sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Fiocruz detecta potencial de zika ser transmitido por saliva e urina

Hanrrikson de Andrade
Do UOL


A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) disse nesta sexta-feira (5), véspera do Carnaval, que detectou a presença de zika vírus com potencial de infecção por saliva e urina.
A evidência, baseada na análise de amostras de dois pacientes com sintomas compatíveis com a doença, sugere a necessidade de investigar a relevância destas vias alternativas de transmissão viral, de acordo com a entidade, vinculada ao Ministério da Saúde e referência no assunto.
O zika vírus foi encontrado de forma ativa, ou seja, com capacidade de infecção, na urina e na saliva
Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz
Segundo os pesquisadores, parte das amostras de saliva foram colocadas em contato com células utilizadas para verificar atividade viral de vírus como os da zika, dengue e febre amarela (pertencentes à família dos flavivírus). Na experiência, essas células foram destruídas após o contato, "o que comprova a atividade viral", concluí a pesquisa.
Nos EUA, também está em análise uma suspeita de transmissão sexual da doença. Com a possibilidade de contágio pela saliva, a zika se assemelharia a doenças como mononucleose, a chamada de "doença do beijo", herpes e candidíase (sapinho).
A zika é quase assintomática e, em geral, não oferece riscos à saúde. No entanto, os efeitos do vírus da zika em bebês ainda intrigam cientistas. Evidências apontam que a microcefalia pode ser apenas um dos danos neurológicos da síndrome fetal associada a zika.
Hoje, o principal problema investigado são as crianças que nascem com 32 cm ou menos de perímetro cefálico, e que são notificadas como suspeita de microcefalia. Até o início da semana, eram 3.670 casos de suspeita investigados, além de 404 bebês com microcefalia ou síndromes neurológicas confirmadas.
Segundo o professor de infectologia da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Marcos Boulos, há outros tipos de lesões neurológicas --normalmente oculares e auditivas-- que acometem crianças que nascem com a cabeça de tamanho considerado normal.
"Existem vários tipos de problemas que não estão associados obrigatoriamente à microcefalia", diz. "Você pode falar que é uma síndrome específica da zika que dá microcefalia. Mas a síndrome da zika pode dar muitas coisas, entre elas a microcefalia, que pode estar dentro de uma síndrome maior", completa.
O problema já é de conhecimento do Ministério da Saúde, que informou investigar "todos os casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central informados pelos Estados e a possível relação com o vírus zika e outras infecções congênitas."