segunda-feira, 29 de maio de 2017

Líder chavista morre por falta de medicamentos. Quase que a dupla corrupta Lula-Dilma transforma o Brasil numa Venezuela

Nathalia Watkins - Veja



Alberto Carias defendia os ganhos sociais do chavismo, 

mas culpava Maduro pela crise política



Alberto "Chino" Carias se emociona ao lembrar de Hugo Chávez em entrevista a VEJA, em Caracas (Manaure Quintero/VEJA)

Alberto Carias, conhecido como “El Chino”,  era dos mais ferrenhos defensores do legado do ex-presidente Hugo Chávez e assessor político da Assembleia Nacional para Ciência e Tecnologia, mas sua especialidade eram os conflitos armados. Chino era também filósofo por formação e o líder do Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA) na Venezuela, que coordena atividades de alguns dos principais grupos de paramilitares chavistas. Ele era procurado pela Justiça em 15 países. O chavista, de 60 anos, faleceu na noite de domingo, 28, após uma operação na vesícula. Segundo fontes ouvidas por VEJA, foi mais uma vítima da crise hospitalar – precisava de remédios que não conseguiu encontrar no país.
Chino criticava duramente o governo do presidente Nicolás Maduro e o culpava pelo fracasso das políticas de Hugo Chávez.  Ao lado de alguns de seus oito escoltas, alguns que o cercavam empunhando facões do tamanho de um braço,  o líder chavista concedeu a seguinte entrevista a VEJA, em Caracas, em novembro.
Qual a diferença ideológica entre o MRTA e o partido socialista, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), criado por Hugo Chávez?
A diferença é a forma de luta. Nós acreditamos nas lutas violentas, clandestinas, armadas e também na via eleitoral. Devemos pensar do ponto de vista político violentamente. Estou ao lado do proletariado, seja na ilegalidade, como estive por décadas, ou agora na legalidade. Agora, a revolução está ameaçada e considero que em breve voltaremos para a luta clandestina. A extrema direita está atacando com muita força e a democracia está ameaçada. Por isso devemos brigar em qualquer um desses campos.
Qual é a ameaça para a revolução socialista?
Sou chavista, anti-imperialista, revolucionário, não sou Madurista. Simpatizo mais com a ala militar e considero que é a ala que acompanhou nossos vinte anos de clandestinidade até a conquista ao poder. Fizemos isso primeiro de forma violenta, em 1992, e depois quando meu comandante (Hugo Chávez) saiu da cadeia até que nós chegamos ao poder pela via eleitoral. Estou apoiando o governo de Maduro pois preciso defender o legado de Chávez. Prefiro isso que voltar para a época de tortura, presos políticos e repressão que vivemos no passado.
Qual sua divergência com Maduro?
O comandante Chávez aceitava críticas, você podia dizer a ele até que o mataria na frente dele e ele escutava. Agora não existe isso, é preciso corrigir esse caminho e respeitar as instituições e as autoridades. A diferença entre eles é incrível, mas não justifica a saída de Maduro. Maduro foi um excelente chanceler, mas ninguém esperava que ele fosse morrer e nem que fosse pedir que votássemos por ele de repente.
Quais foram os erros principais de Maduro?
A insegurança é deixar que a escassez de alimentos chegue a este ponto sem usar a força do apoio popular. Mas a popularidade dele não é baixa como a oposição diz. A sorte é que são tão ineptos e sem vontade política que parece que vivem na época das cavernas. Calculo que possam ter uns 60% dos votos, mas não tem capacidade de convocatória, mobilização e reação. Vemos isso cada vez que o deputado chavista Diosdado Cabello pede mobilização nos programas de televisão. Se a oposição tivesse mesmo todo esse apoio, já estavam no poder. O povo sabe o que deixaria de ter se o governo mudasse.
O que deixaria de ter?
O mesmo que aconteceu na Argentina com a Cristina Kircher e no Brasil com a Dilma: o investimento social seria congelado, eles chamam isso de gastos públicos.
A divergência vem desde a morte de Chávez?
Para nós, esse é um assunto muito doloroso. Hoje, nosso comandante eterno deve estar ao lado de Jesus, Deus e os apóstolos por seu cristianismo, por sua humildade e por tudo que fez pelos pobres do mundo. A morte dele foi a pior de nossa pátria desde a primeira república, foi o presidente e mais amado do mundo.
O senhor disse a Maduro o que pensa sobre ele?
Não, ele me catalogaria de contra-revolucionário. Chávez aceitava críticas, tinha atitude política. Se estivesse vivo, nada disso estaria acontecendo. Ele era muito perspicaz.
Assim como Nicolás Maduro, o senhor acha que a Assembleia Nacional está em desacato?
Não, acredito que ela seja legítima e foi eleita pelo povo. Nós devemos respeitar a vontade do povo, mesmo que vá contra a vontade do presidente. Se eu estivesse no poder, respeitaria a vontade popular e deixaria que legislassem.
Qual é o futuro do chavismo?
Vamos para um processo de recuperação do legado de Chávez nas mãos de Diosdado Cabello, Padriño López, Miguel Torres e dos militares. Vamos reconstruir a revolução, precisamos neste momento lutar dentro do marco da democracia para fortalecer as forças proletárias que amam o nosso comandante eterno.
O senhor funciona como um líder dos colectivos. Como eles operam?
O nome colectivo é usado para estigmatizar e diminuir quem somos pela extrema direita. Os movimentos revolucionários e populares, chamados de colectivos, têm como função realizar trabalhos sociais no seio das comunidades, sejam esportivos, culturais e organizacionais. No fundo, também a defesa do processo revolucionário dentro do marco constitucional que prevê a participação do povo da democracia venezuelana.
Qual seria um exemplo desse trabalho?
Neste momento, controlamos as filas contra o contrabando de produtos. Chegamos de madrugada e organizamos uma fila para os deficientes físicos, outra para idosos e uma terceira para o resto do povo. Nós não permitimos que uma pessoa leve dez sacos de arroz e outro fique sem nenhum, para que a pouca alimentação chegue de forma equitativa.
Qual a relação hierárquica com outros braços de segurança?
Respeitamos o trabalho deles, mas às vezes a adrenalina dos nossos combatentes é grande. Além disso, tem zonas que são impenetráveis pelas forças de segurança do Estado.
Como se resolvem as brigas entre setores diferentes dos colectivos?
Pelo diálogo. Às vezes, quando as coisas se tornam muito violentas, preciso intervir.
Que tipo de controle tem sobre o que acontece no país?
Total e absoluto. Sabemos quem é quem e o que fazem. Sabemos por exemplo quem está tentando produzir um golpe de Estado que não deixaremos acontecer.  Eu fui diretor de segurança cidadã da cidade de Caracas, controlei a polícia metropolitana, bombeiros, defesa civil, entendo disso.
Quantos homens estão disponíveis para a defesa da revolução socialista?
Isso é segredo militar.
Qual o papel dos colectivos nas atuais circunstâncias?
Vivemos em uma democracia pacífica, participativa e plural, mas que ninguém se engane. Saímos da clandestinidade mas temos nossos capuzes e armas nas mãos. Nunca as entregamos e nunca as entregaremos.  Se há golpe de Estado ou desconhecimento das leis e programas sociais que conquistamos, defenderemos o país disso com mobilizações nas ruas.
O senhor acha que as ruas da Venezuela ainda verão muito sangue?
Não sei dizer, mas se isso acontecer será de total responsabilidade dos golpistas.