domingo, 24 de março de 2024

Paulo Polzonoff Jr.: 'São Longuinho, São Longuinho, se eu achar os móveis do Alvorada dou três pulinhos'

 

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil


Caro, querido e estimado leitor,

Hoje a carta vai ser bem curta. É o que eu digo para mim mesmo toda vez que me sento para escrever esta hebdomissiva. Até que, algumas horas mais tarde, fico andando de um lado para o outro, indeciso entre cortar palavras, frases e parágrafos inteiros, e me alongar indefinidamente, como uma conversa agradável que atravessa a noite para ver o dia nascer. Mas prometo que vou me esforçar.

O pior é que hoje recebi essa incumbência de falar, nem que seja por alto, sobre O Caso dos Móveis Perdidos do Alvorada. Ou seria O Caso dos Móveis Reencontrados do Alvorada? Então, como fiz referência à “conversa agradável” ali em cima, imagino os convidados (todos vocês) entretidos em cem mil conversas paralelas. Como nos filmes, ergo a taça de cristal e dou três batidinhas para chamar a atenção. Vou falar dos [bocejo] móveis.

Todo mundo se vira para mim. Mas só consigo dizer “E o caso dos móveis do Alvorada, hein? Que palhaçada!”. Afinal, isto aqui é uma conversa e não uma análise desse episódio que é só mais um exemplo da mentira e da hipocrisia em que se baseia o método petista de governar. De ver a vida. De quantos outros episódios parecidos precisaremos até...?

Agora vou deixar o caso dos móveis de lado um pouquinho. Mas é só um pouquinho mesmo. Coisa de dois parágrafos. Se tanto. Depois volto para dar o arremate. Antes, porém, quero responder a duas perguntas que eu mesmo me fiz nesta semana. A primeira delas: “Paulo, quantas pessoas você acha que darão ao seu texto a atenção que você acha que ele merece?”.

Perguntinha tola, né? Respondendo: não tenho a menor ideia, mas explico o porquê da pergunta. É que nesta semana escrevi aquele texto do “perdemos” e fiquei com a impressão de que terei de voltar ao tema. De que não consegui me comunicar com você. De que fui muito hermético. Acontece. Às vezes me alongo demais ou me apaixono pelas palavras e aí a coisa não sai como o planejado. De qualquer forma, fica explicitada aqui a reflexão que norteia aquele texto: será que perdemos a ambição de sermos justos, mesmo que para isso tenhamos que aceitar sucessivas “derrotas”?

Outra pergunta, essa um tantinho pedante. Nah, bastante pedante: “Paulo, quantas pessoas você acha que olharam para dentro de si depois de lerem seu texto?”. Não sei e não me incomodo se a resposta for “uma ou duas, no máximo”. Pelo contrário, me dou por satisfeito. Sei que o mundo tem pressa, que se distrair é fácil e olhar para dentro de si dá trabalho. Vish, meu rei, com esse calor! Então eu faço o meu melhor e... rezo.

De volta aos móveis do Alvorada, porém. Antes de mais nada, quero ressaltar que os móveis perdidos foram encontrados no dia 20. Cinco dias antes, celebrou-se o Dia de São Longuinho. Aquele que, segundo a crença popular, ajuda a encontrar objetos perdidos. Basta dar três pulinhos. Coincidência? Vai pensando aí.

Além disso, enquanto eu procurava uma cama, um sofá e uma cômoda que, caramba, tavam aqui agorinha mesmo!, onde foi que eu deixei?, minha mulher me mata!, a notícia me fez pensar, um tanto quanto paranoicamente, no porquê da notícia. Não gostei da paranoia, mas mergulhei nela mesmo assim. E desse mergulho nasceram duas perguntas. (Hoje eu tô que pergunto, hein!). A primeira é simples: qual seria a consequência boa da revelação de que os móveis do Alvorada nunca foram roubados nem perdidos por Bolsonaro?

A outra é mais complexa e exige diversos cálculos políticos que, eu e você sabemos, levará a um lamaçal de perversidade. Como explicar que a informação sobre os móveis terem sido “encontrados” veio da Secretaria de Comunicação, comandada pelo ultrapetista Paulo Pimenta? Afinal, não me consta que houvesse qualquer furor investigativo sobre o caso. Do qual, aliás, pouca gente ainda se lembrava. Então por que a Secom divulgaria uma informação evidentemente prejudicial ao Lula, e sobretudo à Janja?

Como você sabe, não gosto de terminar texto com pergunta. Tampouco gosto do emoji de “curtir”. Não gosto de mesóclise nem de pepino. Ou seja, não gosto de muita coisa, mas gosto muito de escrever esta carta semanal. Pena que não tenha envelope e selo e carimbo e papel e letra feia. Outro dia mesmo estava dizendo por aí que esta carta está se tornando o melhor momento da minha rotina. E está. Mas agora chega.

Um abraço apertado,

Paulo.


P.S.: Me esforcei para que a carta fosse curta, mas fracassei. Quem sabe na semana que vem?



Paulo Polzonoff Jr.:, Gazeta do Povo