Na semana passada, o Uruguai realizou um grande evento para comemorar os dez anos da implantação de sua agenda digital.
O evento contou com a presença do atual presidente, Tabaré Vázquez, e também de um ex-presidente da Estônia, país que é apontado hoje como modelo na implementação de políticas digitais.
Quem planta antes colhe cedo. No país vizinho, a agenda digital foi criada em 2007. Os dez anos que se seguiram provam claramente os benefícios do investimento feito.
Hoje, 100% das escolas do Uruguai estão conectadas à internet em banda larga. Mais do que isso, 92% das escolas estão conectadas com fibra óptica de alta velocidade. Tudo isso graças somente a um dos componentes do programa, chamado de "Plano Ceibal". Esse plano investiu em tecnologia para revolucionar a educação. E revolucionou.
O contraste com o Brasil é penoso. Aqui, apenas 1% das escolas públicas têm conexão maior do que 20 Mbps. Esse é o piso do que é considerado banda larga hoje nos EUA.
No Brasil mais de 45% das escolas públicas recebem conexão menor do que 2 Mbps. Isso significa que um único aluno assistindo a um vídeo é suficiente para congestionar a rede.
O plano uruguaio foi ainda mais ambicioso. Implantou desde logo uma lei de proteção aos dados pessoais e criou uma agência para cuidar desse tema.
Com isso, matou dois coelhos. Deu segurança jurídica para o setor privado investir em análise de dados, fixando as regras do jogo.
Deu também tranquilidade ao cidadão, permitindo que o governo investisse pesado em serviços digitais e dados, sem que isso levasse a vigilância, à venda de dados para o setor privado ou a outras ameaças à privacidade.
Só lembrando, o Brasil nem sequer possui uma lei de proteção de dados pessoais. Essa agenda aqui está atrasada há mais de 20 anos.
A atual aposta do Uruguai é a certificação digital. Nesse sentido, o país criou um RG digital, que permite acessar serviços governamentais e praticar todos os atos da burocracia pela internet. A meta é que até 2020 esse RG esteja sendo usado por 30% da população.
No Brasil, acabamos de perder a oportunidade de fazer algo similar com a lei que criou o novo RG (RIC - Registro de Identidade Civil). A lei foi aprovada em 2017, mas parece ter sido escrita em 1998, porque ainda aposta no papel.
Ao mesmo tempo, os certificados digitais no Brasil são usados por apenas 2,5% da população e são caríssimos (custam de R$ 180 a R$ 460). O que é inaceitável.
Os derrotistas vão dizer que no Uruguai é fácil fazer tudo isso, porque o país tem apenas 3,4 milhões de habitantes. Estão errados. O Brasil tem algo que o Uruguai não tem: escala.
Se tivesse também gestão, ideias e planejamento, poderia fazer muito mais que o país vizinho fez nos últimos dez anos. Poderia ser líder na América Latina em políticas digitais. Não é o caso.
O país ainda patina. Fala muito e faz pouco. Ataca o que dá certo. E se alia com o que não tem futuro.
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