Michelle Bolsonaro aposta em união de mulheres conservadoras para contrapor domínio da esquerda.| Foto: Leonardo Pepi/PL-PR
Desde que assumiu a presidência do PL Mulher, em março de 2023, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) intensificou sua presença em campanhas partidárias, contribuindo para um aumento de 14,8% na filiação feminina ao Partido Liberal, que passou de 345.797 filiadas em março de 2023 para 397.060 em julho de 2024, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
As atividades partidárias de Michelle devem se intensificar no período que antecede as eleições municipais deste ano. Seja em convenções ou eventos partidários, a presença da ex-primeira-dama é sinônimo de espaços lotados. Ainda no primeiro semestre de 2024, ela percorreu ao menos 11 estados para promover o partido, visitando inclusive redutos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Nordeste e no Norte.
Além da atuação no PL Mulher, Michelle é protagonista do Movimento de Mulheres Conservadoras, em parceria com a senadora e ex-ministra Damares Alves (Republicanos). O movimento, que já ocorre em outros países, visa unir e capacitar mulheres conservadoras em torno de causas como a defesa da vida, da família e da liberdade.
Com essa iniciativa, elas dizem que buscam não apenas aumentar a presença feminina no partido, mas também desafiar a narrativa, tradicionalmente associada à esquerda, de que a representatividade feminina na política depende de cotas.
Em discursos recentes, Michelle destacou a importância de candidaturas que transcendem as cotas, enfatizando o protagonismo e o propósito das mulheres no cenário político.
Eventos do PL Mulher em 2024 já levaram Michelle Bolsonaro para 11 estados
De março a julho deste ano, Michelle Bolsonaro visitou 11 estados em eventos promovidos pelo PL Mulher. Os encontros na Bahia, no Acre, no Amapá, em Alagoas, em Sergipe, no Maranhão, no Piauí, no Amazonas, em Roraima, no Tocantins e em São Paulo reuniram milhares de mulheres.
Nos eventos, Michelle teve como objetivo concluir a estruturação dos diretórios estaduais e municipais do partido, iniciada em 2023. Ao encerrar a passagem por todos os estados, a ex-primeira-dama compartilhou um mapa do Brasil todo em rosa.
“A semente foi plantada em todos os estados. Agora, é o momento de cultivarmos essa semente com dedicação e perseverança, para que ela cresça e floresça, trazendo um novo momento de participação feminina na política partidária”, escreveu ela na publicação.
PL filiou mais mulheres do que o PT
A filiação de mulheres ao PL teve um aumento de 14,8% desde que a ex-primeira-dama assumiu a presidência do PL Mulher em março de 2023 – ou seja, 51.263 novas filiadas até 19 de julho, segundo dados do TSE.
No mesmo período, o Partido dos Trabalhadores (PT), antagonista ao PL, registrou um aumento de 3% na filiação de mulheres, equivalente a 23.528 novos cadastros de mulheres na legenda de Lula.
Contudo, o total de filiadas no PT continua sendo bem maior do que no PL: atualmente são 772.776, de um total de 1,65 milhão de filiados. O PL, por sua vez, possui 397.060 mulheres com ficha no partido, de um total de 899.201 filiados.
O PL atribui o crescimento principalmente ao papel de Michelle e espera também um aumento de candidaturas femininas conservadoras nas eleições municipais.
Dados gerais do TSE apontam que o número de candidatas e eleitas vem crescendo. Enquanto nas eleições municipais de 2016 32% das candidaturas foram de mulheres, em 2020 esse percentual chegou a 34%. O número de mulheres eleitas como prefeitas e vereadoras aumentou de 16% para 18%.
Isso reforça que a estratégia de Michelle e do PL vem em boa hora, segundo a estrategista em comunicação política Tuliana Rosa.
“Além do aumento no número de candidaturas femininas, destaca-se também o crescimento da eleição de mulheres, tanto nas eleições de 2020 quanto nas de 2022. Embora tímido, esse crescimento também é refletido nas composições majoritárias, onde os partidos têm preferido incluir mulheres em uma das vagas para o Executivo, visando maior viabilidade”, avalia.
Michelle diz que apoia mulheres na política por propósito e não por cotas
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Em seus discursos, Michelle tem reforçado o propósito das mulheres na política, em resposta à política de cotas defendida pela esquerda para ampliar a participação feminina.
Em discurso feito no Amapá, em abril, a ex-primeira-dama disse que não quer mulheres na política “apenas por cotas”, mas quer o envolvimento daquelas com “causa” e “propósito”. Ela disse ainda que as vagas femininas devem ser conquistadas a partir do seu “protagonismo”.
