Moro afirmou que vai se afastar das audiências da operação que já estão marcadas para "evitar controvérsias desnecessárias". Isso significa que ele não vai ouvir o interrogatório do ex-presidente Lula na ação que apura reformas feitas por empreiteiras no sítio de Atibaia, interior de São Paulo.
A audiência com o petista está marcada para 14 de novembro. Para a defesa do petista, o convite feito por Bolsonaro a Moro já reforçava a tese de que Lula é alvo de uma perseguição política. Em petição entregue nesta quarta-feira, os advogados dizem que Moro vai entregar o governo de um político que prometeu "metralhar a petralhada" e deixar Lula "apodrecer na cadeia".
Antes das eleições de domingo, o economista Paulo Guedes já havia apresentado a Moro a proposta de transformar a Justiça em um superministério, agregando diferentes áreas do governo .
Desde a ocasião do encontro, que ocorreu na última semana, antes das eleições, Moro conversou com colegas na Justiça e também com integrantes da força-tarefa Lava-Jato sobre a hipótese de aceitar o convite. O foco principal do novo ministério será o combate ao crime organizado e à lavagem de dinheiro.
O pacote com 70 propostas de combate à corrupção produzido pela Transparência Internacional e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), com o apoio de duas dezenas de especialistas, seria uma das plataformas de eventual gestão Moro.
Dividido em 12 temas, o pacote apresenta sugestões de políticas para enfrentar a questão a médio e longo prazo e foi apoiado por dezenas de entidades da sociedade civil, como o Instituto Ethos, o Cidade Democrática e o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE). O procurador da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, foi um dos garotos-propaganda da iniciativa.
Leia a nota de Moro na íntegra:
Nota oficial: Fui convidado pelo sr. Presidente eleito para ser nomeado Ministro da Justiça e da Segurança Pública na próxima gestão. Após reunião pessoal na qual foram discutidas políticas para a pasta, aceitei o honrado convite. Fiz com certo pesar pois terei que abandonar 22 anos de magistratura. No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito a Constituição, a lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão. Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior. A Operação Lava-Jato seguirá em Curitiba com os valorosos juízes locais. De todo modo, para evitar controvérsias desnecessárias, devo desde logo afastar-me de novas audiências. Na próxima semana, concederei entrevista coletiva com maiores detalhes.
Cleide Carvalho e Thiago Herdy, O Globo