teatro ou no cinema, é só seguir o script. Bem mais complexo é falar de improviso. Essa é uma graça só alcançada por tribunos de nascença. Essa tribo dá a impressão de que faria bonito num discurso previamente escrito antes mesmo de aprender a ler e falar. Gente assim transforma a oratória improvisada numa admirável forma de arte.
Não há um script a seguir. Mas tribunos discursam com tamanho brilho que multidões os acompanham com atenção hipnótica. Com uma torrente de palavras vindas sabe Deus de qual canto do cérebro, vão burilando um roteiro soprado pelas reações de quem ouve e pelo instinto de quem fala. Carlos Lacerda era assim. Governador do antigo Estado da Guanabara, jornalista, deputado federal, adversário feroz do governo de Getúlio Vargas encerrado pelo suicídio, Lacerda foi o maior tribuno da história do Brasil
Hoje reduzido a um viveiro de homens públicos incapazes de tratar com gentileza o idioma nacional, o país dos tempos de Lacerda não era um deserto de oradores. Escritores como José Lins do Rego e Graciliano Ramos costumavam passar tardes inteiras no Congresso, então localizado no Rio de Janeiro, acompanhando os embates verbais travados por parlamentares. Nessas paragens agora presididas por um analfabeto funcional, não havia vagas na Série A formada pela cúpula dos três Poderes para quem tratasse a pontapés a língua portuguesa.
O que houve com o Brasil para que a elite do governo, do Supremo e do Congresso fosse reduzida a um bando sem chances de aprovação num exame organizado pelo Enem? Essa interrogação me aflige desde que testemunhei a performance do ministro Gilmar Mendes em mais uma discurseira no Supremo Tribunal Federal sobre a missão impossível: convencer o país de que, para preservar a democracia, as rede sociais devem ser censuradas — e censuradas pelas empresas que as administram. Como já ouvi dezenas de vezes o decano do Pretório Excelso lendo seus votos repletos de latinórios e citações de juristas alemães, não resisti à tentação de vê-lo em ação num improviso. O que vi foi a Ópera do Juiz Doidão
O ministro Cristiano Zanin dizia que as próprias plataformas devem criar uma empresa privada “para moderação de conteúdo” quando foi aparteado pelo decano: “Eu provoquei um pouco esse tema, eu não me animo muito a tentar definir a natureza dessa entidade”, começou o improviso de Gilmar. Embora não saiba direito o que quer, acha “fundamental” o que não sabe direito o que é. “Acho que é um consenso entre nós de que é preciso uma entidade”, enrolou-se. Fez uma pausa e resolveu fornecer algumas informações sobre o lugar onde pode ser encontrado o que não sabe bem o que é.
Um pouco naquela linha, nós todos somos admiradores do regime chinês, né, do Xi Jinping, né, que diz assim: a cor do gato não importa, o importante é que ele cace o rato”, desandou. “E essa coisa do público e do privado”, derrapou de novo. O presidente Luís Roberto Barroso (que já enxergou “pitadas de psicopatia” em Gilmar) resolveu que o agora amigo precisava de socorro. E esclareceu que o autor da teoria dos gatos e ratos foi Deng Xiaoping, chefe da ditadura chinesa entre 1978 e 1992. Xiaoping achava perda de tempo discutir se o “socialismo com características chinesas” adotava fórmulas capitalistas nas reformas econômicas em andamento. O importante, insistia, era saber se funcionavam
O esclarecimento parece ter perturbado Gilmar: “Se olharmos a crise séria que enfrentamos nos últimos anos e as respostas que conseguimos dar…”, murmurou. “Nós temos que perder o nosso complexo de vira-lata. Temos que dizer: ‘Poxa, conseguimos, sim, conceber mecanismos de defesa adequados para assunção de problemas que eram sérios’.” Em seguida, o decano elogiou o desempenho do Tribunal Superior Eleitoral nos tempos em que foi comandado por Alexandre de Moraes. Mas não custa ver como é o sistema chinês, foi em frente. Muito simples, sabem os que não sofrem de estrabismo malandro. Plataformas como Google, YouTube e Facebook foram banidas do país. E o TikTok opera sob censura e com rigorosa vigilância.
