Nos últimos dias, funcionários do Palácio da Alvorada ficaram surpresos com as visitas solitárias da presidente à Capela de Nossa Senhora da Conceição, monumento incrustado no lado esquerdo da residência presidencial, cujas paredes são revestidas com lambril de jacarandá folhado em ouro.
A biografia de Dilma Rousseff é conhecida, e não contém traço de inclinação à religiosidade — exceto no período da Guerra Fria, quando a guerrilheira “Wanda” rezava pelo catecismo do comunismo. Mais provável é que a presidente tenha encontrado naquele templo privado um refúgio para meditação sobre seu futuro.
Ele começa hoje, sob efeito da acachapante derrota de ontem na Câmara. Seu tempo encurtou e suas alternativas minguaram. O Senado deve decidir em dez dias a abertura do processo de impeachment. Se renunciar antes, Dilma garante o direito de se candidatar de novo a um cargo eletivo. Caso insista em ir “até o fim”, enfrentará o risco da humilhação do afastamento por 180 dias, seguido pela provável condenação. Aos 68 anos de idade, isso significaria o epílogo de sua biografia na política, porque estaria inelegível até 2024.
Em contrapartida, o vice Michel Temer acorda hoje na antessala do poder central. Aos 75 anos, católico e maçom, o líder do PMDB foi o sócio escolhido a dedo por Dilma, Lula e PT para composição do condomínio que acabou implodido pelos inquéritos sobre corrupção.
Ele tem agora a perspectiva real de poder, porém sobram pedras no seu caminho.
Uma delas é a carga negativa que, naturalmente, cabe a quem foi sócio da administração Dilma até apenas dois meses atrás. Outra é a multiplicidade de problemas, da Saúde à Economia, que limitam suas opções no curto prazo e impõem escolhas urgentes — num contexto em que qualquer espera pelo consenso é inviável, e repleta de riscos. Porque até o desfecho formal do caso Dilma, Temer será um presidente no limbo.