sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Climatologista Ricardo Felício: "Falar que o clima é controlado pela atividade humana é patético - A energia nuclear é a mais eficiente e a que produz mais ocupando menos espaço"

 

Ricardo Felício, climatologista


Diferente das correntes majoritárias, Felício nega que as variações climáticas sejam causadas pelo homem



Poluição atmosférica, automóveis movidos a combustíveis fósseis, desmatamento, queimadas. Essas são algumas das causas do aquecimento global? Definitivamente não, afirma o cientista Ricardo Felício, mestre em meteorologia e professor-doutor de climatologia, uma das vozes dissonantes quando o assunto é mudança climática. “Atribuir o aquecimento global ao homem, e principalmente ao CO2 da atividade humana, é um reducionismo absurdo”, diz. “As variações climáticas da Terra são causadas por um emaranhado muito grande de variáveis.”

Além de esmiuçar os dados que embasam sua teoria, Felício explica as causas da cíclica escassez na Bacia do Rio Paraná e da intensa onda de frio que abraça boa parte do país. Confira os principais trechos da entrevista.

Quais são as causas das variações climáticas no planeta?

São elementos de escala muito grande. Primeiro, a própria energia solar, que não é constante, já que ele é uma estrela. Ela é fundamental para o clima do planeta. Na mesma proporção vem a mecânica celeste: a distância entre a Terra e o Sol – outro fator variável, mas de período longo. Esses são alguns dos elementos extraterrestres. Depois, num segundo escalão, estão os fatores internos: a quantidade de superfícies dos oceanos, a atividade vulcânica e a presença de nuvens, as quais regulam a entrada e a saída de energia do globo terrestre e trabalham com a água na atmosfera. É um emaranhado muito grande de variáveis que se complementam e se alternam. Agora, gases como CO2 não têm participação nenhuma na variação do clima. Colocá-lo como o principal agente das mudanças é um reducionismo, é jogar a ciência climática no lixo. Veja o exemplo dos vulcões, eles emitem muito mais gás carbônico que a atividade humana. Entretanto, o que importa em suas erupções são as cinzas. Elas são lançadas na estratosfera — a terceira camada de baixo para cima da atmosfera — e interceptam os raios solares, fazendo com que a temperatura caia. A erupção do Krakatoa em 1883, por exemplo, deixou o mundo dois anos sem verão.

Quais dados contradizem a ideia de que o homem está causando o aquecimento global?

Falar que o clima é controlado pelo CO2 e pela atividade humana é patético. O próprio Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) mostra que os principais responsáveis pelos fluxos de CO2 na atmosfera são os oceanos. Os seres humanos têm uma contribuição tão pequena que estão na margem de erro dessa estimativa. Inclusive, a estação oficial do IPCC fica em Mauna Loa, no Havaí. Ela foi colocada no meio do Oceano Pacífico exatamente para medir a emissão de carbono que não é de origem humana. Veja a incoerência, eles usam essa estação para fazer justamente o oposto: mensurar a emissão feita pelo homem.

O que é o IPCC? Quais previsões feitas através dele não se concretizaram?

O IPCC é um órgão internacional ligado à ONU, e é político. Ele usa de cientificismo para legitimar decisões políticas. Existe viés na aquisição e interpretação dos dados. No fim, ainda é feita uma votação para decidir quais os principais pontos que serão divulgados para a sociedade através dos “sumários executivos”. Na verdade, o que eles fazem é ficar rodando todo tipo de cenário possível. Seus cerca de 120 modelos mostram a Terra tanto como uma bola de sorvete quanto como “a sucursal do capeta”. E, aí, se uma delas coincidir com a realidade, eles dizem que estão certos. Isso não é previsão. Eu chamo de “regra da mamãe”: quando alguém põe o celular no bolso detrás por um ano, com a mãe dizendo todo dia que ele irá perder o aparelho. No momento em que ele perde, ela vira e diz que a “mamãe sempre tem razão”.

Em algum momento da existência humana a quantidade de carbono na atmosfera já foi maior que a atual?