É isso o que Gilmar Mendes quer, mas não consegue confessar com clareza. Enquanto não se decide, alguém precisa sugerir-lhe quatro providências urgentes. Primeira: usar parte do tempão consumido em viagens e congressos no estudo da história da China. Segunda: não errar publicamente o nome de ditadores que lhe servem de exemplo. Terceira: melhorar o português. A quarta é a mais importante: nunca mais falar de improviso
Augusto Nunes - Revista Oeste
'O crime impossível', por Sílvio Navarro
Fase de interrogatórios conduzida por Alexandre de Moraes escancara a falta de provas da trama golpista do 8 de janeiro e confirma que o Supremo trocou definitivamente a lei pela política
N a tarde de terça-feira, 10, naquele que poderia ser um dos momentos cruciais do interrogatório dos réus sobre o tumulto de 8 de janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes deixou escapar a seguinte expressão: “Segundo a narrativa”. Ele questionava o general Walter Braga Netto, que está preso. É um resumo do que restou do processo do golpe de Estado depois desta semana: uma “narrativa”, sem provas, confissões nem nexo.
Esse trecho da fala de Moraes, precedido de um “supostamente” na frase, é um exemplo de como nada foi comprovado na denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, que, aliás, estava completamente perdido no seu papel de promotor da ação penal. Gonet assumiu o cargo quase um ano depois da baderna de janeiro e não acrescentou nada ao relatório cinematográfico da Polícia Federal. Nesta semana, deixou a impressão de que nem sequer leu o material.
O general Braga Netto foi indagado se teria entregado uma sacola de vinhos cheia de dinheiro ao coronel Mauro Cid, que, por sua vez, pagaria os “kids pretos” — militares treinados para operações especiais — para sequestrar e enforcar Moraes, e depois envenenar o presidente Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin. O interrogatório transcorreu assim:
“Essa reunião teria sido, segundo a narrativa desenvolvida na denúncia, teria sido o início do que depois deflagrou o financiamento da operação Punhal Verde Amarelo e Copa 2022. O senhor teve conhecimento?”, perguntou o ministro. O general respondeu: “Eu só ouvi esses nomes quando a mídia publicou”. Resumindo: ninguém nunca viu a sacola, Mauro Cid disse que havia dinheiro, mas não sabia quanto, não há uma única foto.
É evidente que ninguém espera que, em qualquer julgamento, um réu faça confissões nessa fase do processo — se alguém pretende assumir crimes, uma delação é mais vantajosa. Mas o que o país viu nesta semana foram depoimentos de militares, como o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, o almirante Almir Garnier, o general Augusto Heleno e o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, absolutamente serenos diante de uma peça acusatória fabricada com recortes de conversas de WhatsApp.
Esses militares, junto com Jair Bolsonaro, aparecem no “núcleo crucial da organização criminosa”, segundo a denúncia. No entanto, quando Mauro Cid foi interpelado sobre quem nesse núcleo era — e se havia — o responsável por tratar com os manifestantes acampados em frente aos quartéis, a resposta foi devastadora para a PGR: “Nunca houve esse contato”
Contra Almir Garnier, por exemplo, pesa a acusação de que teria “colocado tropas à disposição” do ex-presidente Jair Bolsonaro durante uma reunião no Palácio do Planalto. Esse encontro é tratado como a grande reunião do golpe de Estado — nela, diz a denúncia, foi apresentada a “minuta” da virada de mesa. O almirante derrubou a acusação em uma linha: “Eu nunca usei essa expressão [colocar as tropas à disposição]”. Outra pergunta: E a minuta? “Eu não vi minuta”, respondeu. Nesse ponto, o militar recorreu a um dado concreto: “Quando o senhor fala ‘minuta’, eu penso em papel. Não recebi esse tipo de documento”.
