Na semana passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou uma caravana para visitar nove estados do Nordeste. Até a última terça-feira (22), ele já tinha estado na Bahia e em Sergipe, e participado de diversos eventos. Neles, como de costume, fez discursos, recebeu homenagens, tirou fotos e deu entrevistas. A Lupa checou algumas das declarações dadas por Lula durante a caravana e outras postadas por sua conta no Twitter. Também ouviu o Instituto Lula para que comentasse as checagens. Veja abaixo o resultado.
“[Quando resolvi ser candidato a presidente] O Nordeste tinha menos universidade [do que as outras regiões do país]”
“[Quando resolvi ser candidato a presidente] O Nordeste tinha menos universidade [do que as outras regiões do país]”
Em Sergipe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que, quando disputou a presidência, tinha o “compromisso de fazer com que o Nordeste fosse menos desigual em relação ao resto do país”. A seguir, citou o fato de a região ter menos universidades do que as outras.
Desde 1995, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação, realiza a Sinopse Estatística do Ensino Superior. Na série histórica, a região que tem menos instituições de ensino superior é sempre o Norte – e não o Nordeste, como disse o ex-presidente.
Em 2003, quando Lula tomou posse, o Norte ficava em último lugar no ranking, com 101 instituições de ensino superior. O Centro-Oeste, em penúltimo, com 210. O Nordeste, em antepenúltimo, com 304. E o Sul e Sudeste tinham, respectivamente, 306 e 938 entidades desse tipo.
Em 2010, quando Lula deixou a presidência, o ranking das regiões com menos instituições de ensino superior era o seguinte: Norte (146), Centro-Oeste (244), Sul (386), Nordeste (433) e Sudeste (1.169). Isso indica que, durante o governo Lula, o Nordeste ganhou 129 instituições de ensino superior. Mas as outras quatro regiões também tiveram alta nesse quesito. O Sudeste abriu 231 novas entidades. O Sul, 80. O Norte, 45. E o Centro-Oeste, 34.
Em nota, o Instituto Lula destacou que o Nordeste tinha menos universidades antes de Lula do que tem hoje. Em seguida, acrescentou que o ex-presidente fazia “uma comparação com as regiões mais ricas do país – não com a região Norte”.
“[Quando resolvi ser candidato a presidente] O Nordeste tinha mais analfabeto [do que as outras regiões do país]”
Lula, em discurso feito em Itabaiana (SE) e postado em seu Facebook em 21 de agostoSegundo o IBGE, em 2002, quando Lula foi candidato à presidência, o Nordeste realmente era a região com maior índice de analfabetismo do país, com 8 milhões de pessoas com mais de 15 anos nessa condição (17,76% da população geral). Mas, em 2011, depois do governo do petista, a região continuava sendo a de maior número de analfabetos: 6,8 milhões (13,49% da população).
Em nota, o Instituto Lula ressaltou apenas que, de fato, o analfabetismo caiu no Nordeste.
"A primeira universidade brasileira só veio em 1930"
Lula, no Twitter, em 21 de agostoA primeira instituição de ensino superior do Brasil foi a Escola de Cirurgia da Bahia, criada em 1808. Depois, vieram a Faculdade de Direito de Olinda e a Faculdade de Direito de São Paulo, ambas fundadas em 1827. Depois disso, há uma polêmica sobre qual seria a primeira universidade. De acordo com o CPDoc, da Fundação Getúlio Vargas, a Universidade do Brasil, que acabou virando a UFRJ – comumente tratada como a primeira do país, só foi criada em 5 de julho de 1937. Ela surgiu dando continuidade a já existente Universidade do Rio de Janeiro, que havia sido constituída na década de 1920 – e não de 1930, reunindo escolas superiores já existentes na cidade.
O Instituto Lula diz que a conta do ex-presidente no Twitter se equivocou ao transcrever a fala dele e que, “em vários discursos, Lula já falou que a primeira universidade brasileira foi em 1922”.
“Agora eles estão tirando o subsídio do programa Minha Casa Minha Vida”
Lula, em entrevista à radio Fan FM, de Sergipe, em 21 de agostoEm 2015, o Minha Casa Minha Vida teve um orçamento executado de R$ 16,5 bilhões. No ano passado, de R$ 6,9 bilhões. Mas os cortes no programa começaram no governo Dilma Rousseff. De maio de 2015 a abril de 2016, quando houve o impeachment, o governo federal contratou 17.308 unidades por R$ 565 milhões na chamada Faixa 1, que atende aos grupos de baixa renda (até R$ 1.800 por mês). De maio de 2016 a junho de 2017, já na gestão Michel Temer, foram contratadas duas vezes mais unidades e gastos 62,4% a mais com essa faixa do Minha Casa Minha Vida: 35.497 unidades por R$ 1,5 bilhão.
Em nota, o Ministério das Cidades, pasta responsável pelo programa, diz que, em maio de 2016, o programa tinha cerca de 70 mil unidades em obras paralisadas e que atualmente são 33 mil.
Em nota, o Instituto Lula reforça que o governo Michel Temer “eliminou os subsídios às faixas de baixa renda no Minha Casa Minha Vida”.
“Eles acham que Bolsa Família é só no Nordeste. Em São Paulo, 1,4 milhão de famílias recebem o benefício”
Lula, no Twitter, em 21 de agostoSegundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social, neste mês de agosto, 1,4 milhão de famílias receberão o Bolsa Família no Estado de São Paulo. Com um valor médio de R$ 159,55 por benefício, o total investido no estado será de R$ 235,6 milhões.
Na região Sudeste são 3,4 milhões de beneficiários. Com uma bolsa média de R$ 165,10 por família, a região recebe R$ 568,6 milhões em repasses do governo federal por meio do programa de distribuição de renda.
No Nordeste, todos os números são maiores. A região recebe mais da metade das 13,5 milhões de bolsas concedidas pelo programa. Um total de 6,8 milhões de famílias é beneficiado pelas bolsas. Com um benefício médio de R$ 185,76 por família, o Nordeste responde por R$ 1,2 bilhão injetado todos os meses no programa.
“E quando a Dilma percebeu que estava saindo mais dinheiro que entrando, que ela fez? Preparou uma reforma e mandou para o Congresso, e o Eduardo Cunha não deixou votar”
Lula, em entrevista à rádio Metrópole, em Salvador, no dia 18 de agostoO primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff foi marcado pela defesa do ajuste fiscal, comandado pelo então ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O governo propôs, por exemplo, o aumento de impostos e mudanças nas concessões de benefícios sociais – ações que precisavam da autorização do Congresso.
Duas dessas ideias foram votadas e aprovadas na Câmara chefiada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ): as que modificaram a concessão da pensão por morte e o acesso ao seguro-desemprego. Não passou a recriação da CPMF, imposto que seria aplicado sobre as transações financeiras. A proposta não saiu sequer da Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Vale lembrar que, à época, Cunha era crítico às medidas enviadas pelo governo e chegou a dizer que elas eram ineficientes.
O Instituto Lula reconhece que não foi aprovado todo o pacote, mas lembra a oposição de Cunha à presidente.
“Até a metade do século 20, a maioria da população brasileira ainda era analfabeta”
Lula, no Twitter, em 21 de agostoDados do IBGE mostram que, em 1940, 56% da população brasileira com 15 anos de idade ou mais era analfabeta. Em 1950, a taxa se mantinha acima da metade. Era de 50,5%. Só a partir de 1960 que a maioria do país deixou de ser analfabeta.
*Parte desta reportagem foi publicada na versão impressa do jornal Folha de S.Paulo no dia 23 de agosto de 2017.