domingo, 18 de novembro de 2018

Setor naval reage e cresce 55%, diz Firjan


O estaleiro Mauá, um dos maiores da cidade, atualmente só faz reformas e reparos de embarcações
Foto: Agência O Globo / Márcio Alves/04-10-2017
O estaleiro Mauá, um dos maiores da cidade, atualmente só faz reformas e reparos de embarcações Foto: Agência O Globo / Márcio Alves/04-10-2017

NITERÓI — O Panorama Naval no Rio de Janeiro 2018, elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), aponta sinais de melhora no setor em Niterói. Dados da Secretaria municipal de Fazenda contidos no documento, feito em parceria com entidades e empresas do mercado, mostram que houve um crescimento de 55% no faturamento declarado em 2017 em relação ao ano anterior, saltando de R$ 301,8 milhões em 2016 para R$ 467,2 milhões no ano passado.

O montante ainda é inferior ao declarado em 2013 (R$ 562,7 milhões), ano em que os reflexos da crise econômica se acentuaram, provocando o encerramento de contratos e o fechamento de estaleiros. O declínio nos anos seguintes só foi interrompido em 2017. De acordo com o presidente da Firjan Leste Fluminense, Luiz Césio Caetano, a performance pode se manter estável se o foco da indústria for ampliado para o setor de petróleo e gás.

— A indústria ligada apenas à construção naval não existe mais em Niterói. Os dois maiores estaleiros da cidade já não constroem. O Mauá só faz reparos, assim como o Brasa, que ainda dá apoio offshore. Em 2017, por exemplo, a Petrobras fechou contratos de manutenção de R$ 2 bilhões para as bacias de Campos e Santos, mas nada veio para Niterói. Falta competitividade devido ao alto de custo de produção, impostos, combustível, salários e encargos. É uma região que tem uma estrutura naval boa, mas ainda pouco competitiva — argumenta.
A declaração de Caetano é atestada quando os números do faturamento do ano passado são destrinchados: as atividades de construções de embarcações de grande porte representam 2% do total. Já a manutenção e reparação de embarcações correspondem a 82%, uma média mensal de R$ 37 milhões, segundo o estudo. As outras atividades são administração da infraestrutura portuária (2%); e operações de terminais (10%); 4% representam agenciamento marítimo, serviços de praticagem e auxílio de transportes aquaviários.
O estudo destaca ainda que há um potencial de desenvolvimento para os próximos anos em Niterói, tendo em vista que as novas rodadas de leilões do pré-sal vão retomar um ciclo de produção e desenvolvimento que afetará diretamente a indústria niteroiense.
— Niterói pode aproveitar o know-how que ainda tem e direcioná-lo para o segmento de óleo e gás, investir na construções de tanques, de tubulações, reparo de embarcações e plataformas. Estamos elaborando sugestões que serão encaminhadas aos governos do estado e federal para impulsionar isso. Há expectativa de mudanças para o ano que vem, e esse documento mostrará nossos gargalos — diz Caetano, sem dar detalhes.
Analisando as movimentações no emprego formal em Niterói no ano passado, a partir do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho, o estudo da Firjan mostra a notória importância do município para o setor: 11,5% de todos os empregados da indústria naval estavam em Niterói, deixando a cidade atrás apenas de Macaé e da capital.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói e Itaboraí, Edson Rocha, o acordo firmado entre a Petrobras e a chinesa CNODC, uma subsidiária da petroleira CNPC, para concluir a refinaria do Comperj, é uma esperança para a abertura de mais vagas, já que a estatal também anunciou planos para concluir a construção da UPGN, a unidade de processamento de gás, cujas obras devem gerar 1.300 vagas ao longo do próximo ano.
— Quem, no momento, demanda a indústria naval é a área de óleo e gás. O governo, através da Petrobras, precisa focar nisso aqui na região. Claro que diminuir impostos (conforme consta no programa de incentivo da prefeitura) dará mais competitividade, mas não é só isso. Na China, por exemplo, o governo subsidia a indústria naval porque ela gera muito emprego, e o governo recolhe através disso. Em Niterói já construímos várias plataformas, navios, e isso precisa ser retomado — avalia Rocha.

Leonardo Sodré, O Globo