O desempenho da atividade econômica no terceiro trimestre — com recuo de 1,7% frente aos três meses anteriores e queda de 4,5% na comparação com igual período de 2014 —, divulgado nesta terça-feira pelo IBGE, mostrou um forte recuo no consumo das famílias e nos investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF).
O consumo das famílias, que responde por 62% do PIB, teve a pior taxa da série histórica, iniciada em 1996, na comparação com o terceiro trimestre do ano anterior. A queda foi de 4,5%.
O resultado foi influenciado por um cenário que combina inflação alta, piora do emprego e da renda e aumento das taxas de juros. Tudo isso se junta às turbulências políticas e à Operação Lava-Jato e seus impactos sobre a atividade econômica.
— De forma geral, tem uma deterioração do emprego e da renda, uma taxa de juros mais alta, que dificulta o crédito. São todos os fatores juntos. (...) De fato, as turbulências não só políticas como econômicas afetam — afirma a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio.
Do R$ 1,48 trilhão do PIB referente aos valores correntes do terceiro trimestre, o consumo das famílias respondeu por R$ 937,2 bilhões. O recuo foi o terceiro seguido. Segundo o IBGE, tal resultado é explicado pela piora nos índices de inflação, juros, crédito, emprego e renda.
Além de encolher 15% em comparação ao terceiro trimestre de 2014, a FBCF registrou uma baixa de 4% frente ao segundo trimestre deste ano. Com isso, a taxa de investimento no terceiro trimestre foi de 18,1% do PIB, inferior à do mesmo período de 2014 (20,2%) e a menor para um terceiro trimestre desde 2008, quando ficou em 18,8%. No terceiro trimestre de 2007, foi de 17,5%. Na comparação com o segundo trimestre de 2015, o investimento já cai há nove trimestres seguidos.
A taxa de poupança foi de 15% no terceiro trimestre de 2015, ante 17,2% no mesmo período de 2014.
— O investimento já cai há mais tempo que o consumo. Até o fim do ano passado, o consumo subia, a virada foi no primeiro trimestre — explicou Claudia.
A indústria, também muito impactada pela crise, recuou 1,3% em comparação com o segundo trimestre e 6,7% frente ao terceiro trimestre de 2014. Essa queda foi puxada principalmente pelo desempenho da indústria de transformação, que responde por metade do setor (48,7%).
Na comparação com o período que vai de julho a setembro de 2014 — quando houve recuo de 6,7% —, a indústria de transformação caiu 11,3%, a maior queda desde o segundo trimestre de 2009 (-13,5%). A construção civil, no entanto, também teve queda, de 6,3%.
— Juntas, construção e transformação têm peso de 75% na indústria. A indústria só não caiu mais por causa da extrativa, que ainda sobe, e da produção e distribuição de eletricidade, com a ligação de usinas termelétricas — afirmou Claudia.
A indústria extrativa subiu 4,2% e é o desempenho positivo da indústria. Mas o ritmo de crescimento vem caindo: no primeiro trimestre, a alta tinha sido de 12,5% e no segundo trimestre, de 8,2%. Já a produção e distribuição de eletricidade, gás e água teve alta de 1,5%.
Claudia destacou o desempenho da indústria extrativa mineral (4,2%) entre os segmentos que tiveram resultado acima da queda de 4,5% do PIB no terceiro trimestre frente ao mesmo período de 2014.
— Na taxa trimestral, o maior crescimento foi no segmento da indústria extrativa mineral (4,2%), explicado pelo aumento da extração de petróleo e gás e também minério de ferro. Ambos estão crescendo. Só que esse 4,2% está menor que o 8,2% registrado no segundo trimestre e o 12,5% no primeiro.
Pelo lado das quedas em relação ao PIB na mesma comparação, ela citou a indústria de transformação, comércio, transportes e construção civil.
— Vimos que a indústria de transformação foi a maior (-11,3%). E vimos queda no comércio (-9,9%) e no transporte (-7,7%). Isso é reflexo do comportamento da indústria.
Nesse comércio, está incluído atacadista e varejista. Ambos estão caindo. E em transportes, há queda tanto no (transporte de) passageiros e cargas, só que cargas puxou mais. É um reflexo, sempre que a indústria cai muito acaba explicando esse comportamento — explica Claudia. — Outra queda relevante seria a indústria da construção civil (-6,3%), que se explica pelo crédito mais restrito, taxas de juros mais alta e isso desfavorece.