De fato, a única informação sobre a existência dessa minuta surgiu depois de uma operação de busca e apreensão na casa de Anderson Torres. Ele disse que o papel chegou a ele num envelope por acaso. “Na verdade, ministro, não é ‘minuta do golpe’. Eu brinco que é a ‘minuta do Google’ [porque estava disponível na internet]. Eu levava duas pastas para minha residência, uma delas contendo a agenda do dia seguinte, preparação de discurso, e outra com documentos gerais que chegavam ao ministério”, disse. “O documento era muito mal escrito, cheio de erros de português, de concordâncias, até o nome do tribunal estava escrito errado. Então, não é da minha lavra, não sei quem fez, não sei quem mandou fazer e nunca discuti esse tipo de assunto.”
A minuta, aliás, passou a ser chamada pelo termo técnico “considerandos” depois de ter virado piada nas redes sociais. O general Paulo Sérgio Nogueira também foi questionado por Moraes. “Simplesmente, até hoje eu não sei do que se trata esse documento”, disse.
Bolsonaro também negou a existência do documento. “Não escrevi, não alterei, não digitei nada. Não tenho responsabilidade sobre essa minuta”, disse. “Foi abandonada qualquer possibilidade de ação constitucional.”
Bolsonaro O interrogatório de Jair Bolsonaro frustrou grande parte da imprensa que apoia o consórcio de poder STF-PT e os próprios políticos de esquerda. Eles esperavam um embate duro entre o ex-presidente e Moraes, o que não aconteceu. Bolsonaro fez até o que chamou de brincadeira ao sugerir se o ministro queria ser seu vice na chapa de 2026.
Mas quem protagonizou o maior vexame foi novamente o despreparado Paulo Gonet. O procurador citou uma mensagem enviada ao ex-presidente pelo WhatsApp por um major brigadeiro que falava em desmobilizar tropas. Na resposta, porém, Bolsonaro disse que não tinha mais contatos no seu celular desde que saiu do país, na virada de 2023. Mas estranhou o nome do militar Mauricio Pazini Brandão. Então, lembrou o procurador-geral da República de que sua equipe não fez o dever de casa: o militar estava aposentado, é professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e, portanto, não poderia dar ordens a nenhum pelotão por razões óbvias. A reação de Gonet é constrangedora.
A única negativa entre Moraes e Bolsonaro ocorreu quando o togado vetou a exibição de vídeos pela defesa do ex-presidente, que mostrariam, entre outros, políticos como Flávio Dino questionando o modelo eleitoral brasileiro. Talvez tenha sido um raro tema em que Moraes, claramente, demonstrou desconforto: falas sobre o sistema eleitoral — de fato, virou um tema proibido.
Num interrogatório no qual as frases mais utilizadas foram “não sei”, “não vi”, “não lembro” e “se não me engano”, especialmente ditas por Mauro Cid (leia artigo de J.R. Guzzo nesta edição), quem parecia solitário em busca de respostas no STF era o ministro Luiz Fux.
Semanas antes, o magistrado havia pedido para acompanhar presencialmente essa fase da instrução criminal porque estranhou o fato de o delator ter prestado 11 depoimentos à Polícia Federal — nove foram utilizados —, e todo o processo permanecer ancorado somente no que foi dito por ele. Único juiz genuinamente de carreira na Corte, Fux queria desempenhar o papel que ninguém cumpriu: fazer aos réus as perguntas que realmente importam.
Foi Luiz Fux quem questionou, por exemplo, se a “minuta do golpe” tinha sido assinada por alguém — principalmente por Jair Bolsonaro. O ministro também indagou Cid sobre quem havia gravado a conversa na qual ele conta ter sido coagido pela Polícia Federal, segundo a revista Veja publicou; ou, ainda, quantas vezes ele foi chamado para ajustar trechos de sua delação na PF, se uma ou 11. Ficou claro o cuidado do ministro, que a Procuradoria-Geral da República não teve, se a cada novo depoimento de Cid a história era moldada.
