— A indústria ligada apenas à construção naval não existe mais em Niterói. Os dois maiores estaleiros da cidade já não constroem. O Mauá só faz reparos, assim como o Brasa, que ainda dá apoio offshore. Em 2017, por exemplo, a Petrobras fechou contratos de manutenção de R$ 2 bilhões para as bacias de Campos e Santos, mas nada veio para Niterói. Falta competitividade devido ao alto de custo de produção, impostos, combustível, salários e encargos. É uma região que tem uma estrutura naval boa, mas ainda pouco competitiva — argumenta.
A declaração de Caetano é atestada quando os números do faturamento do ano passado são destrinchados: as atividades de construções de embarcações de grande porte representam 2% do total. Já a manutenção e reparação de embarcações correspondem a 82%, uma média mensal de R$ 37 milhões, segundo o estudo. As outras atividades são administração da infraestrutura portuária (2%); e operações de terminais (10%); 4% representam agenciamento marítimo, serviços de praticagem e auxílio de transportes aquaviários.
O estudo destaca ainda que há um potencial de desenvolvimento para os próximos anos em Niterói, tendo em vista que as novas rodadas de leilões do pré-sal vão retomar um ciclo de produção e desenvolvimento que afetará diretamente a indústria niteroiense.
— Niterói pode aproveitar o know-how que ainda tem e direcioná-lo para o segmento de óleo e gás, investir na construções de tanques, de tubulações, reparo de embarcações e plataformas. Estamos elaborando sugestões que serão encaminhadas aos governos do estado e federal para impulsionar isso. Há expectativa de mudanças para o ano que vem, e esse documento mostrará nossos gargalos — diz Caetano, sem dar detalhes.
Analisando as movimentações no emprego formal em Niterói no ano passado, a partir do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho, o estudo da Firjan mostra a notória importância do município para o setor: 11,5% de todos os empregados da indústria naval estavam em Niterói, deixando a cidade atrás apenas de Macaé e da capital.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí, Edson Rocha, o acordo firmado entre a Petrobras e a chinesa CNODC, uma subsidiária da petroleira CNPC, para concluir a refinaria do Comperj, é uma esperança para a abertura de mais vagas, já que a estatal também anunciou planos para concluir a construção da UPGN, a unidade de processamento de gás, cujas obras devem gerar 1.300 vagas ao longo do próximo ano.
— Quem, no momento, demanda a indústria naval é a área de óleo e gás. O governo, através da Petrobras, precisa focar nisso aqui na região. Claro que diminuir impostos (conforme consta no programa de incentivo da prefeitura) dará mais competitividade, mas não é só isso. Na China, por exemplo, o governo subsidia a indústria naval porque ela gera muito emprego, e o governo recolhe através disso. Em Niterói já construímos várias plataformas, navios, e isso precisa ser retomado — avalia Rocha.
Leonardo Sodré, O Globo