terça-feira, 7 de novembro de 2023

'Não existe argumento aceitável para defender o Hamas', afirma Paulo Polzonoff Jr.

 

Nos esgotos da própria alma e nas sarjetas da Internet, um filósofo profere sofismas para defender o indefensável: a violência ideologicamente orientada do Hamas.| Foto: Paulo Polzonoff Jr. com Dall-E


Semana passada estive prestes a dar vazão ao meu lado mais colérico e a entrar em erupção pelas estupidezes que via aqui e ali sendo ditas a fim de justificar a selvageria covarde dos terroristas do Hamas. Mas aí me perguntei: de que adianta apontar o dedo para denunciar um suposto (*suspiro*) antissemitismo esclarecido que norteia essas pessoas com o coração repleto de notas bibliográficas, mas sem um mínimo de empatia?

Achei melhor, pois, me ater à não-tão-difícil tarefa de citar os argumentos autorrefutáveis dessa defesa do Hamas que se pretende a provocadora, incisiva e, oh!, tão intelectual. Mas que no fundo (ou nem tão no fundo assim) é apenas orgulho, insegurança e fidelidade ideológica ou ao neofascismo ou ao comunismo velho-de-guerra. Minha esperança, aqui, é de que a simples menção aos argumentos sirva para revelar o absurdo que é essa postura que busca sempre o confronto e jamais a conciliação. O que, pensando bem, é a postura do próprio Hamas.

Então comecemos pela mais recente estultícia dita por esse personagem digno de uma refutação clara, dura e, com alguma sorte, divertida, mas também da nossa caridade, compreensão, amor e, se for possível, perdão: o defensor intelectual do terrorismo. Afinal, imagine as atribulações por que passam as almas dessas pessoas escravizadas pela opinião do grupo. Ou, pior, pela imagem autocongratulatória que fazem de si mesmas. Ao ponto de sugerirem que o Hamas tem algum grau de razão em matar bebês, estuprar e matar mulheres, crianças e idosos porque Israel... obrigou seus cidadãos a tomarem vacina contra Covid.

“Teve quem dissesse isso?”, você me pergunta e eu compreendo o seu espanto porque ele é meu espanto também. Teve e teve mais. Teve quem sugerisse, sem lá grandes esforços para parecer sutil, que judeus e nazistas são a mesmíssima coisa porque Israel é um estado nascido do conceito inquestionavelmente nazista do “sangue e solo”. Acredita numa coisa dessas? Pois pode acreditar e vai se preparando porque depois do ponto final piora.

Piora, sim. Porque teve quem falasse – veja só! – que judeus usam o Holocausto, os seis milhões de cadáveres, fora os sobreviventes emaciados, as vítimas das experiências de Mengele, os que padeceram pela eficiência diabólica da burocracia assassina de Eichmann, para – ATENÇÃO!! – se fazerem de vítimas. O sofisma perverso e, insisto, triste, insuportavelmente triste, ainda associa o tal vitimismo judaico a negros e índios, tentando criar assim, uma ponte entre o que é desprezo por um grupo étnico/religioso historicamente perseguido e o debate legítimo quanto à relação entre liberalismo, identitarismo e até o tal do ESG.


Plasil

.................................................................................... Desculpe. Fui tomar um antiemético para prosseguir com o texto e citar mais duas aberrações dessa serpente que, a julgar pelas estrelas de Davi pintadas nas fachadas das casas de judeus em Paris e pelas manifestações que celebram desavergonhadamente o sadismo politicamente motivado do Hamas, abandonou o ovo e agora faz o que sabe fazer: serpentear entre nós, semeando o mal como se sensatez, inteligência, racionalidade e até verve literária fosse.

Não é. Pelo contrário, não há nada mais maligno, espiritual e intelectualmente, do que tornar complexo um acontecimento que choca por sua simplicidade: movidos pela ideologia, terroristas do Hamas mataram inocentes. Ponto. Ponto final. Ponto de exclamação. Qualquer que tenha sido a motivação desses homens não importa. Não desdiz a verdade insuportável de que as vítimas eram inocentes. Insuportavelmente inocentes. Inocentes, inclusive, dos possíveis e prováveis pecados de seus líderes políticos e grupo étnico/religioso.

Mas eu falava da proverbial serpente e do mal que está tão perto que sou capaz de sentir o cheiro pútrido daqui. E por isso pergunto: o que há de sensato, inteligente e racional na sugestão de que Israel merece a barbárie do Hamas porque lá o aborto é permitido? Em outras palavras, mas com a mesma indignação: que tipo de moral orienta uma pessoa a justificar a morte crudelíssima imposta pelos terroristas islâmicos por um erro que é, antes de mais nada, um mal autoinflingido? Cadê a misericórdia ou a capacidade de compreender as circunstâncias? Cadê a crença na redenção? Ou será que ter um coração que pulsa e se compadece por quem é inquestionavelmente digno, mesmo errando numa questão tão grave quanto o aborto, é mesmo coisa de idiota? (E, se for, que seja!).

Por fim, aquele argumento que dá engulhos só de mencionar, mas menciono e vou explicar por quê. Não é para dar publicidade ao mal nem para bater palmas para maluco. Se menciono este e os outros argumentos que você teve a paciência, generosidade e estômago para ler aqui é para alertar os leitores de que essas ideias perversas estão no ar, por aí e infelizmente por aqui, bem pertinho. São ideias que precisam ser rejeitadas e combatidas antes que assumam uma forma material e tenham a oportunidade de agir – como já aconteceu tantas vezes na história. Menciono, além disso, para deixar registrado que, neste Ano da Graça de 2023, vivi (vivemos) para testemunhar isso: gente dizendo que os judeus são deicidas, isto é, mataram Jesus – e por isso merecem tudo o que lhes acontece.

Este texto, bem sei, não mudará nada. Não convencerá quem já se deixou convencer, por outros meios, de todas ou de algumas das ideias mencionadas aqui. Este texto não curará a loucura que, no coração dos homens, tem raízes insondáveis. Sei disso. Reconheço minha pequenez e impotência diante dos Grandes Movimentos da História e sua influência sobre o homem comum, entre os quais me incluo. De qualquer modo, não quero correr o risco de ser confundido com essa gente que, por orgulho, insegurança ou fidelidade ideológica, defende terrorista. E, por isso, deixo registrado que, infelizmente, observo a loucura vicejar ao meu redor. Uma loucura com a qual não concordo nem coaduno.


Paulo Polzonoff Jr., Gazeta do Povo