Um detalhe importante: o delator foi preso numa investigação sobre fraude de carteirinha de vacinação contra a covid-19, que deixou de ser assunto porque o alvo sempre foi o seu celular — e o que ele poderia ajudar num mosaico do golpe de Estado.
Bolsonaro se pronunciou nas redes sociais depois da rodada de interrogatórios. Disse que a etapa serviu para colocar um ponto final em duas “narrativas absurdas”: a primeira é a minuta do golpe; a segunda é a prisão do ex-assessor Filipe Martins, que cuidava de relações internacionais. “Ele passou mais de seis meses preso [segue com tornozeleira] em um presídio junto com criminosos comuns, acusado injustamente de ter embarcado comigo em um voo presidencial. Durante todo esse tempo, nem a Polícia Federal nem a Procuradoria me perguntaram se ele estava nesse voo, pois sabiam que a resposta seria negativa e que a prisão se baseava numa falsidade”, afirmou.
O governo americano abriu uma investigação para saber quem fraudou o registro de entrada de Martins no país, já que ele não embarcou no voo, o que ainda pode acarretar consequências graves se comprovado.
“Até quando vão continuar com essas injustiças? Até quando vão sustentar essas mentiras? Essas narrativas foram fabricadas para sustentar acusações sem provas, sem fatos e sem qualquer vínculo com a realidade”, disse.
Bolsonaro está certo. O que restou dessa fase do processo é o retrato de um tribunal sem a presença de juízes de verdade — Fux tenta ser a exceção —, com um procurador que parece ter entrado na sala errada, e um delator que não se lembra de nada. Infelizmente, todos eles estão decidindo o futuro de muita gente, a maioria anônima, acusada de um crime impossível
Sílvio Navarro - Reviata Oeste
'Morre um golpe', por J.R. Guzzo
O coronel Mauro Cid negou, em todas as perguntas que lhe foram feitas, que tenha havido tentativa de golpe e que Bolsonaro tenha participado de algo que não aconteceu. Quanto às minutas, a única coisa que se provou é que elas não existem
O “golpe” do dia 8 de janeiro de 2023, que há dois anos é a causa mais sagrada do consórcio Lula-STF, acabou. Tendo acabado o golpe, acabou também, por óbvio, a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro como o seu grande inspirador, organizador e beneficiário. Na verdade, não se pode dizer que acabou, pois no mundo das realidades nem uma coisa nem a outra jamais chegaram a começar. Foi ouvida em juízo, enfim, a testemunha-estrela da acusação, o célebre coronel Mauro Cid, e invocada a sua única prova material, as também célebres “minutas do golpe”.
O coronel negou, em todas as perguntas que lhe foram feitas, que tenha havido tentativa de golpe e que Bolsonaro tenha participado de algo que não aconteceu. Quanto às minutas, a única coisa que se provou é que elas não existem. Naturalmente, no Brasil de hoje, a existência ou não de provas é o que menos importa. O STF quer condenar alguém? Então o sujeito já está com a sentença passada, seja lá o que tenha feito, o que mostram os fatos e o que determina a lei.
O Supremo decidiu que o quebra-quebra de 8 de janeiro foi um “golpe armado”, sendo as armas um par de estilingues e um tubo de batom. Decidiu que Bolsonaro e mais uns tantos são os culpados. Violou até hoje todas as leis penais que lhe passaram pela frente para manter de pé as suas teorias. Pode muito bem, agora, decretar que há provas onde não há prova nenhuma. (A mídia, por exemplo, vai engolir qualquer coisa que o STF diga.) Os ministros terão, porém, de assumir perante o mundo que estão condenando os acusados sem ter uma única prova que possa ser levada a sério num tribunal civilizado.