“Nós queremos mulheres de bem na política. Não queremos mulheres apenas por cotas, nós queremos as mulheres pelo seu protagonismo. Nós queremos mulheres com propósitos, nós queremos mulheres com causas”, declarou.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também tem enfatizado o papel das mulheres no partido. “No PL, mulher não é pauta de inclusão, ela é uma agente da mudança”, disse o dirigente em publicação nas redes sociais.
Para a coluna Entrelinhas, da Gazeta do Povo, uma das pré-candidatas a vereadora de São Paulo, Zoe Martinez, disse que o PL não se limita a cumprir cotas, mas promove uma verdadeira “formação de mulheres, para que se interessem cada vez mais pela política”.
Estratégia com mulheres de direita no Brasil é reflexo da política mundial
Não é só no Brasil que partidos de direita vem buscando estratégias para se aproximar do eleitorado feminino. A tendência é que esse movimento se espalhe ainda mais e cumpra, em especial, o papel de suavizar a imagem de partidos até então dominados por homens.
“Há, de fato, uma estratégia. Os partidos de esquerda tiveram essa participação das mulheres muito mais presente durante muitos anos. De um tempo para cá, em especial a partir do momento em que Giorgia Meloni assumiu o cargo de primeira-ministra da Itália com o slogan ‘eu sou uma mulher, eu sou uma mãe, eu sou uma cristã’ e deu certo, ela criou um novo paradigma. A partir de então os partidos conservadores começaram a correr atrás e eles estão se estruturando muito bem”, afirmou Cila Schulman, que é CEO do Ideia Instituto de Pesquisa e do Wlab, iniciativa que pesquisa mulheres na política e no consumo.
Além da Itália, Cila citou o exemplo da francesa Marine Le Pen, que tem buscado suavizar a imagem de seu partido, o Reagrupamento Nacional (RN). A analista política lembra ainda que as mulheres representam 40% do eleitorado mundial.
No Brasil, onde mais de 52% do eleitorado é de mulheres, não poderia ser diferente. Na disputa contra Lula em 2022, pesquisas de intenção de voto indicavam uma maior resistência do público feminino a Bolsonaro. O PL tenta quebrar essa tendência por meio da imagem da ex-primeira-dama.
Com a tendência de o marido seguir inelegível, a estratégia em torno de Michelle Bolsonaro também pode servir como base para a sua própria campanha em 2026, embora seja apenas uma hipótese.
Na avaliação da consultora e analista política da BMJ Associados, Raquel Alves, a articulação das mulheres conservadoras não pode ser considerada uma “onda”. Para ela, trata-se de um reposicionamento que a direita vem buscando.
“Essa não é uma estratégia apenas para 2024 ou 2026. É uma estratégia de longo prazo”, disse Raquel.
Michelle e Damares apostam em estratégia de longo prazo
Ao anunciar o lançamento do Movimento Mulheres Conservadoras, nas últimas semanas, Michelle Bolsonaro tem reforçado a estratégia. “Nosso objetivo é unir mulheres conservadoras e formar o maior movimento conservador feminino no Brasil“, diz a frase estampada na página do movimento.
Com foco em campanhas temáticas, o projeto pretende reunir argumentos técnicos e científicos para municiar as mulheres que defendem os ideais conservadores.
Ao lado de Damares Alves, Michelle é a embaixadora do movimento que foi gestado por cerca de um ano e deve ter abrangência internacional, reunindo mulheres parlamentares da América Latina.
O objetivo do movimento, de acordo com a idealizadora, Viviane Petinelli, é “unir mulheres de bem, que defendem a vida desde a concepção, a família, a proteção da infância, a liberdade, um Estado mínimo e não interventor, a igualdade de oportunidades para todos, dentre outras bandeiras conservadoras”.
O lançamento do projeto estava marcado para 12 de agosto, mas acabou sendo adiado, sem uma nova data anunciada. De acordo com Viviane, o grupo busca fomentar a disputa de espaços de poder pelas mulheres conservadoras. “As eleições municipais influenciam também as próximas eleições gerais”, lembrou.
O objetivo é reforçado pela senadora Damares Alves. "Uma ampla aliança terá que ser construída para unificar a direita nas eleições de 2026”, avaliou a senadora em entrevista para a coluna Entrelinhas, da Gazeta do Povo. Ela destaca a importância de nomes femininos não apenas na Câmara e no Senado, mas também na presidência da República ou na vice.
Na avaliação de Tuliana Rosa, estrategista em comunicação política, a articulação em torno do Movimento Mulheres Conservadoras deve fortalecer a estratégia de fomentar a presença feminina nos partidos de direita.
“Esses movimentos podem fornecer suporte, visibilidade e recursos para as mulheres que desejam se
Aline Rechmann, Gazeta do Povo