Hugo Motta: "Quem? Eu?" (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)
— Patota! — sugere alguém.
De fato. E que patota foi a que se reuniu num jantar oferecido por Alexandre de Moraes — esse que há muito deixou de ser apenas um ministro do STF para se tornar muito mais. O cardápio não foi divulgado. Uma pena. Renderia uma boa crônica. Será que foi hambúrguer? Mas de uma coisa se sabe: quem serviu o mais-que-ministro e as autoridades presentes foi a serva Democracia Aparecida. Tadinha. Sabe-se ainda que, depois, na hora do charuto e conhaque, falou-se de Eduardo Bolsonaro. Em tom de...
— Chacota! — propõe outro.
É mesmo. Depois de rir do colega exilado, Hugo Motta fez chacota da realidade quando, no dia seguinte ao jantar (o milésimo “baile da Ilha Fiscal” dessa monarquia jurídica que balança, mas não cai), disse que o Brasil vive uma democracia plena. Que não temos jornais censurados nem vozes caladas à força (oi, Constantino). Que não temos presos políticos nem exilados. Só faltou dizer que o Botafogo-PB é o melhor time do mundo.
Patriota, capota, denota, ilhota...— Lorota! — berra alguém lá do fundo.
Como não?! Aliás, você foi um dos que caiu na lorota de que Hugo Motta atenderia aos anseios da direita? Essa foi dureza, mas pena mesmo eu tenho do sujeito que vislumbrou a possibilidade de Hugo Motta entender o momento político e se aproveitar disso para fazer oposição ao Executivo comunistóide e ao Judiciário censor. Isso é o que eu chamo de lorota bem contada para tentar salvar uma esperança infundada...
— Maciota! — sussurra a menina aqui na frente.
Taí. Na maciota Hugo Motta engambelou a direita, que alienou aliados em nome de uma política mais pragmática (e, reza lenda, que garantiria a anistia aos presos do 8 de Janeiro), e a esquerda, que por enquanto tem sorte de contar com marionetes como... Hugo Motta. Por falar nisso, olha outra rima surgindo aí.
Agiota, nota, rota, cota
— Janota? — tenta/pergunta o senhor ali, é, é, aquele mesmo, o de lenço de seda no pescoço.
Essa não vale porque nunca a ouvi de outra forma que não no diminutivo, para se referir à covardia disfarçada de prudência & sofisticação. Outra.
— Canhota! — lembra-se alguém depois de alguns minutos de silêncio constrangedor.
Ela, sempre ela. A canhota. A mentalidade canhota que enxerga o Brasil como um paraíso democrático – desde que o Estado esteja ditando as regras e sustentando os cumpanheiro. A mentalidade canhota que se vê como heroína de uma batalha feroz, que resultou neste projeto perfeitinho e janotinha que é a harmonia gastronômica entre os poderes que, entre uma garfada e outra, riem daqueles que ousam mencionar a realidade autoritária. (Tô brabo?).
Calota, pilota, gaivota
— Anedota! — diz alguém quase no susto.
Tem aquela do deputado paraibano de gumex na cabeça e que, aos 36 anos, assume o cargo de presidente da Câmara dos Deputados de uma república bananeira. Conhecem? Não tem graça. Tem a outra que começa assim: os presidentes do Senado e da Câmara, um bêbado e um papagaio entram na casa de um ministro do STF para jantar. Mas não. Melhor não contar essa, porque o final a gente já conhece e é sujo demais.
— Idiota! — avisa alguém percebendo que a crônica está no fim e fazendo a ressalva de que é apenas uma rima, não um xingamento.
Então tá. Ou melhor: principalmente.
Paulo Polzonoff Jr., Gazeta do Povo