Marlene Bergamo/Folhapress | |
Fernando Mello, sócio da IN Group |
JOANA CUNHA
ÁLVARO FAGUNDES
Folha de São Paulo
ÁLVARO FAGUNDES
Folha de São Paulo
A nova onda imigratória dos brasileiros desiludidos com a cena política de Brasília contribuiu para triplicar a quantidade de dinheiro enviada do país para os Estados Unidos neste ano.
O volume de recursos enviados por pessoas físicas do Brasil para pessoas físicas nos EUA cresceu 227% no primeiro semestre, para US$ 408 milhões, segundo o BC.
Uma parte desse movimento é explicado pelo novo movimento migratório de brasileiros para os EUA: com um perfil mais elitizado, em que os negócios no Brasil sustentam a vida americana.
Para Leonardo Freitas, sócio da Hayman Woodward, consultoria especializada em imigração e fluxo de dinheiro, parte dos brasileiros que emigram não tem fonte de renda nos EUA e precisa se manter até conseguir investir em um negócio com receita em dólar.
"O recurso que entra nos EUA vem de receitas de algum negócio ou empresa mantida no Brasil, aposentadoria ou investimentos. Os juros altos do país ainda atraem. Eles investem no Brasil e usam a boa remuneração ao capital para depois remeter parte do lucro aos EUA e bancar a temporada na América", diz Freitas.
O Banco Central não detecta o uso que é feito deste recurso, mas informa que não corresponde a empréstimos, financiamentos, compra ou venda de bens ou serviços.
"Tradicionalmente, há um grande número de operações de baixo valor, e é provável que parte relevante dos recursos seja utilizada para consumo", diz o órgão.
O empresário Fernando Mello, sócio da IMGroup, conta que, ao perceber a demanda, sua empresa passou a auxiliar a emigração de famílias brasileiras.
Segundo ele, o emigrante atual tem um perfil diferente do observado nas levas de brasileiros que partiram aos EUA nos anos 1980.
Se no passado os brasileiros iam em busca de dinheiro para enviar a familiares que aqui ficavam, hoje os recursos fazem caminho inverso.
"Agora são famílias com patrimônio, casais a partir de 40 anos, com um processo muito menos improvisado."
Antes de deixarem o Brasil definitivamente, esses casais costumam enviar filhos adolescentes para estudar. Enquanto os pais não se mudam, os filhos são mantidos por meio das remessas.
Assim como os filhos, o patrimônio pode ser enviado antecipadamente para investimentos. O próprio Mello mandou os filhos para estudar fora antes de deixar o Brasil anos atrás.
O investimento em imóveis também pode ter impulsionado o volume, segundo Fernando Pavani, presidente da BeeCâmbio, especializada em remessas on-line.
"O brasileiro comprou ativos lá e isso gera despesa fixa, como o envio de dinheiro para um funcionário pagar conta de luz ou para o salário desse funcionário", diz Pavani.
O Santander registrou a elevação das remessas segundo o diretor Luiz Masagão.
"O aplicativo facilitou muito isso. Hoje, pode ser feito no celular: enviar dinheiro a um familiar, pagar despesa de imóvel, de médico etc".
REMESSAS
O crescimento não teve os EUA como destino exclusivo. As remessas pessoais do Brasil para o exterior em geral também cresceram, embora em menor intensidade: 74%.
A Bolívia foi o segundo maior destino, com 7% do tota do dinheiro enviado para o exterior, ante 44% dos EUA.
As transferências pessoais seguem regras comuns de operações no mercado de câmbio. A entrega do dinheiro é feita no Brasil, em reais, e recebida lá fora em moeda estrangeira.