sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Guilherme Fiuza - 'A mágica falhou'

 

Kamala Harris embarca no Força Aérea Dois, a caminho de Milwaukee, no Aeroporto Internacional do Condado de Oakland, em Waterford Township (21/10/2024) | Foto: Jacquelyn Martin/Reuters


— Calma, tá cedo ainda.

 — Você acha que dá pra virar? 

— Claro. A mágica tá com a gente. 

\— Tá demorando a fazer efeito dessa vez.

 — Deixa de ser ansioso. Eles vão dar um jeito. 

— Enquanto isso o que a gente faz? 

— Vamos continuar noticiando o cenário indefinido e a força da alegria contra o ódio. 

— Ok. Que tal dizermos que a Marina Silva está cotada para ser a autoridade climática da Casa Branca? 

— Acho muito. Vamos por uma linha mais conservadora. 

— Vou ver então o que o De Niro tá falando e botamos uma frase forte no ar. 

— De Niro tá calado. 

— Caramba, aí fica difícil. E a Beyoncé? 

— É “Beyônce”, que fala. 

— Ah, tipo “Kâmala”?

 — Exatamente.

 — Tá. Onde é o showmício da Beyônce? Vamos dar uma alegrada nessa cobertura. 

— Não tem showmício. Tá toTá todo mundo quieto. 15/11/2024, 20:20 A mágica falhou 

 — Putz… O que houve com essa gente bonita? Bom, escolhe aí um Estado importante onde a apuração esteja mostrando uma tendência pro nosso lado. Vamos passar um clima de esperança. 

— Não tem. 

— Não tem o quê?! 

— Nenhum Estado importante tá com uma tendência clara pro nosso lado. 

— Porra, não é possível. Cadê a mágica? 

— Sei lá. 

— Cadê os mortos? 

— Acho que estão desanimados dessa vez. 

— Aí não dá! Nem com os mortos a gente pode contar mais? 

— É, acho que faltou um discurso mais inclusivo. 

— E as cédulas noturnas pelo correio? E o eleitorado sem identidade? 

— Pois é, nada tá sendo suficiente. 

— Mas ainda falta chegar os votos do Nordeste. 

— Nos EUA não tem Nordeste 

— Claro que tem. Todo país tem Nordeste. 

— Bom, não adianta especular. Vamos fazer a nossa parte. Bota aí um especialista no ar dizendo que a eleição tá pau a pau, como indicavam as pesquisas. 

— Não vai dar. 15/11/2024, 20:20 A mágica falhou 

— Por quê? 

— Já era. 

— Como “já era”?! 

— Game over. Fim de papo. 

— Perdemos? 

— Perdemos. E agora? O que a gente bota no ar? 

— Bota um especialista dizendo que o povo não sabe votar e que houve conluio com a Rússia. 

— Mas é pra dizer que a culpa foi do povo ou da Rússia? 

— Sei lá, querido. Resolve aí. Joga uma moeda pro alto. 

— Tá. Tem que ser de dólar ou pode ser de real?


Guilherme Fiuza, Gazeta do Povo