quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Motorista relatou pressão de Gilberto Carvalho para não denunciar Bendine

Luiz Vassallo - O Estado de São Paulo




Sebastião 'Ferreirinha' disse que recebeu ligações

 do ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da 

Presidência/Governo Dilma sugerindo que não 

prestasse depoimento em investigação sobre suposto

 enriquecimento ilícito do ex-presidente do Banco do

 Brasil e da Petrobras




Aldemir Bendine. Foto: Wilton Junior/Estadão

O motorista Sebastião Ferreira da Silva, o ‘Ferreirinha’, relatou ao Ministério Público Federal ter sido pressionado pelo ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do governo Dilma Rousseff, Gilberto Carvalho, para não depor como testemunha de acusação no âmbito de inquérito aberto em 2014 para investigar suposto enriquecimento ilícito do então presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine. Ele também disse, na ocasião, que fez pagamentos em espécie a empresários a mando do executivo em valores de até R$ 182 mil. Os registros das ligações telefônicas de Carvalho e do próprio Bendine ao celular do motorista foram anexados nesta terça-feira, 1, ao processo contra o empresário no âmbito da Lava Jato.


Documento

Bendine está preso no âmbito da ‘Cobra’, 42.ª fase da Lava Jato, sob a acusação de ter pedido e recebido da Odebrecht propinas de R$ 3 milhões. Segundo o Ministério Público Federal, o valor foi repassado em três entregas em espécie, de R$ 1 milhão cada, em São Paulo. Na lista de propinas da empreiteira, o executivo era identificado com o nome do réptil que batizou a Operação que o pôs na cadeia.

Documento

Em decisão na qual converteu em preventiva a prisão de Bendine, o juiz federal Sérgio Moro ressaltou ser ‘vergonhosa’ a pressão do executivo ao motorista, no âmbito de outro inquérito, em 2014, no qual ‘Ferreirinha’ relatou ter feito pagamentos em espécie pelo então presidente do Banco do Brasil e disse ter sido ameaçado para contar o que sabia aos procuradores da República. As investigações apuravam, à época, suposto enriquecimento ilícito de Bendine.

‘Ferreirinha’ narrou ter feito pagamentos de R$ 86 mil e de R$ 182,6 mil – à época em que trabalhava para o Banco do Brasil -, a mando de Bendine.
Ele também disse ter sido processado criminalmente pelo ex-executivo do BB em razão de seus depoimentos e que, à época em que falou à Procuradoria, foi ‘pressionado’ por Bendine por meio de seu porta-voz, a não depor, com a promessa de que depois conseguiriam outro emprego para ele.
Antes de ter trabalhado para Bendine, o motorista também prestou serviços ao ex-ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do governo Dilma Rousseff, Gilberto Carvalho, que o indicou ao cargo no BB, segundo seu depoimento.
Quando resolveu contar ao Ministério Público Federal que vinha fazendo pagamentos em espécie para o empresário, ele alegou ter recebido ligações do ex-ministro pedindo ‘para não depor’.
Ele disse à Procuradoria da República de São Paulo que Carvalho pediu a ele ‘deixar disso’ e não depor ao Ministério Público Federal’. Afirmou que o ex-ministro teria tentado viabilizar um encontro com Bendine, que acabou não ocorrendo porque ele disse saber que ‘haveria mutreta’.
Em outro encontro, após contar que depôs ao Ministério Público Federal sobre Bendine, o motorista ainda disse que Gilberto Carvalho disse, ‘aos gritos, que ele não deveria ter feito isto’.
COM A PALAVRA, GILBERTO CARVALHO
“Aldemir Bendine foi um excelente presidente do Banco, como é reconhecido, e eu o conheço desde quando foi Secretário Executivo do Banco do Brasil. Já Sebastião Ferreira da Silva, à época em que foi demitido pelo Banco, passou a manifestar profunda mágoa em relação a Bendine. Num dado momento, Sebastião me informou que, estimulado por um jornalista, iria fazer um depoimento contra Bendine, relatando fatos que, segundo ele, havia presenciado. Minha reação imediata foi perguntar se ele tinha provas das acusações, lembrando a ele que o ‘ônus da prova cabe ao acusador’. Na ocasião disse a ele que, se tivesse provas, seguisse adiante. Esta foi minha participação neste episódio.”
COM A PALAVRA, O ADVOGADO ADEMAR RIGUEIRA, QUE DEFENDE ANDRÉ GUSTAVO E ANTÔNIO CARLOS VIEIRA DA SILVA
A prisão preventiva nos parece precipitada. Apesar dos argumentos trazidos com os pedidos de revogação, a decisão é silente quanto aos argumentos da defesa. A decisão reitera argumentos superados com as novas investigações, levando-nos a crer que foi proferida antes mesmo do protocolo das petições e da conclusão dos interrogatórios , o que é lastimável em se tratando de ampla defesa.