segunda-feira, 18 de abril de 2016

Demétrio Magnoli: "Temer, o breve?"

O Globo


Michel Temer (Foto: Givaldo Barbosa )Michel Temer (Foto: Givaldo Barbosa )

“Aécio não é meu amigo; mexeu com ele, eu nem ligo” — o cartaz apareceu na Paulista, no 13 de março, durante a maior manifestação pelo impeachment. O país que se voltou contra Dilma e Lula não cultiva bandidos de estimação.
Por enquanto, Aécio só tem contra ele vagas referências em delações premiadas, mas Eduardo Cunha enfrenta evidências devastadoras. Um governo de “salvação nacional” ancorado em Temer-Cunha tem chance zero de decolar. Se Temer for Temer, será breve. Sua única oportunidade é ser outra coisa: Itamar.
O novo governo terá um curto período de graça, concedido por um país farto do lulopetismo e da crise. Temer só decolará se emitir sinais alinhados ao “espírito das ruas”, formando um ministério enxuto, de figuras competentes e insuspeitas, rompendo as práticas abominadas do “presidencialismo de coalizão”.
Ele só se salva se lançar ao mar os bandidos de estimação de seu próprio partido e adjacências, começando por Cunha. O passaporte indispensável é o compromisso com a independência do Judiciário e a autonomia do Ministério Público. Temer será breve se tentar interromper a Lava-Jato para poupar as máfias políticas atemorizadas.
A equação tem incógnitas excessivas. O novo governo precisa evitar a pilhagem da administração pública e, ao mesmo tempo, obter uma maioria parlamentar.
Deve semear as reformas econômicas, que não são populares, sob o bombardeio do lulismo mobilizado. Tem que costurar a “união nacional” em meio à concorrência partidária do pleito municipal e à corrida eleitoral antecipada de 2018. Era mais fácil ser Itamar nos tempos de Itamar.
“Diretas, Já!”, começa a gritar um PT oportunista. Não há tempo para eleições diretas pela via do TSE. A Constituição bloqueia a antecipação de eleições. A única hipótese legal de “Diretas, Já!” seria a dupla renúncia de Dilma e Temer.
No hiato entre sua posse e o julgamento de Dilma no Senado, Temer decidirá entre ser Temer ou ser Itamar. Caso decida ser ele mesmo, seu governo se destruirá antes da votação final no Senado. Do colapso, surgiria a brecha para o estranho acordo da dupla renúncia, uma inesperada forma de “união nacional”.