quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Trump surpreende congressistas ao pedir maior controle de armas


Tom conciliador de Trump surpreendeu congressistas em reunião - KEVIN LAMARQUE / REUTERS


Com Globo e Reuters


WASHINGTON - O presidente Donald Trump surpreendeu seus colegas republicanos e os rivais democratas ao pedir abertamente maior controle de armas nos EUA. As declarações vieram durante uma reunião aberta na Casa Branca com congressistas em busca de políticas em resposta ao massacre que matou 17 pessoas numa escola da Flórida. Ele chegou a provocar os próprios aliados do lobby armado, dizendo que senadores estão temerosos.


Apesar de ter voltado a agradar republicanos ao defender o endurecimento da segurança nas escolas e o uso de armas por pessoas em situações como a chacina na boate LGBT Pulse (Flórida, 2016), Trump mostrou um lado muito mais alinhado aos democratas.

— O que me surpreende mais do que qualquer outra coisa é que nada tenha sido feito em todos esses anos — cutucou Trump, diante de sorrisos da senadora democrata Dianne Feinstein. — Seria tão bom se tivéssemos uma proposta que todo mundo apoiasse. Estava na hora de um presidente assumir as rédeas.

Na reunião com 17 democratas e republicanos, Trump disse que poderia emitir "muito em breve" um decreto para proibir os aceleradores de disparos — ferramenta usada no massacre do ano passado que matou 58 pessoas em Las Vegas e que transforma armas semiautomáticas em automáticas. Também sugeriu ao deputado Steve Scalise (ferido num ataque a tiros mas que continua um firme apoiador de maior acesso a armas) que uma proposta sua de aumentar a posse oculta de armas em público seja tratada posteriormente.


Observado pelo senador republicano John Cornyn, do Texas, Trump defende em reunião maior controle de armas - MANDEL NGAN / AFP

'NÃO TEMOS QUE CONCORDAR EM TUDO'

Trump ainda sinalizou apoio a uma série de políticas distintas, como o reforço à verificação de antecedentes, o aumento da idade mínima para comprar fuzis e a retirada de armas de pessoas com doenças psiquiátricas. Ainda disse ter falado a autoridades da NRA que “precisamos parar esta loucura. É hora”. De acordo com a rede Fox News, a Casa Branca está planejando ações concretas a favor de todas as medidas defendidas por Trump na reunião.

Diante de város congressistas que são ligados à Associação Nacional do Rifle (NRA), principal organização lobista a favor do relaxamento de regulamentos sobre armas nos EUA, provocou o senador republicano Pat Toomey, coautor de uma medida em 2013 de verificação de antecedentes após o massacre que matou 20 crianças na escola Sandy Hook, em Connecticut, em dezembro de 2012:

— Vocês têm medo da NRA — ironizou Trump, que também teve sua campanha financiada pelos lobistas, que pagaram US$ 30 milhões em 2016. — Não temos que concordar em relação a tudo (com a NRA).

Antes do encontro na Casa Branca, diversos senadores republicanos disseram haver pouco consenso no partido sobre como abordar a questão ou até mesmo sobre seguir em frente debatendo um projeto de lei para melhorar a base de dados de verificações de antecedentes para compradores de armas.

— Eu não ouvi um consenso. Eu não sei o que o líder (senador Mitch McConnell) irá fazer — disse o senador John Kennedy após um almoço republicano no Capitólio.

Na Casa Branca, o senador democrata Chris Murphy, de Connecticut, disse a Trump que esforços anteriores para aprovar projetos de lei de verificação de antecedentes enfrentaram grandes obstáculos por conta da NRA, e alertou o presidente contra subestimar a influência política do grupo.

— A razão de nada ser feito aqui é porque o lobby de armas possui poder de veto sobre qualquer legislação que surja para o Congresso — declarou Murphy.

A maior surpresa dos congressistas decorreu do fato que Trump é um firme defensor do maior relaxamento a restrições às armas. Nas últimas semanas, além de ter focado na questão de doenças mentais após o massacre da Flórida, sugeriu abertamente que professores sejam armados para impedirem a ação de atiradores em escolas.