domingo, 27 de dezembro de 2015

Indústria brasileira fica na lanterna mundial em produção no 3º trimestre

Raquel Landim - Folha de São Paulo


O Brasil está na lanterna da indústria global. A produção do setor registrou o pior desempenho no terceiro trimestre entre mais de 130 nações, que representam 95% da indústria no mundo.

A indústria brasileira recuou 11% em relação ao mesmo período do ano passado. No fechado do ano, a queda deve ser de cerca de 8%.

O estudo foi feito pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) com base em dados reunidos pela Unido, órgão das Nações Unidas que também estuda o desenvolvimento industrial.

O resultado brasileiro é muito pior que a média da indústria global, que subiu 2,7% na mesma comparação. Nos países desenvolvidos, a produção industrial se recupera da crise e cresceu 1,2% no terceiro trimestre, enquanto nos países em desenvolvimento a alta foi de 5%.

A América Latina tem o pior desempenho por região (-3,2%). Na América do Norte, houve alta de 1,8%, e, na Europa, de 2%. Na África, onde a indústria é incipiente, houve estagnação (0,1%).

Os países latino-americanos tiveram uma fraca performance, mas nada se compara ao Brasil. No Peru e na Colômbia, as quedas foram de 3,2% e 0,3%, respectivamente. A Argentina ficou estável. Chile e México são exceções com resultados positivos. A Unido não inclui a Venezuela em seu levantamento.

"O tombo da indústria brasileira é enorme, com uma crise conjuntural e estrutural", afirma David Kupfer, coordenador do grupo de indústria do Instituto de Economia da UFRJ.

O economista diz que a indústria enfrenta forte recessão após perder densidade e competitividade, em razão da falta de investimentos e da transferência de produção para o exterior.

"A crise brasileira é puxada pela queda do investimento por causa da falta de confiança, o que atinge diretamente a indústria", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Para especialistas, as medidas adotadas pelo governo Dilma no primeiro mandato não salvaram a indústria, porque focaram a demanda por produtos, e não o aumento da competitividade. Um exemplo é a desoneração de IPI para veículos e móveis.

Além disso, a política anticíclica do governo, iniciada para combater os efeitos da crise global em 2008 e 2009, durou tempo demais e antecipou para 2010 e 2011 uma demanda de produtos que deveria estar ocorrendo hoje.

"E não há horizonte de melhora", diz Kupfer. Para ele, a desvalorização do câmbio vai trazer alívio, mas teria que durar muito tempo para que a indústria voltasse a investir em produtividade e inovação.

A performance do Brasil é muito pior que a dos demais países em desenvolvimento, cuja produção industrial cresceu, em média, 5% no terceiro trimestre.

O desempenho ainda é puxado pela China, cuja indústria avançou 7%, o pior resultado desde 2005, mas ainda assim impressionante.