sexta-feira, 4 de outubro de 2024

'O cálice eleitoral', por Guilherme Fiuza

Revista Oeste


C depois de domingo. Quer dizer: era. Hoje o mundo mudou, a humanidade foi recivilizada e a segunda-feira pode demorar um pouco mais a chegar. Mas um dia chega. Deixa de ser ansioso. Cala a boca já morreu. Se ressuscitou, não é problema meu. Bico calado só até resolver o X da questão. Onde está o X da questão? Ninguém sabe. 

Talvez depois da eleição. 

Bico calado faz bem pra democracia, dizem os intelectuais abaixoassinados. Como diria o filósofo de rapina: se tem mordaça eu assino embaixo — e fico por cima. Chega de falatório. Os cidadões e cidadoas estavam falando demais nos meus ouvidos sensíveis. Que delícia de silêncio! Foto: Shutterstock Foi uma delícia em Nova York. 

O Lula, a Janja e a Nanda combatendo a ditadura do século passado e curtindo a censura do presente. Censura, não: combate à desinformação! Quem inventou esse truque é gênio. Que delícia de truque. Vou até conjugar:

Eu desinformo Tu desinformas… Não, corrigindo: Eu não desinformo Tu desinformas Ele desinforma Nós não desinformamos Vós desinformais Eles desinformam

Cala a boca já morreu, mas passa bem. Cala a boca é o nosso lema, o nosso totem, a nossa peça de resistência democrática. Cala a boca é a defesa da nossa soberania! Cala a boca une os jornalistas O cálice eleitoral  Cala a boca é um sucesso na MPB, na OAB e na PQP — Pessoas Que Pensam (atenção para a ressignificação da sigla). Eleição sem cala a boca é golpe! Respeitem as leis do nosso país, que não é quintal de bilionário mimado. 

O X é da Xuxa e gringo nenhum põe a mão. E o Brasil é nosso. Os brasileiros que paguem seu aluguel direitinho — ou procurem um lugar pra eles. 


Guilherme Fiuza, Revista Oeste