É o que mostram os fatos. Cid respondeu “não” a cada uma das questões feitas sobre os dois temas-chaves do interrogatório. Houve o planejamento, ou a tentativa, ou pelo menos a discussão de um golpe de Estado com Bolsonaro? Houve alguma ordem para que alguém tomasse alguma providência prática para dar um golpe de Estado? Em todas as vezes em que não disse “não” ao que Alexandre de Moraes — ao mesmo tempo polícia, promotor e juiz do processo — esperava ouvir, o coronel Cid afirmou que não sabia, não se lembrava ou não tinha certeza sobre o que estavam lhe perguntando. Que raio de testemunha-chave é essa? Em tudo o que respondeu ele foi, na verdade, uma testemunha de defesa.
A casa da acusação começou a cair já numa pergunta que nem sequer foi feita por um dos advogados de defesa, e sim pelo ministro Luiz Fux: “Em relação a minutas de estado de defesa, estado de sítio etc.: esse documento foi assinado?” Resposta de Cid: “Não, não foi”. A partir daí, com as perguntas dos advogados dos réus, deu-se uma calamidade em câmera lenta para o consórcio e para a PGR. Não, disse o coronel, Bolsonaro não participou de uma suposta reunião com “empresários” que queriam dar o golpe. Não, não houve grupos organizados pedindo o golpe ao ex-presidente; as pessoas apenas faziam visitas a ele, cada um dando suas ideias. Não, Bolsonaro não quis botar o Exército na rua, pois dizia que o governo Lula ia cair por si próprio, “de podre”.
Bolsonaro conversou com os chefes das Forças Armadas sobre anotações, que Cid não sabe quem escreveu, sobre a possibilidade de invocar o artigo 142 da Constituição Federal e pedir autorização do Congresso para adoção de um estado de emergência ou de sítio. Foi tomada alguma providência para fazer isso? Não, disse Cid. Bolsonaro, afirmou ele no depoimento, não quis, nem autorizou, fazer o que se cogitava nesse documento — as tais “minutas do golpe” que seriam a prova dinamite da acusação.
O papel em discussão falava em “novas eleições” e na prisão de uma porção de gente, segundo o coronel; mas, no fim das conversas, Bolsonaro, que segundo Cid já tinha sugerido que as prisões se limitassem a Alexandre de Moraes, resolveu não fazer nada — nem pedir o estado de sítio, nem anular eleição e nem prender ninguém. O presidente teve alguma informação prévia sobre movimentações golpistas? Não, disse Cid. Ele teve algum contato com o que a polícia chama de “núcleo crucial”, um grupo que faria a ligação entre os acampamentos então formados diante dos quartéis e autoridades do governo? Não, não teve, disse o coronel. Ele incentivou uma suposta greve de caminhoneiros contra o resultado da eleição?
Não, disse Cid; ao contrário, Bolsonaro afirmou que isso só iria tumultuar a economia e pediu a suspensão dos movimentos. O que foi discutido numa conversa na casa do general Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro e preso há seis meses nos cárceres do STF? Não me recordo, disse a testemunha-bomba da PGR. No que deram as conversas entre Bolsonaro e os interlocutores que lhe pediam para “agir”, tanto os “moderados” quanto os “radicais”? Não deram em nada, disse Cid. Depois de um tempo, o presidente pediu a todos que parassem de fazer pressão para ele assinar medidas de exceção, e informou que “as coisas deviam ficar como estavam”. Enfim, segundo a minutagem feita pelo advogado Jeffrey Chiquini, em 2 horas e 27 minutos do seu depoimento, Cid disse “não sei” 982 vezes.
