A campanha eleitoral de 2018 impôs ao PT o desafio de superar sua lulodependência. O partido deveria guindar Lula à condição de totem e iniciar sessões de fisioterapia política para aprender a andar sem a muleta presidiária. Entretanto, num instante em que uma ala do petismo cobrava internamente a abertura de novos caminhos, Jair Bolsonaro trancou os arquirrivais na velha fábula da perseguição política. Fez isso ao tornar Sergio Moro ministro da Justiça.
“…Sergio Moro revelou definitivamente sua parcialidade como juiz e suas verdadeiras opções políticas. Sua máscara caiu”, escreveu o PT em nota oficial. “Moro foi um dos mais destacados agentes do processo político e eleitoral. Desde o começo da Operação Lava Jato agiu não para combater a corrupção, mas para destruir a esquerda, o Partido dos Trabalhadores e o governo que dirigia o país.” Indagado sobre a reação, Bolsonaro divertiu-se: se eles estão reclamando, é sinal de que acertamos, declarou.
Com um único movimento, o capitão atingiu dois objetivos: impermeabilizou sua futura administração com o verniz da Lava Jato e manteve o PT no círculo vicioso da criminalização da política. Como se sabe, o PT foi criminalizada pelos criminosos petistas que violaram cofres públicos ou autorizaram o roubo, beneficiando-se dele. Lula meteu-se nessa encrenca porque quis.
Ao içar Sergio Moro de Curitiba para Brasília, Bolsonaro ofereceu ao PT um demônio providencial para o qual transferir as culpas por todos os seus fiascos. O tempo que os rivais utilizariam para estruturar a oposição é desperdiçado no esforço para tentar transformar corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa em perseguição política.
A nota do PT bateu bumbo: “Moro sempre foi um juiz parcial, sempre agiu com intenções políticas, e isso fica evidenciado aos olhos do Brasil e do mundo, quando ele assume um cargo no governo que ajudou a eleger com suas decisões contra Lula e a campanha de difamação do PT que ele alimentou, em cumplicidade com a maior parte da mídia.”
Ao morder a isca de Bolsonaro, o PT revela que não aprendeu muita coisa com o castigo das urnas. Quem elegeu o capitão foi a maior força política da temporada de 2018: o antipetismo. Trancafiado em sua fábula, o PT ainda não notou. Entretanto, perto do maremoto provocado pela aversão do eleitorado ao PT, a influência de Moro e o poder da mídia não passam de chuviscos.
Com Blog do Josias, UOL