Marco Rubio, Donald Trump e Kash Patel | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Wikimedia Commons
“Como você verá neste livro, abusar do sigilo de Justiça é uma tática comum que os gângsteres do governo usam para encobrir os seus rastros e varrer a própria corrupção para baixo do tapete.” (Kash Patel, Government Gangsters: The Deep State, the Truth, and the Battle for Our Democracy).
Há alguns dias, segundo informou a blogueira petista Monica Bergamo na Folha de S.Paulo, ministros do STF teriam feito piada com a possibilidade de terem seus vistos americanos cancelados a partir do ano que vem, quando Donald Trump voltará à Casa Branca para o seu segundo mandato. Antes de uma sessão no plenário da Corte, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Kassio Nunes (este último sempre ansioso por se enturmar) brincaram de adivinhar qual deles seria o primeiro impedido de entrar nos EUA. Fica claro que, através de uma de suas garotas de recados na imprensa, os magistrados quiseram transmitir uma imagem de tranquilidade diante da radical mudança de cenário político no país mais poderoso do mundo. Mas a própria afetação de serenidade olímpica parece trair uma inquietação maldisfarçada. Como se diz por aí: os caras sentiram. E sentiram muito.
Com efeito, a despeito dos recadinhos midiáticos e do deboche encenado, todos ali sabem que o ambiente internacional até então favorável mudou sensivelmente, e que o novo presidente americano está prometendo atacar justamente um dos alicerces do assim chamado Complexo Industrial da Censura, o poder que, até aqui, vinha chancelando as medidas de exceção adotadas pelo STF e pelo TSE contra conservadores e liberais no Brasil.
Depois de sua vitória avassaladora, que alguns analistas têm considerado como literalmente um mandato popular para impor uma agenda radical de mudança, Trump tem proposto uma série de medidas para desmantelar o deep state americano (há muito instrumentalizado pelo Partido Democrata para persegui-lo e a seus apoiadores) e assegurar a liberdade de expressão no país. Além disso, a vitória de congressistas republicanos comprometidos com o combate à censura estatal (inclusive no Brasil, por causa dos ataques ao X e às outras empresas de Elon Musk) e as notícias sobre a montagem da equipe para o futuro governo não são nada tranquilizadoras para agentes públicos brasileiros envolvidos com censura, lawfare e perseguição política.
O nome cotado para o cargo de secretário de Estado, por exemplo, tem sido o de ninguém menos que o senador Marco Rubio. Comentando sobre a indicação, a deputada reeleita María Elvira Salazar — famosa por ter exibido uma foto de Alexandre de Moraes numa sessão no Congresso americano — postou em seu perfil oficial no X: “Incrível a escolha de Marco Rubio para secretário de Estado. Péssimo dia para ser ditador na América Latina”.
Em setembro deste ano, Rubio foi um dos signatários de uma carta endereçada ao então secretário de Estado Antony Blinken, na qual congressistas exigiam que se investigasse a participação do governo americano no fomento da censura no Brasil. A carta era mais uma ação numa série de medidas afins, como o projeto de lei apresentado por Salazar e intitulado “No Censors on our Shores” (“Sem censores nas nossas costas”) — cujo objetivo é garantir que qualquer ato de censura realizado por funcionários públicos estrangeiros contra cidadãos americanos seja punido com a proibição de entrada no país ou, caso o funcionário esteja em solo norte-americano, com a deportação — e uma carta anterior também endereçada a Blinken, na qual os congressistas solicitavam a revogação dos vistos de todos os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com destaque para Alexandre de Moraes, descrito no documento como “ditador totalitário”.
No contexto dessas iniciativas — lideradas por congressistas que foram todos reeleitos na esteira do triunfo de Trump —, Rubio já havia se manifestado sobre Moraes. No dia 4 de setembro, referindo-se ao fechamento do X, Rubio acusou Moraes de realizar uma “manobra para minar as liberdades básicas” no Brasil. Disse o então senador: “Desde multar indivíduos e entidades privadas que buscam informações sobre o X até impor censura legal, o povo brasileiro está enfrentando sérias repressões, por simplesmente se envolver numa plataforma de rede social. Em nome das liberdades básicas e do nosso relacionamento bilateral, o Brasil deve retificar esse movimento autoritário”.
Pois é justamente o sujeito com essa opinião sobre a situação brasileira o mais novo secretário de Estado dos EUA.
Donald Trump e Marco Rubio (R-FL), durante evento de campanha na Dorton Arena, em Raleigh, na Carolina do Norte, EUA (4/11/2024) | Foto: Jonathan Drake/Reuters
Também geram expectativas as indicações de Trump para os setores de Defesa e Inteligência. Um dos nomes especulados é o de Kash Patel, ex-assessor de Defesa no primeiro mandato de Trump, e um dos principais responsáveis por revelar a trama do alegado “conluio russo”.
Em 2019, Trump havia tentado indicá-lo para o cargo de diretor da CIA, mas foi demovido da decisão por pressão de altos funcionários da comunidade de inteligência e de seu então vicepresidente Mike Pence, um Republicano bastante enfurnado no establishment político americano. Desde então, Patel tem sido um dos principais estudiosos e denunciadores do deep state, o poder burocrata não eleito que, aparelhado pelos Democratas, atuou intensamente para boicotar e prejudicar Donald Trump em seu primeiro governo.
Em 2023, Patel publicou o livro Government Gangsters: The Deep State, the Truth, and the Battle for Our Democracy, que, em sua rede social Truth Social, Trump descreveu como “o mapa para desmantelar o reinado do deep state”. Após a histórica reeleição de Trump na semana passada, especulações da mídia passaram a dar conta de que Patel ganhou força para assumir um cargo importante na administração republicana. Inicialmente, seu nome era cogitado para comandar a CIA, mas Trump acabou escolhendo John Ratcliffe, seu ex-diretor de Inteligência Nacional.
Todavia, seja como procurador-geral, diretor do FBI (substituindo Christopher Wray, que Trump prometeu demitir), seja em algum outro cargo, Patel decerto terá um papel relevante no plano trumpista de “drenar o pântano” do Estado profundo.
“O presidente Trump chamou meu livro de roteiro para 2024, então vamos colocá-lo em prática”, disse Patel em um podcast na semana passada. Eis mais uma notícia preocupante para os agentes de censura no Brasil, uma vez que, já o sabemos bem, o deep state americano tem servido de costas quentes para os nossos censores importarem e executarem as ferramentas do complexo da censura no Brasil. Em suma: o contexto americano certamente já não parece ser o mais propício para que os liberticidas tupiniquins sigam com suas piadinhas…
Revista Oeste