quinta-feira, 15 de novembro de 2018

‘O sr está intimidando a acusação e eu não vou permitir’, avisa Gabriela Hardt a Lula

Gabriela Hardt. Foto: Reprodução/Ajufe
Nos últimos 30 minutos do interrogatório do ex-presidente Lula nesta quarta-feira, 14, a juíza Gabriela Hardt chamou a atenção do petista. Segundo a magistrada da Operação Lava Jato, Lula estaria ‘instigando e intimidando’ o Ministério Público Federal.
Preso desde 7 de abril, condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso triplex, o ex-presidente pela primeira vez deixou a sala especial que ocupa na sede da Polícia Federal para se deslocar, sob forte escolta, até o gabinete de Gabriela, na Justiça Federal.
Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente ter sido contemplado pelas empreiteiras OAS e Odebrecht e também pelo amigo pecuarista José Carlos Bumlai com um valor total de R$ 1,02 milhão para obras de reforma e melhorias do sítio Santa Bárbara, no município de Atibaia, interior de São Paulo. O ex-presidente nega ser o dono do imóvel.
Veja aqui o momento em que a juíza adverte Lula
Durante a audiência, o ex-presidente afirmou que o caso do sítio era ‘um processo de mentira atrás de mentiras’. Lula citou um power point usado pelo coordenador da Operação Lava Jato, procurador Deltan Dallagnol, em um entrevista coletiva em 2016. Naquela entrevista, Deltan afirmou que Lula era o ‘comandante máximo’ do bilionário esquema de corrupção instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014.
Lula dirigiu-se ao procurador da República Athayde Ribeiro, da força-tarefa da Lava Jato que acompanhou seu interrogatório nesta quarta, 14.
“Tudo começou com o power point. Se o power point tivesse sido desmentido no ato que ele foi feito. Vou dizer uma coisa para você, procurador. Eu, quando vi o power point, eu falei para o PT: ‘eu, se fosse presidente do PT, pediria para que todos os filiados do PT no Brasil inteiro, prefeito, deputado, abrissem processo contra o Ministério Público para ele provar o power point’”, afirmou Lula
A juíza o interrompeu. “O sr está intimidando a acusação assim, sr presidente, por favor, vamos mudar o tom. O sr está intimidando, está instigando e está intimidando a acusação e eu não vou permitir.”
Lula, então, respondeu. “Não, eu não estou intimidando. Eu não estou intimidando, estou contando um fato verídico”
A magistrada insistiu. “O sr está estimulando os filiados ao partido a tumultuarem o processo e os trabalhos. Se isso acontecer, o sr será o responsável.”
“Isso já passou, isso era 3 anos atrás”, minimizou Lula.
“Se isso acontecer, o sr será o responsável”, afirmou Gabriela.
“A referência feita foi a processo judicial. Eu não acredito que a Justiça seja meio para instigar o Ministério Público”, disse o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula.
“Mas tumultuar a Justiça, sim”, declarou a juíza.

Troféu

No final do depoimento, Lula declarou se sentir um troféu da Lava Jato. O petista declarou se sentir ‘vítima do processo do triplex, do processo do sítio e do terreno do Instituto’.
“Às vezes eu fico muito, mas muito nervoso com as mentiras que foram contadas no Power Point”, afirmou.
“Eu não sei se vou viver o tempo suficiente para que a verdade venha à tona, porque aos 73 anos, a natureza é implacável, a natureza vai conduzindo a gente. Eu peço a Deus que em algum momento, a história desse país, possa colocar a verdade do que aconteceu na Lava Jato, que poderia ser uma coisa feita corretamente para apurar corrupção, ladrão, prender, ela teve um descaminho no meu caso, estou dizendo no meu caso. Eu espero que um dia a gente possa provar isso.”
O ex-presidente continuou. “Eu me considero sabe como, procurador? Um troféu. Eu era um troféu que a Lava Jato precisava entregar. Não sei porque não gostam de mim, mas era um troféu que precisava entregar.”
COM A PALAVRA, O ADVOGADO CRISTIANO ZANIN MARTINS, DEFENSOR DE LULA
Depoimento de Lula mostra arbitrariedade da acusação
O ex-presidente Lula rebateu ponto a ponto as infundadas acusações do Ministério Público em seu depoimento, reforçando que durante o seu governo foram tomadas inúmeras providências voltadas ao combate à corrupção e ao controle da gestão pública e que nenhum ato de corrupção ocorrido na Petrobras foi detectado e levado ao seu conhecimento.
Embora o Ministério Público Federal tenha distribuído a ação penal à Lava Jato de Curitiba sob a afirmação de que 9 contratos específicos da Petrobras e subsidiárias teriam gerado vantagens indevidas, nenhuma pergunta foi dirigida a Lula pelos Procuradores da República presentes à audiência. A situação confirma que a referência a tais contratos da Petrobras na denúncia foi um reprovável pretexto criado pela Lava Jato para submeter Lula a processos arbitrários perante a Justiça Federal de Curitiba. O Supremo Tribunal Federal já definiu que somente os casos em que haja clara e comprovada vinculação com desvios na Petrobras podem ser direcionados à 13ª. Vara Federal de Curitiba (Inq. 4.130/QO).
Lula também apresentou em seu depoimento a perplexidade de estar sendo acusado pelo recebimento de reformas em um sítio situado em Atibaia que, em verdade, não têm qualquer vínculo com a Petrobras e que pertence de fato e de direito à família Bittar, conforme farta documentação constante no processo.
O depoimento prestado pelo ex-Presidente Lula também reforçou sua indignação por estar preso sem ter cometido qualquer crime e por estar sofrendo uma perseguição judicial por motivação política materializada em diversas acusações ofensivas e despropositadas para alguém que governou atendendo exclusivamente aos interesses do País.
Cristiano Zanin Martins

Julia Affonso, Ricardo Brandt, Paulo Roberto Netto e Fausto Macedo