Sim, e o IPCC sempre soube disso. Eles tiraram a informação entre as “safras” dos relatórios. Atualmente, é aceito que o nível de carbono na atmosfera é de 350 partes por milhão e os mais alarmistas falam em 400. No início do século 19, essa proporção esteve acima de 400. O mesmo ocorreu entre 1935 e 1945. Nas duas situações, as temperaturas estavam baixas. Na primeira, por causa do que ficou conhecido como “mínimo solar de Dalton”, que terminou por volta de 1830. Na outra, em razão do Oceano Pacífico, que estava mais frio.

Por que os cientistas que defendem a hipótese do aquecimento global causado pelo homem têm mais espaço na mídia?

Nigel Calder, que era editor de uma revista científica, dizia que uma pesquisa que mostra que nada está diferente não é interessante. Um ponto é essa questão estética de que alertas “vendem” mais. O outro é que existe uma corrente dominante, e estando nela você garante o seu financiamento e as portas se abrem. É política, não ciência.

A energia nuclear é a mais eficiente e a que produz mais ocupando menos espaço

Os cientistas que corroboram a ideia de que a atividade humana é responsável pelo aquecimento do planeta têm maior facilidade em conseguir verbas?

Quem contesta o esquema é cerceado, perde financiamento para suas pesquisas e para os trabalhos dos alunos. Dificilmente o deixam publicar qualquer conclusão. Fiz meu último artigo em 2017. Ficaram dois anos e meio analisando-o para me dizer, no fim, que meu trabalho estava muito bom, mas a revisão bibliográfica era muito extensa e, por isso, não poderiam publicar.

Com frequência, jornalistas chamam cientistas como o senhor de “negacionistas”. Isso ocorre na academia também?

Na academia existe uma separação, mas ninguém usa esse termo comigo. Ao menos não na minha frente. De fato, negacionismo é um termo pejorativo utilizado por gente incompetente que, em vez de defender seus argumentos com fatos, ataca o lado oponente de forma pessoal.

No fim do mês passado, uma onda de frio tomou o Brasil. Nesta semana, as baixas temperaturas parecem ceder. Por que esse movimento acontece e o que podemos esperar até o fim do inverno?

Tivemos algumas confluências aqui na América do Sul. A combinação da chegada de massas polares e de ciclones extratropicais, desde a Antártida até o centro do Brasil, impulsionou os fluxos de ar frio, sustentando temperaturas bem baixas no início deste inverno. Essa onda, provavelmente, vai durar por mais um ou dois meses, mas com intensidade menor.

O país passa por uma crise hídrica. A Bacia do Rio Paraná, por exemplo, enfrenta a maior seca dos últimos 22 anos. O que está causando essa escassez?

A escassez é cíclica. Ora acontecem períodos mais chuvosos, ora mais secos. Essa estiagem é normal dentro do ano hidrológico. As chuvas por lá devem recomeçar por volta de setembro ou outubro. Depois, elas voltam a diminuir por volta de maio até chegar junho. Não é uma crise hídrica. O pessoal gosta de alarmismo. Mas um ciclo, claro, não é idêntico a outro. Para amenizar isso deveríamos ter feito reservatórios, uma infraestrutura que ajude a resolver o problema, em vez de empurrá-lo para frente.

O Brasil sempre apostou nas hidrelétricas. Qual é o melhor modelo de produção de energia?

Eu investiria em energia nuclear. Ela é a mais eficiente e a que produz mais ocupando menos espaço, tem resíduo controlado e ainda gera desenvolvimento em qualquer lugar — uma vez que atrai um capital humano altamente qualificado. Construiria três usinas atômicas em cada uma das grandes regiões do país. Essas tecnologias estão avançando e nós estamos ficando para trás. Índia, China, Rússia, Estados Unidos e grande parte da Europa, por exemplo, são parceiros no desenvolvimento do Reator Internacional Termonuclear Experimental, o Iter [na sigla em inglês], que promete revolucionar a geração de energia.

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Artur Piva, Revista Oeste