Moraes esperava uma bomba, mas recebeu silêncio: Mauro Cid negou envolvimento de Bolsonaro, rejeitou a narrativa do golpe e respondeu “não sei” 982 vezes durante seu depoimento, que durou 2h27 | Foto: Valter Campanato/Agência BrasilE olhem que o coronel foi ameaçado pessoalmente de prisão por Moraes, em vídeo gravado, se não “ajustasse” as suas declarações ao que queriam que dissesse — ele, o pai, a mulher e a filha. Qual tribunal do planeta, com juízes de verdade e interessados apenas em provas, condenaria alguém, e ainda mais um ex-presidente da República, com base em uma testemunha como essa? Com a prova mortal da PGR, a “minuta do golpe”, a coisa é tão ruim quanto. O centro do problema é que, após dois anos e meio de maciça investigação, a “minuta do golpe”, em carne e osso, não apareceu até agora. Deve ser um caso único na história do Direito Penal.
É um documento que o ministro Moraes e a acusação usam o tempo todo como a peça fundamental da denúncia contra os réus — ao mesmo tempo, é um documento que não existe. Não está anexado aos autos. Não se sabe seu conteúdo exato, porque não há nenhuma transcrição disponível. Ninguém viu, com seus próprios olhos, a minuta Xandão-PGR-PF. Nem o coronel Cid, nem ele, pode confirmar que a minuta existe. Tudo o que sabe a respeito é que recebeu pelo celular uma mensagem, que ele não sabe quem escreveu, e que não é assinada por ninguém, falando de artigo 142, estado de sítio e outras hipóteses de anular a eleição de 2022.
Todo o resto da acusação está amarrado com barbante, como fica demonstrado a cada cinco minutos pelos advogados de defesa. Os réus estão sendo julgados por uma “turma” de cinco ministros, e não pelos 11 do plenário. Um deles é Alexandre de Moraes. Outro, Flávio Dino, já disse em público que Bolsonaro é o “demônio”. O terceiro é Cristiano Zanin, que até outro dia era advogado pessoal de Lula. Há uma mortaviva, a ministra Cármen Lúcia, cuja última ideia conhecida foi defender a adoção de uma censura ilegal, mas provisória — que continua ilegal, e hoje virou permanente. Sobra o ministro Fux. Ou seja: são quatro dizendo em público que Bolsonaro já está condenado, contra um. Nem Átila, o Huno, seria capaz de dizer que um júri desses é imparcial.
Como nas histórias de assombração em que nada melhora com o decorrer da narrativa, sobretudo quando o relógio está batendo meianoite, os Processos de Brasília só têm o lado ruim. Os depoimentos dos comandantes das Foças Armadas do tempo de Bolsonaro foram uma tristeza para Moraes e a PGR. O do Exército disse que Bolsonaro nunca lhe pediu golpe nenhum. O brigadeiro da FAB, hoje transformada em táxi-aéreo de Janja, de ladras peruanas e de mais do mesmo, ficou ciscando e só deixou claro, mesmo, que estava ali para defender a si próprio.
Enfim, o almirante da Marinha, dado pela PF e pela mídia como a grande alma negra do golpe, disse que não organizou nem concordou com golpe nenhum — mesmo porque a Marinha nacional, como atestou em juízo o ex-ministro Aldo Rebelo, não tem meios para dar um golpe nem no Iate Clube de Santos. O ministro Moraes, para completar, se conduz como um carcereiro. Ameaça os advogados e as testemunhas, inclusive com prisão, fica abertamente irritado quando os depoentes não dão as respostas que ele quer, pressiona todo mundo e chamou o STF de “meu tribunal”.
A condenação anunciada de Bolsonaro e dos demais réus, conforme se vê a olho nu nos Processos de Brasília, é uma exibição de terrorismo político como o que se pratica no Judiciário das piores ditaduras. O golpe armado, hoje, se reduz ao que insistem em dizer os jornalistas, os artistas da Lei Rouanet e a esquerda em geral; nos autos, que é bom, não há nada. Não é um julgamento. É um acerto de contas num país em que a força aboliu a lei.
J.R. Guzzo - Revista Oeste