quinta-feira, 21 de abril de 2016

Temer deflagra operação no Senado para impedir que proposta de novas eleições ganhe força

Painel - Folha de São Paulo


Muro de contenção Alarmado com a possibilidade de que a proposta de antecipar a eleição presidencial ganhe força no Senado, Michel Temer, sucessor de Dilma Rousseff em caso de impeachment, deflagrou uma operação para sufocar a ideia antes que ela tome corpo. Romero Jucá, posto avançado do vice na Casa, é quem trabalha para evitar que o projeto, já defendido por Renan Calheiros, avance. Se tudo der errado, o vice conta ainda com a aversão da Câmara à proposta para tentar enterrá-la.
Tête-à-tête Temer e Renan conversaram pelo telefone e ficaram de se falar em Brasília no início da semana. Será o primeiro encontro pessoal desde que a Câmara decidiu abrir o impeachment.
A jato O vice reconhece que não pode perder tempo para conquistar a confiança do mercado. Por isso, anunciará sua equipe econômica completa — Fazenda, Planejamento e Banco Central — assim que o processo for admitido pelo Senado.
Travou O Planalto se vê paralisado após a decisão da Câmara. Enquanto as expectativas em torno de Temer se concentram na futura equipe e numa agenda econômica para a saída da crise, o governo não consegue sair do discurso defensivo.
Me dê motivo Senadores favoráveis à deposição que foram à reunião com José Eduardo Cardozo questionaram o ministro: se há um golpe em curso, por que não recorrer logo para que o Supremo aponte a ilegalidade?
Para não ir embora Sem um argumento jurídico externo — como uma sinalização do Supremo de que pode interferir na questão — e com o Planalto paralisado, a avaliação é que é impossível reverter qualquer voto na Casa.
Deixe estar Senadores não gostaram de Eduardo Cunha ter ido pessoalmente anunciar a decisão sobre a abertura do impeachment a Renan. Acham que o presidente da Câmara força o protagonismo. “Poderia ter mandado o aviso por Sedex”, brincou um tucano.
Filho pródigo A família Sarney, que trabalha pelo impeachment, negocia com o Palácio do Jaburu entregar o Ministério do Meio Ambiente a Zequinha Sarney, filho do ex-presidente da República.
High-tech Renato Casagrande, ex-governador do Espírito Santo pelo PSB, também é cotado para o Ministério da Ciência e Tecnologia.
Fui Hélder Barbalho, demissionário da Secretaria dos Portos, conversou nesta quarta com Dilma. “O PMDB não me constrangeu quando decidi ficar, não poderia constrangê-los agora ficando no governo”, diz o ex-ministro.
Azarado Waldir Maranhão (PP-MA), contrário ao impeachment, foi vaiado por uma multidão em São Luís. Torcedores do Sampaio Corrêa, finalista da liga feminina de basquete, esperavam a equipe no aeroporto e o reconheceram ao desembarcar.
Linha cruzada Deputados baianos que tentaram impedir o impeachment se queixaram de ainda não ter recebido um telefonema de agradecimento de Rui Costa (PT). Lembram que, antes da votação, o governador passava o dia disparando ligações.
Ritmo de festa Ministros do Supremo ficaram “aliviados” com a decisão da corte de adiar o julgamento sobre a posse de Lula. O caso agora é considerado “questão acessória”, e a tendência é que só seja retomado depois de o Senado votar o impeachment.
Comigo não A Procuradoria-Geral da República não gostou da afirmação do ministro Gilmar Mendes no “Roda Viva”, de que há demora para desatar o inquérito contra Renan Calheiros no caso Mônica Veloso.
Nem vem O Ministério Público despachou o processo para o Supremo em 22 de março — e ainda acrescentou um pedido de urgência.

TIROTEIO
Que golpe é esse, em que a presidente viaja ao exterior e o vice, normal e institucionalmente, assume o seu posto? Muito estranho, não?
DO DEPUTADO HERÁCLITO FORTES (PSB-PI), sobre a viagem de Dilma Rousseff aos Estados Unidos em meio às acusações que faz de que há um golpe em curso.

CONTRAPONTO
Inépcia da inicial
Trecho do livro “Porandubas Políticas”, de Gaudêncio Torquato, mostra que as intervenções debochadas no plenário da Câmara não são de hoje. O jornalista conta que, nos idos da década de 1970, o então deputado Luís Viana Neto subiu na tribuna e começou seu discurso:
— Filho e neto de governadores da Bahia…
O colega Francisco Studart interrompeu-o aos gritos:
— Não apoiado!
Viana Neto ficou sem entender:
— Seu deputado, sou filho e neto de governadores…
— Perdão, excelência, entendi mal. Entendi “filho ‘inepto’ de governadores da Bahia”…